INTEGRADA: Cooperados de Mauá da Serra inauguram Museu do Plantio Direto
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A cidade de Mauá da Serra, na região de Londrina, ganha, no próximo dia 23, um espaço para guardar parte importante da história da agricultura brasileira. O Museu do Plantio Direto será inaugurado numa cerimônia marcada para às 10 horas e abrirá as portas para mostrar aos visitantes as primeiras máquinas e implementos agrícolas usados no sistema que mudou a história da agricultura no Brasil. A Cooperativa Integrada é uma das grandes apoiadoras do Museu, que foi idealizado pelos próprios cooperados do município.
Uso coletivo - “A comunidade de Mauá da Serra foi a primeira do país a usar de forma coletiva o sistema, conseguindo mostrar claramente os seus benefícios para o solo e para a produtividade”, comenta o cooperado da Integrada Sérgio Higashibara, produtor integrante do Grupo de Desenvolvimento de Tecnologias, que encabeçou o projeto de construção do Museu junto com a Associação Cultural e Esportiva de Mauá (ACEM) e Prefeitura do município.
Adesão - Os também cooperados e membros do Grupo, Carlos Kamigushi e Ademar Uemura, ressaltam que hoje o Sistema Plantio Direto está espalhado pelo país e é adotado em todas as atividades agropecuárias. “Ajudou a controlar a erosão, recuperou o solo, proporcionou o aumento da produção e produtividade, viabilizou a agricultura em larga escala no Cerrado, levou mais renda ao pequeno e médio produtor, conciliou a atividade econômica com a preservação do ambiente e a viabilidade da agricultura familiar”, destacam.
Pioneirismo - Uma das importantes peças do Museu do Plantio Direto é a semeadora Allis Chalmers, doada pelo produtor Herbert Bartz, pioneiro do Sistema Plantio Direto no Brasil. Ele comprou a semeadora nos Estados Unidos, para onde viajou em busca de informações sobre o sistema no-tillage (sem preparo do solo) no início dos anos 1970.
Desespero - O produtor que vive em Rolândia (PR), conta que já estava “desesperado” com a situação na época. A cada chuva, ele via a terra correr rio abaixo, levando junto todo o investimento em sementes, adubos, herbicidas e, especialmente, o solo fértil. “Era preciso fazer alguma coisa”, diz ele.
Auxílio - Com o auxílio dos pesquisadores do então Ipeame - Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária Meridional, em especial o pesquisador Rolf Derpsch, Bartz soube que havia experiências fora do Brasil em que os produtores plantavam sobre palha.
Viagem - Em maio de 1972, Bartz seguiu para uma viagem a vários países, mas foi nos Estados Unidos que ele encontrou a experiência que mais chamou sua atenção. Na Universidade de Lexington, em Kentuchy, foi recebido pelo pesquisador e extensionista Shirley Philips, que por sua vez o levou ao produtor Harry Young, em Herndon, Virgínia, que trabalhava no sistema no-tillage. Após a visita, ele fez o pedido, nos EUA, de compra da semeadora Allis Chalmers, com oito linhas de soja e seis linhas de milho. Com ela começou o plantio de soja em uma pequena área de sua propriedade. Aos poucos, o sistema avançou, tomando toda a fazenda.
Falta de maquinário: a primeira dificuldade - Também faz parte do acervo do museu o protótipo da FNI de 100 polegadas, que deu origem à Rotacaster 80, a primeira semeadora feita no Brasil com a finalidade de servir ao Plantio Direto. A falta de maquinários e implementos foi uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pioneiros do Sistema Plantio Direto no Brasil. Aqueles que existiam eram apropriados para trabalhar a terra sem cobertura. “Eles não conseguiam abrir a palha e atingir uma profundidade suficiente para plantar a semente”, conta o produtor de Mauá da Serra, Carlos Kamigushi.
Adaptação - Sentindo as dificuldades para semear a terra coberta com palha, os produtores começaram a adaptar os maquinários existentes, com a ajuda das oficinas, da pesquisa e das indústrias. Desta forma, ano a ano equipamentos mais modernos e apropriados foram chegando ao mercado, como a própria Rotacaster 80, a Semeato TD 300, o implemento denominado “Entrelinhas”, para aplicação do herbicida Gramoxone dirigido, entre outros.
Herbicidas, mais um desafio - Não foi apenas a falta de maquinário específico que dificultou a vida dos pioneiros do Plantio Direto. Paralelamente ao desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas, a indústria química buscava soluções para controle das invasoras e um grande volume de informação era gerado pela pesquisa, que buscava novos conceitos de conservação do solo.
Herbicida - No início, o Gramoxone, da ICI (atualmente Syngenta), era o único herbicida disponível no mercado. Era importado e aplicado com dupla finalidade: no manejo, para dessecação de ervas antes do plantio; e na eliminação de ervas entre as linhas de soja. Na época não existiam os herbicidas pós-emergentes. As limitações do Gramoxone estavam no fato de ser um herbicida de contato não seletivo e na resistência de determinadas ervas à sua atuação. Assim, as plantas daninhas que sobravam após a aplicação muitas vezes tinham que ser eliminadas na enxada.
Roundup - Já em 1978, O Roundup, da Monsanto, começou a ser comercializado no Brasil. Ele surgiu como uma alternativa eficiente de combate ao mato. Sua ação era sistêmica, matando completamente as ervas. Porém, o preço desse produto era ainda impeditivo para boa parte dos produtores.
Seletivos - Entre os anos de 1977 e 1978 vieram os herbicidas seletivos, como o Basagran e o Poast, da Basf, sem os quais o sistema de Plantio Direto teria se inviabilizado no Brasil.
Marco - Outro marco aconteceu com a quebra de patente do Roundup, da Monsanto. Isso viabilizou a chegada ao mercado do similar Glifosato, que tinha como principal vantagem o preço mais acessível. “Com o Museu, nós queremos preservar essa importante história e mostrar para os nossos descendentes e a todos que visitarem este espaço a luta de toda uma classe de trabalhadores para recuperar o solo e preservar sua atividade”, comenta Ademar Uemura, produtor e também presidente da Associação Cultural e Esportiva de Mauá (ACEM).
Como tudo começou - A experiência que estava sendo desenvolvida em Rolândia, na fazenda Rhenânia de Herbert Bartz, foi levada para Mauá da Serra pelo tio de Ademar Uemura, Cândido Uemura, e por seu pai, Yukimitsu Uemura. O produtor Cândido ainda tem claras as lembranças de uma época em que quase tudo que se plantava era facilmente levado pelas águas das chuvas. Retrabalho e prejuízos faziam parte da rotina dos produtores rurais de toda a região. O município de Mauá da Serra, que era grande produtor de batata, não só perdeu o título – devido ao aparecimento da doença “mancha do chocolate” - como quase viu a agricultura ser inviabilizada devido às grandes erosões provocadas pelo excesso de chuva sobre um solo descoberto e cultivado dentro dos conceitos da agricultura convencional.
Momento marcante - Um dos momentos marcantes para Uemura ocorreu em 1970. A terra estava preparada, o herbicida incorporado, aguardando apenas a chuva para iniciar o plantio de soja. “Mas ela veio tão forte, que levou tudo embora”, conta Uemura. Era só mais um episódio de uma história que se repetia constantemente.
Luta - Desistir não fazia parte do dicionário da família, que, diz Uemura, “lutava diariamente para sobreviver”. A terra foi toda preparada novamente, mas ele sabia que era preciso fazer alguma coisa. Foi então que ele e o irmão Yukimitsu souberam da experiência de Bartz.
Pequena área - “Começamos plantando numa pequena área. Notamos que no sistema convencional a planta crescia mais rápido, mas que no final da colheita a produção era a mesma. Mas tinha uma diferença que chamou a atenção: no Plantio Direto o solo ficava mais sadio”, lembra Cândido Uemura. Em 1975, grande parte dos produtores de Mauá já adotavam o Sistema, tornando assim, a colônia japonesa da região a primeira a implantar de forma coletiva o Plantio Direto.
Reunião da Câmara Temática - A inauguração do Museu acontece num momento em que a Federação Brasileira do Plantio Direto na Palha comemora 20 anos desde sua criação e o Sistema de Plantio Direto, por sua vez, chega aos 40 anos de implantação no país. Além da abertura do Museu em Mauá da Serra, uma outra ação que marcará a data será a realização de uma reunião da Câmara Temática da Agricultura Sustentável e Irrigação, ligada ao Ministério da Agricultura, em Londrina, dia 22 de novembro, no Centro de Difusão de Tecnologias (CDT), salas A e B do Iapar (Rod. Celso Garcia Cid km 375, Londrina, PR).
Abertura - A reunião será aberta às 14 horas pelo presidente da Câmara, Ivo Mello. Entre os assuntos da pauta estão a inclusão no Iapar na Câmara, a Regulamentação do Decreto de Barramento para Utilização de Irrigação para Fins de Utilidade Pública e Interesse Social; palestra sobre " O Plantio Direto e a Biodiversidade do Solo", com a professora. Dra. Marie Bartz; e debate sobre a proposta de projeto de lei que Institui o Dia do Plantio Direto. (Imprensa Integrada)