COMÉRCIO EXTERIOR II: Brasil resiste no G-20 a crítica ao acúmulo de reservas

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Brasil, China e vários emergentes resistem no G-20 ao uso das reservas internacionais como um indicador para sinalizar desequilíbrios, o que poderia levar os países a adotar medidas para reequilibrar seu crescimento econômico. O Valor apurou que a preocupação do Brasil e de outros emergentes é que esse tipo de indicador abra caminho para o Fundo Monetário Internacional (FMI) tentar estabelecer depois qual seria o valor adequado de reservas.

Reservas - O debate no G-20 ocorre uma semana após auditoria independente no FMI ter mostrado que vários emergentes tiveram a impressão, durante a crise global, de que o Fundo os empurrava a reduzir o ritmo de acumulação de reservas "excessivas". Para alguns deles, o Fundo cedia às pressões políticas de países ricos para corrigir os desequilíbrios mundiais de uma maneira mais adequada a seus interesses nacionais.

 

Percepção correta - O diretor-executivo do Brasil e mais oito países no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., confirmou que, como testemunha das discussões de missões do FMI no Brasil, em 2007 e 2008, "é correto o que o relatório diz sobre essa percepção" entre funcionários do país. Emergentes expandiram suas reservas de 4% do PIB global, em 1990, para mais de 20%, em média, atualmente. As reservas servem de precaução contra saídas abruptas de capital. Servem também para fornecer liquidez às instituições financeiras nacionais. São usadas como instrumentos para estabilidade financeira interna e externa.

 

França - Segundo a França, que ocupa a presidência rotativa do G-20, o montante total de reservas (excluindo ouro), ao final de 2009, alcançou US$ 9,247 trilhões, numa alta de 162% desde fins de 2004. Os emergentes detêm mais de 75% das reservas cambiais mundiais. A China, com US$ 2,847 trilhões, detém 31% do total; o Japão, 11%; a Arábia Saudita e a Rússia, 5%. O Brasil tem 3% do total.

 

Defesa - No G-20, o Banco Central Europeu (BCE), os Estados Unidos e a Alemanha são os que mais defendem redução da acumulação de reservas, o que é visto como uma maneira de fazer países como a China apreciarem mais rapidamente sua moeda e importar mais, ao invés de poupar no ritmo atual.

 

Situação brasileira - Mas também a Coreia do Sul, Indonésia e Argentina estão com o Brasil e a China. A situação brasileira, em todo caso, é considerada mais confortável. As reservas de US$ 300 bilhões em proporção do PIB são consideradas normais. Uma fonte europeia contou que volumes altos no Brasil podem ser justificados por causa do fluxo de capitais.

 

Insistência - A França, por seu lado, insiste que os desequilíbrios macroeconômicos estão aumentando. Exemplifica que entre 1998 e 2007, a soma de déficits e excedentes dos países do G-20 passou de US$ 540 bilhões (2,3% do PIB do grupo) para US$ 2,5 trilhões (5,6% do PIB). Em proporção de riqueza mundial, os desequilíbrios de balança de pagamentos foram multiplicados por dois.

 

Capitais - Outro exemplo é o fluxo de capitais "instáveis". A crise de 2008-2009 causou uma diminuição de entradas líquidas de capitais de US$ 1,150 trilhão nos emergentes. A saída de capital durante a crise alcançou US$ 45 bilhões no Brasil, US$ 262 bilhões na China e US$ 270 bilhões na Rússia. Pelo menos 26 episódios de parada brutal de fluxos de capital foram identificados desde 2008.Os franceses sugerem entendimentos para favorecer fluxos de capitais estáveis e "gestão mais cooperativa" das reservas internacionais. A Alemanha se juntou ontem ao esforço da França para arrancar até sábado indicadores mesmo genéricos para identificar os desequilíbrios numa economia.

 

Barganha - Uma barganha está em curso, para conciliar interesses da China e Alemanha, os países com maiores superávits comerciais, e os Estados Unidos, com o maior déficit, por indicadores ditos qualitativos, portanto, sem objetivos quantitativos para países individuais. Reduz bastante o exercício e facilita para a China engolir o entendimento. "Mas está tudo em aberto", insistiu um negociador, lembrando que tanto as reservas como as contas correntes continuam causando polêmica no G-20.  (Valor Econômico)

Conteúdos Relacionados