FÓRUM I: Lideranças do PR debatem os desafios de mercado para as cooperativas

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Os desafios e as oportunidades de mercado para as cooperativas paranaenses estiveram em pauta na tarde dessa terça-feira (21/11), abrindo a programação do Fórum que o Sistema Ocepar está promovendo, no hotel NH Curitiba The Five, na capital paranaense, com aproximadamente 50 participantes, entre dirigentes, diretores e técnicos do setor cooperativista no Estado. O evento prossegue até a o final da manhã desta quarta-feira (22/11).

Painel - A primeira atividade dessa terça-feira foi a realização de um painel que debateu o tema “Cooperativismo, os desafios de mercado”, com a presença do presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, do secretário geral da Diretoria da Ocepar, Luiz Roberto Baggio, que também é presidente das cooperativas Bom Jesus e Sicredi Integração PR/SC, e do diretor administrativo e financeiro da Unimed Paraná e também diretor da Ocepar, Alexandre Bley. Ricken iniciou destacando que dentro do próprio cooperativismo há possibilidades de se formarem alianças estratégicas que podem fortalecer os negócios e atender as demandas do setor. Ele citou como exemplo o Plano de Saúde Paraná Cooperativo, um projeto de intercooperação em que a Unimed disponibiliza planos de assistência à saúde exclusivos para as cooperativas dos demais ramos e cuja primeira a aderir foi a Coamo Cooperativa Agroindustrial, sediada em Campo Mourão, que possui mais de 30 mil cooperados e quase nove mil funcionários.

Esforço - “Nós estamos num esforço muito grande de interação entre nós, envolvendo os mais diferentes ramos. Há um mercado interno no setor. E não existe nada se não houver mercado. É onde se busca a renda e, sem renda, não há nenhuma possibilidade de se avançar”, afirmou. “A grande missão da cooperativa é organizar economicamente as pessoas para que elas tenham mais renda e, assim, elas conquistem uma condição social melhor, sem depender de absolutamente ninguém. Isso é autonomia e traz felicidade”, acrescentou Ricken.

Números - O presidente do Sistema Ocepar também apresentou os números do cooperativismo paranaense. “Somos 223 cooperativas, de sete ramos de atividades: agropecuário, crédito, saúde, transporte, infraestrutura, trabalho e consumo. No ano passado, o nosso faturamento ultrapassou os R$ 186 bilhões. Somamos mais de três milhões de cooperados e geramos 135 mil empregos diretos. Este ano devemos chegar próximo a 150 mil empregos diretos, descontando as 10 mil vagas em aberto que nós temos, principalmente na agroindústria. Chegamos a quase R$ 10 milhões em resultados, as sobras, como chamamos no cooperativismo. É um recurso que fica na base, gera desenvolvimento e novos negócios. Esse é o nosso modelo”, frisou.

Agroindustrialização - Em sua explanação, Ricken mostrou a participação das cooperativas paranaenses no segmento agropecuário. De acordo com o presidente do Sistema Ocepar, elas respondem por cerca 64% da produção de grãos e 45% da produção de carnes e produtos lácteos no Estado. Ele ressaltou ainda que o setor vem realizando grandes investimentos em agroindustrialização, para proporcionar mais renda aos cooperados. “Atualmente há 142 agroindústrias instaladas no Paraná pelas cooperativas. Nosso objetivo é agregar valor à produção recebida pelas cooperativas porque a rentabilidade líquida da venda de grãos pura e simples não chega a 2%. Mas quando a matéria-prima é processada em uma agroindústria, é possível chegar a 4,6% de rentabilidade, no máximo 5%. Atualmente apenas a metade do que as cooperativas recebem tem valor agregado. Ou seja, as margens do nosso setor não são elevadas. Elas são pequenas, mas o volume recebido da produção é grande e nós temos que agregar valor a isso. Dá para dobrar essa produção industrial se nós processarmos tudo o que estamos recebendo. Há um grande potencial a ser explorado e temos visto várias plantas novas no interior do Estado, a exemplo da Maltaria dos Campos Gerais, que está sendo construída em Ponta Grossa, e do Frigorífico de Suínos da Frimesa, em operação em Assis Chateubriand”, disse.

Planejamento estratégico - Ricken também falou sobre o Plano Paraná Cooperativo 200 (PRC200), o planejamento estratégico do cooperativismo paranaense, que busca o desenvolvimento sustentável do setor, e que está encerrando o ciclo iniciado em 2021, atingindo 101% da sua meta financeira, ou seja R$ 200 bilhões de faturamento anual, que deve se consolidar no final deste ano. O valor de R$ 5 bilhões de investimentos anuais também foi superado em 128%. Ricken falou sobre os alicerces, os pilares e os 20 projetos que fazem parte do PRC200, entre eles um especialmente focado em mercado. Ele informou que o setor está se se preparando para iniciar uma nova etapa do plano. “Nosso desafio agora é redesenhar cada um dos 20 projetos que fizeram parte do PRC200”, sublinhou.

Crédito - Na sequência, o secretário geral da Diretoria da Ocepar, Luiz Roberto Baggio, que também é presidente das cooperativas Bom Jesus e Sicredi Integração PR/SC, apresentou o cenário relativo às cooperativas de crédito. Ele iniciou mostrando que há no Brasil 839 cooperativas de crédito, que operam juntamente com um grande número de agentes que negociam no sistema financeiro, como 175 bancos, 106 fintechs, 109 instituições de crédito, 149 corretoras e distribuidoras, 117 consórcios, entre outras. “Qual é o problema desse quadro? Cinco bancos dominam 75% do mercado financeiro brasileiro. São eles, o Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco, Santander e Itaú. As cooperativas de crédito são uma alternativa para oferecer um modelo de negócio diferente. O Paraná tem 54 cooperativas nos sistemas vigentes hoje: Sicredi, Sicoob, Cresol, Uniprime e as independentes. Elas crescem mais de 20% ao ano, em todos os sistemas. O crescimento dessas cooperativas revela que esse é um modelo eficiente”, sublinhou.

Curiosidade - Baggio também trouxe um fato curioso para os participantes do Fórum. “Nos países mais desenvolvidos há mais pessoas associadas às cooperativas de crédito do que nos países menos desenvolvidos. Dois sistemas de crédito na Alemanha dominam quase 30% do mercado financeiro. Quanto mais aculturamento do modelo cooperativista, maior a adesão. Isso mostra um cenário do quando ainda podemos avançar. E, de fato, o cooperativismo de crédito se mostrou eficiente, independente de crise ou da concentração de mercado, sendo a melhor alternativa para a população. Por conta disso, evoluiu em relação ao seu marco regulatório”, afirmou. Ele ressaltou ainda a importância do cooperativismo atuar em intercooperação. “Eu não vejo outro meio de encarar grandes grupos, as grandes corporações, que não seja de forma bem unida e organizada”, disse.

Saúde - No painel, coube ao diretor da Unimed Paraná e também da Ocepar, Alexandre Bley, apresentar a situação das cooperativas do ramo saúde. “É muito desafiador falar sobre o ramo saúde, porque ele é muito heterogêneo. Nós somos considerados do ramo saúde, mas, na essência, funcionamos como cooperativas de trabalho, que abrangem diversas profissões. No Paraná, são 36 cooperativas filiadas ao Sistema Ocepar. As Unimeds representam um contingente maior, com 21 cooperativas, há sete cooperativas odontológicas, três de especialidades médicas, uma de enfermagem, uma de médicos em geral, uma de imagem e uma de médicos que opera dentro de um hospital”, afirmou.

Atratividade - “A gente se preocupa muito com o mercado, com os agentes externos, mas, muitas vezes, uma cooperativa começa a se inviabilizar de dentro para fora, a partir do seu cooperado. Uma vez que ele não enxergue a Unimed como algo atrativo e com relevância de mercado, automaticamente uma cooperativa pode deixar de existir pela simples questão de perder os seus cooperados. Então, o trabalho de atratividade é fundamental. E fazemos isso vendendo plano de saúde, ofertando um número de clientes que possam ter acesso aos consultórios, aos hospitais e clínicas. Mas, também, abrindo postos de trabalho, criando hospitais, verticalizando o sistema. E há ainda a gestão dos cooperados, que são heterogêneos. Nós temos 54 especialidades, com diferentes necessidades. Esse também é um aspecto importante para mantermos a atratividade e, consequentemente, viva a chama cooperativista dentro dessa classe profissional”, ressaltou Bley.

Externo - Do ponto de vista externo, o diretor da Unimed listou a concorrência como um dos desafios. “Hoje nós temos seis marcas que detêm 77% do mercado dos planos de saúde”, informou. Ainda de acordo com ele, esse mercado sofreu um grande impacto com a entrada de recursos do exterior, em 2015, com a mudança da legislação. “A partir daí, fundos estrangeiros começaram a comprar operadoras de planos de saúde e acabaram em grande dificuldade devido à pandemia. Muitas estão procurando reverter essa situação e o que estamos vendo hoje é um sistema de saúde suplementar que está amargando um déficit nesses dois últimos anos”, complementou. Bley também listou como desafios o mercado de trabalho médico e a regulação desse segmento, feita pela Agência Nacional de Saúde (ANS). “Porém, nós não temos somente a ANS como órgão regulador. Hoje há o judiciário e o legislativo atuando sobre o setor. A judicialização aumenta cada vez mais, tanto que já existe por parte do próprio Conselho Nacional da Justiça (CNJ) um indicativo de se iniciar a possibilidade de ter várias especialidades em saúde, devido ao grande número de ações que dão entrada na Justiça. Já o legislativo também tem avançado muito em leis que regulam o setor. Recentemente, a lei 14.454 bagunçou toda a questão do rol de procedimentos médicos. Nós entendemos que o legislativo está fazendo isso de forma equivocada, porque ela não contemplou a questão atuarial”, explicou. “São desafios que o Sistema apresenta, mas temos contado com apoio muito grande da Ocepar para superá-los”, declarou.

FOTOS: Cassiano Rosário

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