COONAGRO: Preço do gás pode inviabilizar fábrica de ureia no PR
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{gallery}noticias/2011/Abril/28/20114281545/{/gallery}Em sua passagem por Curitiba, na última segunda-feira (25/04), o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, foi incisivo ao afirmar que a empresa não deve fornecer gás a um valor inferior a US$ 10,50/MMBtu ao Consório Azoto Paraná (Conapar). "Esse preço inviabiliza o projeto lançado no ano passado com o objetivo de produzir 300 mil toneladas de ureia por ano no Paraná e tornar o Estado autossuficiente nesta importante matéria-prima para o agronegócio. Não é possível fabricar ureia, em nenhum lugar do mundo, com o gás custando mais do que US$ 3,5 US$MMBtu", afirma Daniel Dias, diretor executivo da Cooperativa Nacional Agroindustrial (Coonagro), que lidera o consórcio Conapar.
Falta de apoio - Apesar disso, a Petrobrás confirma investimentos de três plantas de amônia e ureia em outros estados brasileiros, alegando que, para ela, o custo do gás será o mesmo ofertado ao Conapar. Gabrielli também recomendou às cooperativas que não invistam em uma fábrica de ureia no Paraná porque, em quatro anos, o país deverá atingir a autossuficiência de ureia e a empresa poderá fornecê-la ao setor. Mas, segundo levantamentos, é difícil que esse objetivo seja alcançado devido à crescente demanda de ureia pela agricultura. A necessidade do produto também deverá aumentar pois, a partir de 2012, os novos carros com motores a diesel sairão de fábrica adequados ao uso do Arla 32, um aditivo à base de ureia líquida que captura grande parte do óxido de nitrogênio emitido na combustão do motor, antes que o gás poluente seja liberado para a atmosfera.
Redução de custo - "Isso nos faz crer que é importante continuarmos a investir na produção de ureia em nosso Estado. Estranhamos essa falta de apoio por parte da Petrobrás, já que o nosso compromisso é com o agricultor paranaense e com as cooperativas e estamos buscando uma forma de reduzir os custos e manter a sustentabilidade da atividade agrícola, lembrando que o Paraná é o maior produtor nacional de grãos e o terceiro maior consumidor de ureia do Brasil", ressalta Dias.
Sem garantia - Para o Coonagro, a aquisição de ureia da Petrobrás não é uma garantia de que os agricultores paranaenses terão acesso a preços mais competitivos. "Hoje, pode-se importar ureia livremente de qualquer parte do mundo. Claro, incidindo frete, despesas portuárias, impostos e demais despesas de internamento, demurrage, entre outros. Mas, será que ficaremos livres destas despesas comprando exclusivamente da Petrobrás?", questiona Dias.
Fórmula - Na avaliação da Coonagro, a empresa deverá formar os preços da ureia utilizando uma fórmula já conhecida, que resulta da soma de custos internacionais, mais frete marítimo, despesas portuárias, impostos e demais despesas de internamento e a demurrage média, como ocorre atualmente nas regiões onde a Petrobrás atua, ou seja, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "Será que é justo incorporar estas despesas ao custo do produto nacional? Dessa forma, eles estão trabalhando com preço de oportunidade para remuneração dos acionistas. Não é o que se espera de empresas genuinamente brasileiras e de uma estatal. A Petrobrás deveria ofertar custos menores aos agricultores", frisa.
ICMS - Além disso, sobre esses custos, os produtores paranaenses terão ainda que pagar 8,4% de ICMS que incidirá sobre a ureia trazida dos estados produtores. "Isso mostra como a produção concentrada nas mãos da Petrobrás não vai trazer nenhum alívio aos nossos agricultores. O que está se criando é um monopólio", acrescenta o diretor da Coonagro. Outra preocupação é que existe ainda a possibilidade do governo voltar a cobrar a TEC (Tarifa Externa Comum) do produto importado, para proteger os fornecedores locais, no caso, a Petrobrás. Entre os anos de 1989 e 2005, a TEC variou de 15% a 6%, e depois foi zerada devido a baixa produção brasileira de ureia. O Conapar trabalha com a meta de produzir ureia a custos não superiores a US$ 300 por tonelada, contra os US$ 480 por tonelada pagos atualmente pelos produtores.
Futuro - O consórcio planeja investir US$ 350 milhões na construção, em solo paranaense, de uma fábrica de ureia que deverá gerar aproximadamente 300 empregos diretos. Atualmente existe apenas uma unidade no Estado, que produz menos de 400 mil toneladas do produto anualmente. A demanda de ureia no Paraná gira em torno de 900 a mil toneladas ao ano. O produto é um dos componentes nas fórmulas NPK, fertilizante muito utilizada na agricultura, e o gás é elemento fundamental para fabricá-lo. De acordo com Dias, outras matrizes energéticas, como o coque de petróleo e o carvão mineral, estão sendo analisadas, mas a cooperativa vai continuar tentando viabilizar o projeto junto à Petrobras.
Alternativa - Uma das alternativas seria por meio da exploração da jazida de gás natural existente nos municípios de Pitanga e Mato Rico, cujo potencial é suficiente para atender a necessidade do Conapar. As reservas foram descobertas há algumas décadas mais ainda não estão sendo exploradas pela Petrobrás. Os prefeitos de Pitanga, Altair José Zampier, e de Mato Rico, Joaquim Ortiz Neto, estão apoiando o projeto do Conapar e acreditam que, além de viabilizar a construção de uma fábrica de ureia no Paraná, a extração de gás poderá contribuir para o desenvolvimento dos dois municípios.