INFLAÇÃO I: Preços de milho e carnes são alvo do governo
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O governo reforçou os cuidados para evitar mais impactos da elevação dos preços de alimentos nos índices de inflação em 2011. O grupo especial criado para monitorar a variação das cotações de commodities e alimentos básicos, coordenado por Banco Central e Ministério da Agricultura, decidiu agir mais fortemente para conter preços em milho e carnes, considerados estratégicos e sensíveis a medidas do governo, apurou o Valor.
Subsídios - A intervenção no mercado de milho, cuja ração é a principal base da alimentação de bovinos, suínos e frangos, inclui alterações nas regras dos subsídios federais ao escoamento do produto. O objetivo é evitar a exportação de milho. Assim, os estímulos da política agrícola serão restritos ao consumidor final do milho. Ou seja, apenas granjas, indústrias e pequenos criadores terão milho com preço subsidiado pelo Tesouro Nacional. Hoje, boa parte desses estímulos acaba parando nos caixas de tradings multinacionais.
Embarques - Em 2010, foram vendidos no exterior 11 milhões de toneladas de milho. Este ano, o governo busca driblar a tendência, puxada pelo apetite da China, de manutenção dos níveis dos embarques. Estimam-se exportações de 8 milhões de toneladas. O governo quer reduzir o volume ao máximo de 5 milhões.
Preços internos - Os preços internos estão muito elevados pela demanda chinesa, a forte redução dos estoques mundiais e a destinação do grão para a produção de etanol nos EUA. Nem a previsão de safras recordes em vários produtores tem arrefecido a pressão sobre as cotações.
Pecuária - Na pecuária, o governo decidiu criar três novas linhas de financiamento do BNDES. Emprestará dinheiro aos pecuaristas para retenção de matrizes e recuperação de pastagens degradadas. O governo avalia haver problemas sérios na oferta da carne de gado. Desde a crise de renda no campo, em 2005, os pecuaristas vêm se desfazendo de suas vacas, o que implica redução de nascimentos e na oferta de bois para abate.
Efeito - Essas ações não terão efeito imediato, já que um boi, mesmo precoce, demora quatro anos para ficar pronto para o abate. A arroba do boi gordo mudou de nível de preço, saindo de R$ 50 a R$ 60 para R$ 110 a R$ 120, e o governo avalia que as cotações não devem voltar aos padrões anteriores à crise. As medidas do governo miram a elevação da produtividade da pecuária nacional e a consequente liberação de áreas de pastagem para grãos. Ao elevar o índice de lotação das fazendas, estacionada na média de 1,2 cabeça por hectare, o governo espera induzir os pecuaristas a produzir mais em áreas menores. O país já obteve índices acima de três animais por hectare.
Plano Safra - As medidas farão parte do chamado Plano de Safra 2011/2012, a ser anunciado até início de junho. Até lá, o alerta do BC continuará ligado na variação dos preços agropecuários. Cerca de 22% do IPCA é composto pelo grupo alimentos. Se houver variação brusca, novos mecanismos serão adotados. O governo informa que usará "todos os meios" para combater descontrole de preços no setor rural.
Indústria - A situação da oferta de gado já atingiu a indústria. Vários frigoríficos médios entraram em recuperação judicial em razão da explosão dos custos e a redução de margens. Após alguns calotes, os pecuaristas passaram a vender gado apenas à vista. Assim, quem não tinha caixa, acabou em crise. O governo não agiu quando poderia, avaliam fontes do setor.
Pressão - Na avaliação dos especialistas do governo, há "forte pressão de demanda" sem a devida resposta imediata da elevação da oferta de alimentos. Os preços devem ceder em maio, mas tendem a "voltar com força" no segundo semestre. O grupo especial BC/Agricultura constatou haver alta generalizada dos preços. Vários produtos agropecuários aumentaram de preço ao mesmo tempo.
Alta - A demanda segue em alta, a oferta bateu no "teto" e um equilíbrio entre ambos deve demorar. Os estoques seguem reduzidos em todo o mundo. Por isso, o recuo dos preços no médio prazo não será substancial. Os preços permaneceram em alta durante muito tempo. Esperava-se um recuo nas cotações a partir de fevereiro, mas o panorama mudou. Estão no radar do governo o monitoramento de commodities, como soja, milho, café e algodão, além de produtos básicos, como arroz, feijão e hortigranjeiros. Em relação ao etanol, há tendência de recuo imediato, mas o problema voltará em novembro ou dezembro, quando vier a entressafra. (Valor Econômico)