EXPEDIÇÃO SAFRA IV: Em entrevista, assessor da Ocepar analisa cooperativismo na Europa
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Na edição desta terça-feira (14/06), o jornal Gazeta do Povo, publicou, no caderno Caminhos do Campo, uma entrevista com o assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Gilson Martins, que viajou recentemente com a Expedição Safra pela Alemanha, Holanda, Bélgica e França.
Como o sistema das cooperativas da União Europeia se posiciona em relação ao Brasil?
Um dos pontos mais importantes da Copa Cogeca - que representa produtores e cooperativas da Europa - é sua força política. O lobismo que os executivos exercem na UE é muito forte. E o sistema produtivo europeu e seus representantes se contrapõem ao agronegócio brasileiro. Eles defendem seus interesses e fazem o possível para barrar o crescimento das exportações do Brasil, podem atrapalhar bastante os planos de expansão.
Em relação à Política Agrícola Comum, a tendência é de redução nos subsídios?
O porcentual do orçamento geral da UE destinado à sustentação da PAC pode cair, mas não deve haver redução em valores absolutos. Além disso, é preciso considerar a possibilidade de novos países entrarem no bloco. Quando isso ocorre, a PAC precisa contemplar regiões maiores e tende a ficar mais cara. E a competição por recursos é muito grande.
Com essa política, as cooperativas estão se fortalecendo?
Existe uma tendência de fusões, como acontece também no Brasil. As cooperativas em dificuldades se associam a outras. Em muitos casos, as fusões permitem o crescimento de todos os participantes do negócio. Por outro lado, vêm sendo impostas restrições que reduzem o número de cooperativas. Elas precisam ter uma estrutura mínima para funcionar em países como a França. Nem por isso as cooperativas estão perdendo espaço ou importância. Como no Brasil, se fortalecem acompanhando a evolução do setor produtivo e negociando juntas.
Existe uma tendência à concentração da produção nas mãos de menos agropecuaristas, que compram cotas ou arrendam áreas na Europa?
Existe, sim, uma preocupação com a viabilidade do cooperado. Cada vez menos pessoas querem assumir as propriedades, pela imposição de escala e até pelo grau de especialização necessário. Nessa tendência de concentração, a qualidade do cooperado é aperfeiçoada. Quem fica tem uma vocação, assume a propriedade de sua família e, muitas vezes, negócios de terceiros.
A política de cotas e subsídios reduz, com o tempo, a competitividade desses produtores?
O produtor europeu tem sim que ser competitivo. Com as cotas, é preciso reduzir custos dentro de um escala limitada. E a exigência de padrão é alta dentro do mercado europeu.
Como esse contexto interfere nas negociações com o Mercosul?
As negociações da UE com o Mercosul são a bola da vez, mas isso não significa que os debates vão deslanchar. O setor agrícola, um dos únicos com interesses em ambos os lados, têm muito a negociar. É difícil prever algum acordo com resultados práticos. (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)