ECONOMIA II: Investimento despenca no 1º trimestre, diz FGV
- Artigos em destaque na home: Nenhum
A retomada da atividade econômica em 2012 tem sido mais lenta do que se imaginava, com um péssimo desempenho do investimento no primeiro trimestre e sinais de que a situação pouco melhorou no segundo, com uma indústria ainda fraca, aponta o Boletim Macro de maio, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). A estimativa dos economistas do Ibre é de que, de janeiro a março, a formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) encolheu 2,5% em relação aos três meses anteriores, feito o ajuste sazonal.
Demanda doméstica - Com isso, a demanda doméstica (que inclui, além do investimento, o consumo das famílias e o consumo do governo) deve ter crescido no primeiro trimestre apenas 0,1%, um ritmo mais fraco que o 0,8% do quarto trimestre do ano passado, na mesma base de comparação. "Vai ser muito difícil a economia crescer 3% neste ano", diz Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim do Ibre. Para o primeiro trimestre, ela reduziu a estimativa de expansão de 0,6% para 0,4%, influenciada especialmente pela queda generalizada da produção industrial em março, que recuou 0,5% em relação a fevereiro.
Fatores - Para Silvia, diversos fatores ajudam a explicar o mau desempenho da formação bruta de capital fixo. "Há a questão da fraqueza da indústria. Existe uma correlação importante entre o setor industrial e o investimento", diz ela, destacando ainda que a construção civil continua a crescer, mas a um ritmo não tão forte. A produção de bens de capital vai mal, puxada para baixo pela fabricação de caminhões. Em 2011, houve uma antecipação de compras e da produção, desses bens, porque neste ano entrou em vigor a norma euro 5, que exige motores menos poluentes. Para completar, o cenário internacional segue muito incerto.
Componentes - "Todos os componentes do investimento diminuíram no primeiro trimestre com relação ao último trimestre do ano passado, algo que não ocorria desde a crise de 2008: o volume importado recuou 1,6%, a produção de bens de capital caiu 9% e a produção de insumos para a construção civil diminuiu 0,2%. Isso implica uma queda expressiva do investimento no primeiro trimestre do ano, de 2,5%", ressalta o boletim do Ibre.
Demanda - Do ponto de vista da demanda, o consumo das famílias e o consumo do governo é que deram alguma sustentação ao PIB nos primeiros três meses do ano, na visão do Ibre. Silvia estima expansão de 0,8% para o consumo das famílias e de 0,4% para o consumo do governo no período, na comparação com os três meses anteriores. O setor externo deve ter uma contribuição neutra para o PIB, já que tanto as exportações como as importações de bens e serviços tiveram uma alta estimada de 1%.
Segundo trimestre - Para o segundo trimestre, os indicadores e sondagens divulgados até o momento não sugerem uma retomada forte da atividade. Para abril, a expectativa é de uma alta de 0,4% da produção industrial sobre março, feito o ajuste sazonal. Silvia também espera que haja alguma melhora do investimento, embora alerte que uma piora do cenário externo pode derrubar mais uma vez a formação bruta de capital fixo. Ela estima que, no segundo trimestre, o PIB crescerá 1,2% sobre o primeiro, um número expressivo, mas que se deve grande parte à fraca base de comparação. A Sondagem de da FGV em abril mostra que, embora o nível médio de estoques do setor tenha continuado equilibrado, houve aumento do número de segmentos que podem ser considerados "estocados". "De um total de 31 ramos industriais, cinco estavam nessa situação em fevereiro, oito em março e dez em abril, com destaque para veículos automotores, caminhões e ônibus, matérias plásticas para embalagens e vestuário."
Alta difícil - Por tudo isso, Silvia diz que uma alta do PIB de 3% neste ano é difícil. Ela calcula que, se concretizado um avanço de 0,4% no primeiro e de 1,2% no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior, seria necessário um avanço de 1,8% no terceiro e no quarto para chegar a 3%. "O mais provável é um número na casa de 2,5%." (Valor Econômico)