Editorial da Gazeta do Povo destaca o cooperativismo

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EDITORIAL DA GAZETA DO POVO DESTACA O COOPERATIVISMO
Em editorial publicado hoje, o jornal Gazeta do Povo destaca a participação das cooperativas agropecuárias no fortalecimento das exportações brasileiras. Utilizando números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), Organização das Cooperativas Brasileiras e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), o texto retrata em números o potencial cooperativista no contexto nacional da agroindústria. A seguir, a íntegra do material publicado pela Gazeta do Povo.

Editorial Gazeta do Povo:

Mais uma lição do campo

Ao estabelecer o ranking dos maiores exportadores do ano passado, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) confirmou que as cooperativas vêm elevando os ganhos da agroindústria e, no levantamento, a Cooperativa Agropecuária Mourãoense (Coamo) aparece entre os 40 primeiros colocados. Já a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) projeta para este ano um faturamento superior a US$ 1 bilhão por parte das cooperativas agrícolas.

A paranaense Coamo, a maior da América Latina, que comercializa 3,3% da produção nacional de grãos, faturou US$ 272 milhões com exportações no ano passado, apresentando um crescimento de quase 60% em relação a 2000.

Dados da Organização das Cooperativa do Estado do Paraná (Ocepar) confirmam o constante avanço do setor de cooperativas, destacando a contribuição paranaense para o fortalecimento das exportações brasileiras. Basta ver que a soma dos faturamentos das cooperativas paranaenses já corresponde a 50% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola do estado. No ano passado, foram R$ 6,8 bilhões. Este ano, segundo as previsões, deveremos chegar a R$ 7,8 bilhões. Entre os clientes internacionais ganham destaque a cada ano a Europa e a Coréia do Sul, demonstrando a importância da busca permanente de novos mercados.

Para tanto, um dos segredos é a diversificação dos negócios. Um dirigente de cooperativa, em recente entrevista, destacava o surgimento de uma "cultura empresarial" entre os produtores, fruto do trabalho das cooperativas com seus participantes e do estímulo aos investimentos em tecnologia e em administração. Este era e continuará sendo o caminho a ser tomado tanto no mercado interno como no externo. O economista Mauro Lopes, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalta, neste aspecto, que por não contar com proteções tarifárias, restou ao brasileiro se tornar competitivo. Quanto mais, melhor.

O crescimento do PIB agrícola, no entanto, esbarra em alguns problemas. Falta-lhe um leque maior de crédito oficial para o planejamento estratégico do agronegócio. E ainda não chegou ao ponto ideal o investimento na capacitação da mão-de-obra no meio rural. O ministro Pratini de Moraes, da Agricultura, por exemplo, depois de anunciar recursos de R$ 26 bilhões para a safra agrícola 2002/2003, na semana passada, admitiu que o setor sobrevive com crédito zero. E visitou grandes instituições bancárias para pedir que aumentassem o volume de crédito. O que o governo pode oferecer é apenas uma gota no oceano de necessidades, reconheceu.

Mas, apesar dos percalços, os avanços são visíveis e, as reações, inevitáveis. Como observaram os participantes de encontro sobre cooperativas e agronegócios, realizado na cidade paulista de Ribeirão Preto, as barreiras protecionistas adotadas por outros países, notadamente os Estados Unidos, decorrem exatamente em resposta à competitividade brasileira. A Farm Bill - a nova legislação agrícola norte-americana - é um claro exemplo disso. Ela, que entrou em vigor este mês, foi criada pelo governo dos EUA para se estender até 2008, permitindo a aplicação de recursos que poderão chegar a US$ 412 bilhões.

Segundo especialistas, o Brasil perde US$ 5 bilhões por ano com o protecionismo internacional agrícola. Na verdade, o país é um dos mais atingidos por essas políticas porque se tornou extremamente eficiente na exportação de commodities agropecuárias, que são extremamente protegidas e subsidiadas.

No entanto, há muito espaço ainda a ocupar, tanto interna como externamente. O Brasil dispõe de 90 milhões de hectares de terra disponíveis para cultivo, segundo levantamento do Ministério da Agricultura. Para se ter uma idéia mais clara do que isso representa, basta ver que essa área praticamente equivale ao que é plantado hoje nos Estados Unidos e na China. Com mais um detalhe: esses dois grandes produtores mundiais que não têm mais espaço para crescer. Nossa realidade é bem outra. E o crescimento, só uma questão de persistência.

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