CRÉDITO I: Deve \"sobrar\" crédito rural da safra 2008/09

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Os desembolsos de crédito rural nos primeiros dez meses da atual safra 2008/09 estão 21% abaixo do total registrado no mesmo período do ciclo anterior. Os dados de julho a abril mostram que foram aplicados apenas 75,7% dos R$ 65 bilhões anunciados pelo governo federal à agricultura empresarial no ano passado. Na temporada 2007/08, os desembolsos efetivos somavam 92% do orçamento de R$ 58 bilhões em igual intervalo. Com isso, devem "sobrar" no caixa parte desses recursos tão escassos no mercado financeiro.

Exigibilidades - A aversão ao risco e a crise financeira mundial prejudicaram as aplicações das chamadas "exigibilidades", a parcela de 25% sobre os depósitos à vista de aplicação obrigatória pelos bancos no setor rural. Esses desembolsos recuaram 17,4% no período, segundo informações dos principais bancos operadores do crédito rural no país. O rigor dos bancos e as exigências de garantias reais "tiraram" dos produtores R$ 4,34 bilhões em recursos a juros subsidiados pelo Tesouro Nacional. "Os depósitos à vista continuam em queda. Também por isso os bancos têm pouca disposição de emprestar ao setor", avalia o diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian.

Dados - Os dados bancários compilados pelo Ministério da Agricultura mostram, ainda, que os empréstimos de custeio e comercialização recuaram 12,8% de julho a abril, o equivalente a R$ 6,1 bilhões. Nesse caso, o ritmo de desembolso recuou de 96,8% para 75,7%. Mesmo com a intenção do governo em anunciar R$ 93 bilhões para o próximo Plano de Safra, a crise de crédito no setor rural deve continuar, segundo avaliação de especialistas no tema. "Não adianta ter crédito se não temos acesso a esses recursos", afirma a economista da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Rosemeire dos Santos.

Alteração - Os produtores pedem a alteração em uma norma do Banco Central que obriga os bancos a reclassificação, para baixo, operações de crédito rural renegociadas. A medida afeta os balanços dos bancos porque os obriga a elevar as reservas para eventuais calotes (provisões) e reduz sua performance financeira. "Precisamos também de um fundo de aval para evitar exigências de garantias reais já comprometidas pelos bancos", afirma a economista. Além disso, dos R$ 93 bilhões a serem anunciados pelo governo no próximo dia 22 de junho, ao menos R$ 12,3 bilhões são compostos por linhas de capital de giro "velhas", já anunciadas em março e abril para agroindústrias e usinas de álcool. "Não é dinheiro para produtor rural", critica Ademiro Vian, da Febraban. "É uma maquiagem descabida, que não se justifica", agrega o deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS).

Recuo - A análise das informações de crédito bancário aponta também para um recuo de 46,4% nas aplicações de recursos a juros livres. São mais R$ 6,5 bilhões de "sobra". De outra parte, houve uma elevação de 32,8% nos desembolsos para investimentos, sobretudo com recursos dos fundos constitucionais (FCO, FNO e FNE). Os programas mais relevantes sob gestão do BNDES tiveram redução nas aplicações, à exceção do Moderinfra e do Prodecoop. A agricultura familiar apresentou uma elevação de 13% nas aplicações de crédito rural, para R$ 7,8 bilhões. (Valor Econômico)

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