MERCADO: Especialista diz que desindustrialização do setor têxtil está longe de ocorrer
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A indústria têxtil nacional vive um momento difícil, mas está longe de passar por um processo real de desindustrialização, como vem sendo alardeado pela mídia e por alguns setores do mercado. A constatação é de Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing industrial (Iemi), que esteve em Blumenau para lançar um estudo sobre o polo têxtil da região – que abrange também Joinville e Jaraguá do Sul. Os resultados foram apresentados a empresários do setor em café-da-manhã promovido pelo Sindicato das Indústrias Têxteis (Sintex) no último dia 30 de maio.
Números - Sob os olhares atentos do presidente do Sintex, Ulrich Kuhn, que chegou a admitir, pouco antes do início da apresentação, que havia ficado surpreso com os indicadores do levantamento, Prado utilizou números para justificar que a situação atual do setor têxtil, brasileiro e catarinense, poderia ser melhor, mas que também não é nenhum desastre. Ele destacou que o segmento registrou crescimentos seguidos até 2010, ano em que bateu recordes. A produção nacional, naquele ano, atingiu 2,24 milhões de toneladas. “Nunca havia se produzido tanto no país”, disse Prado. Para ele, os temores ainda são exagerados.
Número de empresas - Entre 2003 e 2010, o número de empresas têxteis no Brasil subiu 17,6%. Atualmente já são 32,6 mil, com uma produção média de confecção de 9,6 bilhões de peças, entre vestuário, cama, mesa e banho. É o quarto maior parque produtivo do mundo, com faturamento anual de US$ 63 bilhões. O setor possui cerca de 1,64 milhão de empregados diretos no Brasil. Se considerados profissionais ligados indiretamente à atividade, este número sobe para 8 milhões. Com isso, a atividade se consolida como a segunda maior empregadora da indústria de transformação.
Cenário turbulento - O encarecimento, a partir de 2010, do algodão, matéria-prima que responde por cerca de 40% do preço dos produtos de cama, mesa e banho, somado a uma série de fatores como alta carga tributária, inflação e diminuição de crédito disponível frearam o consumo e causaram algumas baixas, deixando o mercado apreensivo.
Empregados - Apesar do número de empresas do setor ter subido de 30,9 mil, em 2010, para 32,6 mil em 2011, o número de empregados do setor, que estava em 1,67 milhão, caiu para 1,64 milhão. A produção também sofreu queda, caindo de 2,24 milhões de toneladas para duas. “Foi só a primeira vez que a indústria têxtil não cresceu desde 2003”, lembrou Prado. “Pelo que foi propagado, o setor sofreu um grande desgaste diante da opinião pública. Deu a impressão que o mundo ia acabar”.
A importância de Santa Catarina - Por diversas vezes durante sua apresentação, Marcelo Prado utilizou a palavra “locomotiva” para descrever a posição de Santa Catarina no mercado têxtil em relação ao resto do Brasil. De uma maneira geral, a atividade no Estado vai melhor do que no restante do país (veja comparativo no quadro abaixo), principalmente em função da estrutura por aqui, com destaque para a integração de todos os segmentos envolvidos na cadeia. “Quando Santa Catarina engasga, toda a locomotiva fica em alerta”, disse.
Positivos - O diretor do Iemi ressaltou que os números de produção do Estado ainda são positivos e lembrou que há confecções e unidades de empresas catarinenses produzindo em outros estados, que nem sempre são levadas em consideração. “O mercado diz que não dá para investir no têxtil. Pois eu digo o contrário. A indústria têxtil tem um enorme futuro. É um ótimo negócio”, assinalou Prado.
Aumento das importações não é tão assustador - Um dos principais argumentos dos temerosos pela desindustrialização é o aumento das importações no setor. Entre 2007 e 2011, no Brasil, elas avançaram 119,2%, atingindo US$ 6,6 bilhões e resultando num déficit da balança comercial de US$ 3,6 bilhões. O receito é que os produtos de fora, principalmente da Ásia, tirassem a competitividade da indústria local e causassem o fechamento de fábricas e a demissão de trabalhadores.
Produção local - Para Marcelo Prado, a preocupação com a produção local é legítima. “Sempre vamos estar expostos a um mundo mais global”, disse. Ele explica que, pelo menos no caso de Santa Catarina, as importações cresceram bastante em função de benefícios fiscais concedidos pelo governo local, que motivaram a implantação de tradings e empresas de comércio exterior. Muitas grandes redes de varejo também usam os portos do Estado para comprar os produtos. Acrescentou ainda que a grande maioria das importações são de matéria-prima, não de produto acabado.
China - Mesmo com o crescimento espantoso da China, ele acredita que a produção catarinense não vai despencar. “A importação não vai substituir a indústria têxtil. Além de industriais, somos empresários. Temos muito a ganhar com a China”, avalia. Ele lembrou que o Brasil é um dos principais mercados produtores do mundo fora da Ásia, destacando que Santa Catarina tem participação fundamental nessa consolidação. (Noticenter)