Conjuntura e Ferroeste são temas da reunião das diretorias da Ocepar e Fecoopar
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De forma virtual, foi realizada, na tarde dessa quinta-feira (15/08), mais uma reunião ordinária das diretorias da Ocepar (17ª) e da Fecoopar (6ª), que contou com dois convidados especiais: o secretário da Infraestrutura e Logística do Estado do Paraná e deputado federal, Sandro Alex, e o economista Juan Jensen, atualmente é sócio da 4E Consultoria e ex-CEO da Tendências Consultoria, onde também era responsável pela área de macroeconomia e análise política, com mais de 15 anos de experiência em consultoria econômica. O secretário foi convidado para detalhar o processo de privatização da Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A (Ferroeste), conforme Projeto de Lei 512 enviado para a Assembleia Legislativa do Paraná, no último dia 8 de agosto. Já o economista Jensen fez uma palestra sobre cenário econômico brasileiro e mundial.
Conjuntura
Na abertura da reunião, Jensen falou sobre conjuntura econômica e perspectivas para 2025 e 2026. O economista disse que o momento é de incertezas. Lembrou que a pandemia de Covid-19 gerou a maior queda do PIB Global desde a 2ª Guerra Mundial, em 1945/46. E que a recuperação foi heterogênea e fundamentada em estímulos fiscais e monetários, gerando enormes desequilíbrios. Segundo ele, parte dos desequilíbrios ficou caracterizado na alta inflação global, que demandou forte aperto monetário posterior. “Em 2023, PIB se mostrou resiliente, em um contexto de inflação cadente e juros altos. Para 2024 juros ainda altos, mas com início de flexibilização devem levar a uma expansão similar”.
Para Jensen, “em 2025, economia global deve manter crescimento próximo ao observado em 2024 – com destaque para alguma recuperação do bloco europeu. Nos Estados Unidos, o crescimento deve demonstrar alguma desaceleração em 2025, à medida que o mercado de trabalho dá maiores sinais de arrefecimento. Na Europa, o ciclo de cortes de juros e a situação inflacionária em patamares mais favoráveis devem propiciar alguma recuperação à região. Na China, a atividade deve arrefecer, à medida que se dissipam os efeitos dos estímulos pós-pandemia e a crise no setor imobiliário se aprofunda”, disse.
O economista ainda abordou o contexto do cenário nacional, com a falta de base parlamentar do Governo Lula no Congresso, sua baixa popularidade e os reflexos dos conflitos internacionais, entre eles, o processo eleitoral na Venezuela e guerras. “No front das contas públicas, governo apresentou e aprovou projeto de novo arcabouço fiscal em 2023, mas incerteza de como as metas de primário serão alcançadas já levaram a alteração das mesmas para 2025 e 2026”, frisou. Segundo ele, “temos um governo gastador, mas o Congresso também tem contribuído para isso”.
Reforma Tributária
Com relação à Reforma Tributária, Jensen lembrou que ela passou no Congresso faltando finalizar a regulamentação, mudanças aprovadas trazem distorções setoriais, com muitos setores beneficiados e alíquota final será alta. “Governo Lula segue sem fidelidade dos partidos da base no Congresso e a cada votação há novas negociações. Eleições municipais tornam o ano legislativo mais curto e poucas pautas vão andar de agosto a outubro; ao menos 60 parlamentares serão candidatos. Governo Lula com avaliação geral baixa; média móvel de seis pesquisas está com 35% de aprovação”.
PIB desacelera
“Em 2024, projetamos um crescimento mais lento que em 2023, com retração do agronegócio. Apesar disso, deveremos ver uma aceleração do investimento e uma recuperação da indústria, a reboque da queda dos juros. Desastre no Rio Grande do Sul fez com que reduzíssemos nossa projeção do PIB Brasil em -0,2 p.p., dessa forma, esperamos que o país cresça 1,7% neste ano, mas projeção tem viés de alta por conta da dinâmica positiva do mercado de trabalho”, comentou Jensen.
“Em 2025, projetamos um crescimento da mesma ordem que em 2024, de 1,7%” - afirma Jensen. “De forma geral, antevemos um cenário ainda impactado pela incerteza no quadro fiscal, refletindo na curva de juros. Por outro lado, esperamos uma recuperação na agropecuária do Rio Grande do Sul a partir de 2025, o que deve refletir em âmbito nacional. Para 2026 esperamos alguma aceleração da atividade em um contexto de juros menores, atingindo 2,0% no ano”, comentou.
Empregos
Já com relação à recuperação dos empregos, Jensen é otimista: “após crescer 7,4% em 2022 e superar os patamares pré pandemia, emprego cresceu apenas 1,4% em 2023. Em 2024 o crescimento voltou a subir e projetamos alta de 2,9%. Em 2025 e 2026, esperamos algum arrefecimento, registrando, respectivamente, 1,9% e 1,3% de expansão, taxas mais normais. Já a taxa de desemprego caiu para patamares significativamente abaixo do pré-pandemia, em 6,9% em junho de 2024 contra 11,8% em fevereiro de 2020 e deve seguir oscilando em torno deste patamar”, frisou o economista.
Renda
Sobre a renda da população, ele afirma que cresceu 5,2% em 2023, após queda de 1,0% em 2022 e superou o nível pré-pandemia. “Este forte crescimento é explicado pelo arrefecimento da inflação, pelo reajuste real do salário-mínimo e pela baixa taxa de desemprego. Para 2024 rendimento segue bastante forte (+4,5%), perdendo força nos anos seguintes, com 1,9% em 2025 e 1,6% em 2026. A massa salarial também cresceu significativamente em 2023, com elevação de +6,9% (puxada pela renda), após alta dos mesmos 6,9% em 2022 (puxada pelo emprego). Em 2024, esperamos que a massa de rendimentos cresça 8,1%, influenciada majoritariamente pelo crescimento do rendimento médio e arrefecendo em 2025 (4,3%) e em 2026 (2,9%) em altas mais normais".
Inflação
Para Jensen, a inflação ficou bem pressionada no pós-pandemia, com o acumulado em 12 meses atingindo 12,1% em abril de 2022. Ainda em 2022, inflação caiu para 5,8%, com deflação via redução de impostos em vários meses no segundo semestre, e para 4,6% em 2023, dentro da banda, com menos intervenções em preços administrados. Para 2024 projetamos uma inflação novamente dentro da banda, em 4,2%, mas não no centro da meta de 3,0%. “Para 2025 e 2026 projetamos taxas mais perto do teto que do piso, em 4,0% e 4,5% respectivamente. Parte da inflação nesse início de 2024 pode ser explicado pela dinâmica dos preços de alimentos. Adicionalmente, a atual depreciação cambial deve trazer novas pressões ao índice, além de um mercado de trabalho apertado que pressiona o setor de serviços. Expectativas também pioraram em função das incertezas sobre a condução futura da política monetária, sob novo comando a partir de janeiro de 2025”, comentou.
Taxa Selic
O Copom manteve a taxa de juros estável, novamente em 10,5% ao ano, na reunião do mês de julho, em decisão unânime. Segundo o palestrante, “o quadro externo manteve-se adverso, com a incerteza sobre o início da flexibilização da política monetária nos EUA. Domesticamente a atividade econômica e o mercado de trabalho tiveram dinamismo acima do esperado e a inflação e expectativas de mercado com resultados acima das metas. Na política fiscal, o comitê acompanha como os acontecimentos recentes impactaram os ativos financeiros e a política monetária, leia-se taxa de câmbio e curva de juros”. Na visão da 4intelligence, o Copom deve manter a taxa Selic em 10,5% até meados de 2025, quando deve ser retomado o ciclo de flexibilização em um contexto de cortes nos EUA e de uma política monetária que não busca mais o centro da meta.
Juros e aumento dos gastos
Para a 4intelligence, o Copom deve manter a taxa Selic em 10,5% até meados de 2025, quando deve ser retomado o ciclo de flexibilização em um contexto de cortes nos EUA e de uma política monetária que não busca mais o centro da meta. Com relação aos gastos, Jensen lembra que em 2023, aumentaram na ordem de R$ 145 bilhões permitidos pela PEC da transição e precatórios levaram o governo federal a somar um déficit primário de 2,3% do PIB. “O aumento da carga tributária seria a solução para resolver o problema à frente, dado que temos um governo mais gastador, mas dificuldades na relação com o congresso dificultam elevação de receita. Meta para o resultado primário deste ano é de equilíbrio, mas devemos observar um déficit primário de 0,7% do PIB, com gastos mais elevados e receitas mais baixas do que as estimativas do Tesouro. Novo arcabouço nasceu com metas primárias muito otimistas e inconsistentes com as perspectivas econômicas e regras de gastos. O governo revisou as metas para os próximos anos. Para 2025, meta de um superávit de 0,5% do PIB foi alterada para um equilíbrio primário (0,0%) e mesmo assim não deve ser cumprida, assim como a meta de superávit em 2026 não deve ser cumprida”, destacou.
Pauta
Durante a reunião também foram tratados assuntos de interesse das duas entidades, como aprovação do balancete do mês de julho, negociações salariais, proposta para convênio da Câmara de Mediação e Arbitragem da Fiep e Fecoopar, deliberação da política de privacidade e proteção de dados da Ocepar e Fecoopar e avaliação do Fórum dos Presidentes, Programa de Formação dos Presidentes do ramo agro e manifestação dos diretores.