LOGÍSTICA: Entidades apoiam ramal ferroviário entre Guarapuava e Paranaguá
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O secretário de Obras Públicas e Transportes do Mato Grosso do Sul, Edson Giroto, disse na Escola de Governo, nesta terça-feira (9/06), que o seu Estado está discutindo com o Paraná a possibilidade de a Ferroeste, empresa vinculada à Secretaria dos Transportes, abrir o seu capital. "Para o Mato Grosso do Sul ser sócio e evitar o risco de que amanhã a Ferroeste seja privatizada", explicou. Giroto ressaltou que seu Estado está determinado a se integrar, por ferrovia, ao Porto de Paranaguá como "alternativa ao Porto de Santos".
Projeto de expansão - O projeto de expansão da Ferroeste, única operadora ferroviária pública do país, foi apresentado pelo presidente da empresa, Samuel Gomes, na Escola de Governo. O governador Roberto Requião, comentando o atual modelo ferroviário disse afirmou que "a ferrovia privada é um gerador de lucro. Ela vai tentar cobrar sempre o máximo possível, estabelecendo um monopólio do transporte. A ferrovia pública é uma indutora de desenvolvimento. Ela trabalha com um lucro mínimo para que o setor privado possa se desenvolver e para que os preços das commodities paranaenses e nacionais seja competitivos no mercado internacional". Para o governador, o projeto de expansão da ferrovia é uma "necessidade nacional".
Estudos - Segundo o secretário do Mato Grosso do Sul, a produção de álcool e açúcar, com a instalação de novas usinas naquele Estado, "terá que ser dirigida para Paranaguá, uma saída competitiva para o Mato Grosso do Sul". Os estudos realizados até agora sobre a implantação de um alcoolduto ligando as regiões produtivas daquele Estado ao Atlântico, frisa Giroto, mostram que o transporte pela ferrovia "é muito mais viável" e barato. "Temos que nos apressar", declarou o secretário sul-mato-grossense.
Parceiro - O secretário dos Transportes do Paraná, Rogério Tizzot, em seu discurso, sublinhou que o Mato Grosso do Sul "é um grande parceiro da Ferroeste e quer o desenvolvimento da empresa". De acordo com a avaliação do secretário dos Transportes, "a Ferroeste tem um potencial enorme e o estudo do Lactec vem comprovar isso em números".
Paraná unido - Para o presidente da Ferroeste, "o Paraná está unido para viabilizar a construção do ramal ferroviário que vai ligar Guarapuava ao Porto de Paranaguá". Várias entidades técnicas, prefeitos e representantes de produtores paranaenses e paraguaios manifestaram nesta terça-feira apoio ao ramal Guarapuava-Paranaguá da Ferroeste.
Encontro - A construção do ramal da Ferroeste entre Cascavel e Foz do Iguaçu e sua ligação com Puerto Presidente Franco, no Paraguai, através de ponte ferroviária, vai ser tema do próximo encontro dos presidentes do Brasil e Paraguai, afirmou a presidenta da Unicoop (União Nacional das Cooperativas do Paraguai), Simona Cavazzuti. "Temos certeza que Lugo (presidente do Paraguai) vai incluir o assunto na agenda bilateral". A Unicoop detém 40% da produção de grãos paraguaios.
Problemas de logística - Simona Cavazzuti lembrou que o Paraguai é um país mediterrâneo "com grandes problemas de logística" e que os serviços de transportes estão "nas mãos de multinacionais" que pagam o preço que querem por nossos produtos. E temos que aceitar". A dirigente cooperativista afirmou que os produtores paraguaios precisam se "independentizar das multinacionais". Numa referência ao modelo público de gestão da Ferroeste disse: "Nós acreditamos no projeto e de nosso lado vamos fazer o que for possível para que ele seja viável. Estamos trabalhando com o governo paraguaio e nosso sonho é reunir o Porto de Paranaguá com o Porto de Antofagasta para formar o corredor bioceânico".
Ocepar - O superintendente adjunto do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), Nelson Costa, teceu considerações sobre o traçado da ferrovia entre Guarapuava e Paranaguá e disse que os estudos apontam que a melhor alternativa é aquela que foi apresentada pela companhia estatal paranaense. "A proposta da Ferroeste resgata o projeto inicial da Ferrovia da Produção, da Ferrovia da Soja e da Ferrovia do Frango", disse ele, e tem o "total apoio" das cooperativas. "Devemos nos somar", declarou. Costa disse que o Paraná deve se unir para colocar o ramal da Ferroeste a Paranaguá no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal). O superintendente pediu que o governador Requião inicie a construção do ramal Guarapuava-Paranaguá ainda durante o seu governo.
Antiga - O dirigente da Ocepar disse que a atual ferrovia (operada por um grupo privado) é antiga e obriga os trens a reduzir a velocidade de 50 quilômetros por hora, no trecho da Ferroeste, para 10 quilômetros por hora, devido o gargalo logístico de Guarapuava. Segundo ele, o tempo excessivo da viagem de ida e volta dos vagões até o porto, em ciclos levam vários dias (até nove dias, conforme a Ferroeste), impede a região Oeste de transportar carne por ferrovia. "Fica inviável", disse. O novo traçado da Ferroeste reduz em 125 quilômetros a distância entre Cascavel e Paranaguá e o ciclo dos vagões para dois dias.
Engenheiros - O presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia do Paraná), Álvaro Cabrini Jr, durante a apresentação, entregou moção de apoio unânime da entidade ao projeto de construção do ramal Guarapuava-Porto de Paranaguá da Ferroeste ao governador Roberto Requião. "O Paraná precisa dessa obra para seu desenvolvimento", justificou. A nova ferrovia, disse ele, "viabiliza todo o agronegócio da região, viabiliza o Paraná". Cabrini afirmou que a ALL, empresa privada que opera a antiga ferrovia entre Guarapuava e o porto "é o pior exemplo de privatização que já foi feito no Brasil". Na mesma oportunidade, o engenheiro Paulo Sidney Cordeiro Ferraz, representando o Senge (Sindicato dos Engenheiros do Paraná), também entregou um documento de apoio ao projeto da Ferroeste ao governador do Estado.
Necessária - "Precisamos dessa obra", afirmou o prefeito de Marechal Cândido Rondon, Moacir Luiz Froehlich, em seu depoimento, lembrando que a região Oeste, que é grande produtora de commodities, fica a 700 quilômetros do porto. O prefeito Sérgio Luiz Stoklos, de Irati, uma das regiões de mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Paraná, disse que o desenvolvimento do interior só é possível com a construção da ferrovia. "Esse trecho é muito importante e provou ser viável tecnicamente", afirmou.
Exército - O General de Exército Ítalo Forte Avena, chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC), reafirmou, durante sua fala na Escola de Governo, que o Exército Brasileiro quer "realmente participar dessa obra". A estrada de ferro da Ferroeste foi construída pelo departamento de engenharia do Exército no primeiro mandato do governador Roberto Requião, entre 1991 e 1994. "Estamos prontos para trabalhar", disse o general.
Gargalo - Para Samuel Gomes, a construção do ramal de Guarapuava ao Porto de Paranaguá "é a condição para a Ferroeste realizar o seu projeto de expansão". Segundo ele, os entendimentos para a expansão da Ferroeste ao Mato Grosso do Sul e Paraguai estão andando com rapidez. Mas a viabilidade dessas obras "só é possível se resolvermos o gargalo logístico que existe na velha ferrovia entre Ponta Grossa e Guarapuava. Para que o projeto seja implantado definitivamente a Ferroeste precisa chegar ao Porto de Paranaguá".
Gomes explicou que o ramal até o porto terá 365 quilômetros e vai reduzir a distância dos atuais 738 quilômetros para 613 quilômetros, "o que dá uma economia de 250 quilômetros de distância, ida e volta, mas além disso o ciclo dos vagões que hoje é de oito a dez dias vai cair para dois dias". O presidente da Ferroeste considera que a solução logística vai "desenvolver o interior do Paraná e as regiões que são beneficiadas pelo projeto".
Participação - Samuel Gomes considera ainda que a viabilização dos ramais da Ferroeste "é a forma do Porto de Paranaguá participar desse grande banquete logístico que está se apresentando hoje no Centro-Oeste brasileiro". A ferrovia vai ligar o Porto de Paranaguá ao Centro-Oeste, através de Maracaju, no Mato Grosso do Sul. "Por isso estamos estudando a possibilidade de que todas as extensões dessa ferrovia nova sejam feitas em bitola larga". O motivo, segundo ele, é que "todas as novas ferrovias do Brasil estão sendo feitas em bitola larga e nós nos encontraremos na região de Dourados com a ferrovia Norte-Sul, que vem de Belém e pretende ligar o Porto de Itaqui, no Maranhão, ao Porto de Santos, em São Paulo, Sepetiba, no Rio de Janeiro, e São Simão, em Goiás. Paranaguá não pode ficar de fora desse processo. Para isso, é indispensável construir o ramal da Ferroeste de Guarapuava ao Porto, em bitola larga".
Custo - O presidente da Ferroeste explicou que, segundo os estudos do Lactec, custará em torno de R$ 985 milhões. Num cenário conservador, de captação de 8,7 milhões de toneladas por ano de cargas (á área de influência da ferrovia produz 33 milhões de toneladas/ano), a obra se pagará em 20 anos e a taxa interna de retorno (TIR) será de 17%. Em 20 anos, segundo cálculos do Lactec, fazendo uma comparação com o projeto da Variante Guarapuava-Ipiranga, proposta pela ALL, a economia no transporte proporcionada pelo ramal da Ferroeste será de R$ 3,3 bilhões.
Pedágio - Somente em pedágio, com base em estudo da Ocepar, num cenário de captação de cargas de 10 milhões de toneladas anuais, a economia anual para os produtores será de R$ 137 milhões, e em 20 anos somará R$ 2,7 bilhão. "Só com a economia em pedágio, sete anos seriam suficientes para pagar a obra. Economia em pedágio significa dinheiro no bolso do produtor, significa dinheiro circulando na economia e gerando emprego e renda. É isso o que trará o novo ramal da Ferroeste ao Porto de Paranaguá para o Paraná e as regiões beneficiadas do Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraguai", completa.
Presenças - Para apoiar o projeto da Ferroeste, estavam presentes, pela Unicoop - União das Cooperativas do Paraguai, o diretor financeiro Ivo Pigosso; pela Trebol, empresa paraguaia, Raul Valdez; e pela Unidad de Relaciones Internacionales do Paraguai, Luis Rafael Rabery. Também participaram, os dirigentes de cooperativas, Ricardo Wollmeister e Márcio de Souza, o gerente da Fortigranos, Augusto Olmedo, e o gerente de Operações da Alstom, Wilson Ribeiro. Pelo Exército também estavam presentes, os generais Alberto Márcio Ferraz Sant'Anna e José Cláudio Froes de Morais; Valter Fanini, presidente do Senge e Rômulo Martins do Santos, ex-secretário de Transportes do Rio de Janeiro. (AEN)