FÓRUM FINANCEIRO: No Brasil, não tem como falar em economia sem tratar de política, diz Luís Artur Nogueira
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Com uma análise sobre cenário e o futuro econômico do Brasil, o economista e jornalista Luís Artur Nogueira encerrou o Fórum Financeiro, promovido pelo Sistema Ocepar, na tarde de sexta-feira (10/05), na sede da entidade, em Curitiba. “No Brasil, não tem como falar de economia, sem tratar de política”, disse no início da palestra. “Se o Brasil é uma das 10 maiores economias do mundo, por que o país cresce menos que a média mundial? O maior problema econômico do Brasil é político. Ou essa situação melhora ou o país não irá crescer mais do que a média mundial. Falta harmonia entre os poderes”, pontuou.
Dados - Com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), Nogueira mostrou que, enquanto o PIB global foi de 3,5% em 2022 e de 3,2% em 2022, a taxa de crescimento econômico no Brasil foi de 3% em 2022 e de 2,9% em 2023. Para este ano, o FMI projeta em 3,2% o PIB mundial e em 2,2% o PIB brasileiro.
Economia aquecida - O palestrante falou ainda sobre questões ligadas ao Congresso Nacional, com grande influência do chamado Centrão na Câmara dos Deputados e no Executivo Federal. Ainda de acordo com Nogueira, apesar dos problemas políticos, a economia brasileira está mais aquecida do que o mercado projetava. “A renda impulsionou o país. Enquanto houver renda, a economia cresce”, destacou. Fatores como o aumento dos valores repassados pelo Bolsa Família, a alta de 8,9% no salário mínimo, o reajuste para os servidores públicos de 9% em 2023 e de mais 4,5% em 2024 e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até dois salários mínimos, têm aumentado o poder de compra da população. Outro ponto que tem contribuído para a melhora da economia brasileira são as 100 milhões de pessoas ocupadas. E, de acordo com o IBGE, em 2023, a renda domiciliar per capita foi de R$ 1.848, uma alta de 11,5%.
Problemas - Por outro lado, Nogueira alertou que a taxa de investimento caiu 3% no ano passado no Brasil. “O investimento precisa crescer para sustentar a economia. Outro maior problema é o fiscal. O país gasta mais do que arrecada”, apontou. Ele disse que o Brasil vive um círculo vicioso, que inclui déficit nas contas públicas, aumento do dólar e piora da inflação, juros altos, menos PIB e menos receitas. “Eu defendo um círculo virtuoso, em que o governo gasta menos que arrecada, ou seja, superávit nas contas públicas, queda do dólar com melhora na inflação, juros mais baixos, crescimento do PIB e das receitas. Atualmente, o ajuste fiscal só está sendo feito pelo lado das receitas. Não está havendo corte de gastos e nós pagaremos mais impostos”.
Incertezas globais - Em sua palestra, o economista também abordou as incertezas globais, que devem ter impacto aqui. “O Brasil não é uma bolha e é constantemente afetado por fatores externos. O ano de 2024 será de muitas incertezas. A Guerra da Ucrânia não deve gerar impacto, do ponto de vista econômico, se o presidente da Rússia, Wladimir Putin, não focar em outras áreas, além da Ucrânia. Da mesma forma, enquanto o conflito Israel Hammas ficar circunscrito à Faixa de Gaza, não teremos problemas econômicos, mas do ponto de vista humanitário é muito ruim. Porém, é possível que haja dificuldades se a guerra se expandir para outros países, especialmente aos mais ligados à produção de petróleo”, disse.
Inflação - Ainda em termos internacionais, Nogueira salientou que há grande preocupação com a inflação do mundo, com grande expectativa sobre as próximas decisões o Banco Central Americano (Fed) sobre as taxas de juros. “A taxa de juros americana foi novamente mantida em 5,25% e 5,50% na reunião de maio. São índices bem altos para os EUA. A inflação lá está alta e há a perspectiva de aumento dos juros. No Brasil, a expectativa é de o Banco Central vá reduzir o ritmo no corte de juros."
Cooperativismo - O palestrante encerrou sua participação no Fórum Financeiro destacando as oportunidades existentes para o cooperativismo sua avaliação. “Fiz uma enquete entre as pessoas que estavam presentes e 70% enxerga um futuro promissor dentro da sua própria cooperativa ou dentro da sua empresa, o que mostra que o Brasil tem mesmo muitas oportunidades. Agora, olhando para o cooperativismo do Paraná eu vejo que há, no agronegócio, por exemplo, muita demanda global e interna por alimentos vinda pela frente. A grande dica é o produtor cooperado fazer uma boa gestão de custos, nesse momento em que os preços oscilam muito. É preciso fazer uma boa administração financeira para não adquirir uma dívida muito grande. Eu enxergo o cooperativismo do agro com muita perspectiva positiva. O futuro também é promissor na área da saúde. A população do país está envelhecendo e a procura por planos de assistência médica só vai crescer. É um segmento que também terá que trabalhar muito a questão de custos, especialmente os hospitalares, que estão bem elevados. Mas demanda não vai faltar. Eu particularmente, como investidor, aplicaria meu dinheiro de fato no setor de saúde”, afirmou. Em seu entendimento, há ainda boas oportunidades no cooperativismo de crédito. “É um ramo que cresce há vários anos acima de 10% e, com a queda de juros, vai poder aumentar o volume de crédito, ajudando os cooperados. O importante é não só emprestar o recurso mas fazer o papel de educador financeiro para ajudar o cooperado a usar bem esse dinheiro, seja pessoa física ou pessoa jurídica. Ou seja, de uma forma geral, eu enxergo o cooperativismo paranaense com um futuro muito promissor e muito crescimento econômico à vista”, finalizou.
Sobre o palestrante - Nogueira é economista, jornalista, educador financeiro e palestrante profissional, com MBA em Mercado Financeiro e Curso de Business na Universidade da Califórnia,em San Diego. Foi comentarista econômico no Jornal da Manhã e âncora na TV Jovem Pan News, onde apresentou o Programa "Mercado Financeiro", ao lado de Samy Dana. Escreve atualmente para a revista e site da Isto É dinheiro, onde é colunista. Mantém o blog "Descomplicando a economia" e colabora com a Revista Mundocoop, voltada ao cooperativismo, e com a Revista Oeste.