FINANCEIRO: Meirelles volta a alertar para o excesso de otimismo no mercado
- Artigos em destaque na home: Nenhum
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou ontem a chamar a atenção dos investidores sobre o excesso de otimismo, que, segundo ele, poderá levar a desequilíbrios e a maior volatilidade nos preços dos ativos. O alerta, feito no fim da manhã em audiência pública no Senado, foi praticamente ignorado pelo mercado financeiro. A Bovespa seguiu tendência de leve alta, e o câmbio manteve trajetória de apreciação.Retomada gradual - "O Brasil entrou em um processo de retomada gradual, de crescimento sólido, de crescimento sustentado, que poderá se manter nos próximos anos", disse Meirelles, que se mostrou preocupado pelo fato de o Brasil ter se tornado "a estrela" na economia mundial. "Nossa função é acautelar o mercado contra o excesso de otimismo que pode levar a distorções nos preços e à maior volatilidade."
Excesso de otimismo - Logo após o audiência pública, em rápida entrevista à imprensa, Meirelles não indicou, exatamente, que preços de ativos correriam o risco de superavolização. Neste ano, a Bovespa já registra valorização pouco superior a 50%, enquanto a taxa de câmbio teve apreciação de 22%. "Ás vezes nos preocupa o excesso de otimismo dos mercados", disse Meirelles, que vem repetindo o alerta desde março passado. Ele conclamou os investidores a manterem "pé no chão" e evitarem "o exagero e a euforia na precificação de ativos". Essa não é o primeiro ciclo de valorização de ativos que desperta preocupação de Meirelles. No início de 2007, ele também procurou abrir os olhos do mercado para o que chamava de "apostas unidirecionais", que, naquela época, eram feitas sobretudo no câmbio e na Bolsa de Valores.
Especial - Desta vez, a intervenção de Meirelles ganha significado especial porque, depois da crise financeira mundial, banqueiros centrais de todo o mundo têm discutido a necessidade de combater também a chamada inflação de preços de ativos, e não só de bens e serviços. O próprio BC promoveu um seminário, há dois meses, em que seu diretor de Política Econômica, Mario Mesquita, demonstrou simpatia por uma atuação mais abrangente na busca não só da estabilidade de preços, mas também financeira. O que não está claro nas discussões entre os banqueiros centrais é como seria a atuação para evitar o surgimento de novas bolha, como a que foi criada no mercado imobiliário americano.
Eficácia limitada - Outros banqueiros centrais, a exemplo de Meirelles, já fizeram alertas verbais, mas a eficácia foi limitada. Em 1996, o então presidente do Fed, Alan Greenspan, alertou em um discurso para o considerava uma "exuberância irracional", referindo-se à Bolsa de Valores de Nova York, que rompera os 6 mil pontos. O mercado chegou a ceder por alguns dias, porque, segundo interpretação de Greenspan em sua autobiografia, temia que o Fed subisse os juros para conter a alta das ações. Mas o alerta verbal não produziu o efeito duradouro para interromper a tendência de valorização.
Instrumentos tradicionais - Nas discussões sobre como combater bolhas, há especialistas que defendem o uso de instrumentos tradicionais de política monetária, como as taxas de juros. Mas há quem defenda que, como os BCs passariam a perseguir mais de um objetivo, fosse utilizado mais de um instrumento, como controle de compulsórios, exigências de capital e limites operacionais para os investidores nos mercados. (Valor Econômico)