CENÁRIOS FUTUROS DO MERCADO DE MILHO
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O Balanço de oferta e demanda mundial de milho das safras 99/00, 2000/01 e 2001/02 e a previsão da safra 2002/03 mostram claramente a redução dos estoques finais mundiais de milho. Enquanto a produção mundial cresceu 1,30% no período 99/00-02/03, o consumo cresceu 3,72%, isto é, proporcionalmente quase 3 vezes mais. Dessa forma, a conjunção de redução dos estoques finais do produto com um crescimento mais acelerado do consumo que da produção, acaba por comprometer a oferta mundial do milho, pressionando para cima os preços do cereal.
Quadro 01 - Mundo - balanço de oferta e demanda de milho - em milhões de toneladas
Produto/safra | Estoque inicial | Produção | Importação | Consumo | Exportação | Estoque final |
1999/00 | 169,1 | 606,8 | 80,0 | 604,4 | 85,8 | 171,5 |
2000/01 | 171,1 | 586,1 | 74,9 | 605,7 | 77,2 | 151,5 |
2001/02 | 151,5 | 592,9 | 72,2 | 617,4 | 71,3 | 126,9 |
2002/03 (*) | 126,9 | 614,7 | 71,5 | 626,9 | 71,3 | 114,7 |
Fonte: Conab - julho 2002, Elaboração: Ocepar/Getec * previsão
Segundo dados da Conab, pode-se constatar que a safra principal de milho ou também conhecida como safra de verão apresentou uma redução da produção de 17% em relação ao ano anterior em virtude da redução de 10,2% na área cultivada, e de menores investimentos em tecnologia, já que os baixos preços da safra 00/01 desestimularam os produtores a continuar investindo na cultura.
Quadro 02 - Brasil - comparativo de área, produção e produtividade na 1ª safra - comparação 2000/01 e 2001/02
U.F | Área (Em mil ha) | - | - | Podução (Em mil t) | - | - | Produtividade (kg/ha) | - | - |
00/01 | 01/02 | VAR (%) | 00/01 | 01/02 | VAR (%) | 00/01 | 01/02 | VAR (%) | |
Norte | 558,6 | 500,3 | -10,4 | 916,2 | 850,1 | -7,2 | 1.640 | 1.699 | 4 |
Nordeste | 2.299,7 | 2.424,0 | 5,4 | 1.867,7 | 2.307,1 | 23,5 | 812 | 952 | 17 |
PR | 1.852,1 | 1.490,9 | -19,5 | 9.445,7 | 7.380,0 | -21,9 | 5.100 | 4.950 | -3 |
SC | 893,0 | 839,4 | -6,0 | 3.947,1 | 3.156,1 | -20,0 | 4.420 | 3.760 | -15 |
RS | 1.663,2 | 1.430,4 | -14,0 | 6.237,0 | 3.976,5 | -36,2 | 3.750 | 2.780 | -26 |
Sul | 4.408,3 | 3.760,7 | -14,7 | 19.629,8 | 14.512,6 | -26,1 | 4.453 | 3.859 | -13 |
MG | 1.221,5 | 1.156,8 | -5,3 | 4.153,1 | 4.627,2 | 11,4 | 3.400 | 4.000 | 18 |
ES | 46,9 | 50,2 | 7,0 | 129,0 | 138,1 | 7,1 | 2.750 | 2.750 | - |
RJ | 14,4 | 11,8 | -18,0 | 28,1 | 26,9 | -4,3 | 1.950 | 2.280 | 17 |
SP | 790,7 | 751,2 | -5,0 | 3.376,3 | 3.350,4 | -0,8 | 4.270 | 4.460 | 4 |
Sudeste | 2.073,5 | 1.970,0 | -5,0 | 7.686,5 | 8.142,6 | 5,9 | 3.707 | 4.133 | 11 |
MT | 220,0 | 187,0 | -15,0 | 891,0 | 720,0 | -19,2 | 4.050 | 3.850 | -5 |
MS | 217,0 | 119,4 | -45,0 | 1.204,4 | 637,6 | -47,1 | 5.550 | 5.340 | -4 |
GO | 740,5 | 481,3 | -35,0 | 3.517,4 | 2.435,4 | -30,8 | 4.750 | 5.060 | 7 |
DF | 28,5 | 22,5 | -21,0 | 120,0 | 131,0 | 9,2 | 4.210 | 5.820 | 38 |
C-Oeste | 1.206,0 | 810,2 | -32,8 | 5.732,8 | 3.924,0 | -31,6 | 4.754 | 4.843 | 2 |
N/NE | 2.858,3 | 2.924,3 | 2,3 | 2.783,9 | 3.157,2 | 13,4 | 974 | 1.080 | 11 |
C-Sul | 7.687,8 | 6.540,9 | -14,9 | 33.049,1 | 26.579,2 | -19,6 | 4.299 | 4.064 | -5 |
Brasil | 10.546,1 | 9.465,2 | -10,2 | 35.833,0 | 29.736,4 | -17,0 | 3.398 | 3.142 | -8 |
Fonte: Conab - julho 2002, Elaboração: Ocepar/Getec * previsão
Como pode ser observada no quadro abaixo, a redução de produção na safrinha deste ano em comparação com o ano anterior é de 21,8%, em virtude principalmente de falta de chuvas no período crítico da lavoura no Estado do Paraná, pois a área plantada com o cereal aumentou em 18,9% em relação ao ano anterior.
Quadro 03 - Brasil - comparativo de área, produção e produtividade de milho safrinha - comparação 2001 a 2002
U.F. | Área (Em mil ha) | - | - | Produção (Em mil t) | - | - | Produtividade (kg/ha) | - | - |
- | 2001 | 2002 | Var. (%) | 2001 | 2002 | Var. (%) | 2001 | 2002 | Var.(%) |
Nordeste | 280,5 | 322,6 | 15,0 | 120,6 | 264,5 | 119,3 | 430 | 820 | 90,7 |
PR | 944,9 | 1.001,6 | 6,0 | 2.929,2 | 1.953,1 | -33,3 | 3.100 | 1.950 | -37,1 |
Sul | 944,9 | 1.001,6 | 6,0 | 2.929,2 | 1.953,1 | -33,3 | 3.100 | 1.950 | -37,1 |
MG | 24,9 | 37,4 | 50,0 | 74,7 | 130,9 | 75,2 | 3.000 | 3.500 | 16,7 |
SP | 353,5 | 332,3 | -6,0 | 830,7 | 598,1 | -28,0 | 2.350 | 1.800 | -23,4 |
Sudeste | 378,4 | 369,7 | -2,3 | 905,4 | 729,0 | -19,5 | 2.393 | 1.972 | -17,6 |
MT | 322,9 | 558,6 | 73,0 | 952,6 | 1.480,3 | 55,4 | 2.950 | 2.650 | -10,2 |
MS | 328,9 | 361,8 | 10,0 | 970,3 | 651,2 | -32,9 | 2.950 | 1.800 | -39,0 |
GO | 165,6 | 265,0 | 60,0 | 563,0 | 907,6 | 61,2 | 3.400 | 3.425 | 0,7 |
DF | 5,2 | 5,7 | 10,0 | 15,6 | 17,1 | 9,6 | 3.000 | 3.000 | - |
C-Oeste | 822,6 | 1.191,1 | 44,8 | 2.501,5 | 3.056,2 | 22,2 | 3.041 | 2.566 | -15,6 |
N/NE | 280,5 | 322,6 | 15,0 | 120,6 | 264,5 | 119,3 | 430 | 820 | 90,7 |
C-Sul | 2.145,9 | 2.562,4 | 19,4 | 6.336,1 | 5.738,3 | -9,4 | 2.953 | 2.239 | -24,2 |
Brasil | 2.426,4 | 2.885,0 | 18,9 | 6.456,7 | 6.002,8 | -7,0 | 2.661 | 2.081 | -21,8 |
Fonte: Conab - julho 2002, Elaboração: Ocepar/Getec * previsão
No Paraná, principal estado produtor brasileiro, a Secretaria de Agricultura do Paraná prevê uma safra normal 02/03 de milho de 6,95 milhões de toneladas, 5,7% menor que a safra 01/02 que foi de 7,37 milhões de toneladas. A área a ser plantada na safra 02/03 é de 1,42 milhões de hectares, diminuição de 4,7% em comparação com uma área de 1,49 milhões de hectares da safra passada. A produtividade da safra passada foi de 82,73 sacas por hectare, maior que a produtividade projetada para a próxima safra, que é de 81,58 sacas por hectare, uma diminuição de 1,2%. No estado, até o dia 19/08, toda a safra normal já havia sido colhida sendo que, 81% já estava comercializada. Do milho safrinha, 73% já foi colhida e 29% comercializada.
Medidas para atenuar os problemas de abastecimento interno na cadeia do milho
Buscando assegurar uma produção satisfatória para as necessidades dos consumidores nacionais, principalmente os frigoríficos de suínos e frangos, o governo federal vêm ofertando contratos de opção de venda de milho para a safra 02/03. Mas a eficácia deste instrumento tem sido comprometida em alguns estados. A maior eficiência dos contratos de opção está ocorrendo nos Estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia, onde os preços de R$ 15,00 por saca para liquidação em maio são atrativos, por outro lado Paraná, São Paulo e Santa Catarina estes preços não refletem a realidade destes mercados. Tanto que os preços dos contratos futuros do cereal negociados na BM&F (tabela abaixo), estão bem acima dos preços garantidos pelo Governo Federal. Apenas é importante lembrar que a maior vantagem dos contratos de opção do governo é que sua realização não é compulsória, isto é, o produtor só exerce a opção se quiser, diferente dos contratos da BM&F, onde a compra ou venda de um contrato decorre uma obrigação com a parte oposta.
Fechamento dos contratos futuros na BM&F em 28/08/2002
Mercadoria | Vencimento | Preço de Ajuste Anterior | Preço de Ajuste Atual | Variação | Valor do Ajuste por Contrato (R$) |
CNI - Milho | SET 02 | 17,20 | 17,38 | 0,18 | 81,00 |
- | NOV 02 | 18,10 | 18,10 | 0,00 | 0,00 |
- | JAN 03 | 17,20 | 17,60 | 0,40 | 180,00 |
- | MAR 03 | 16,65 | 16,65 | 0,00 | 0,00 |
- | MAI 03 | 16,79 | 16,75 | -0,04 | 18,00 |
Fonte: BM&F
No curto prazo, a tendência é de que os preços se mantenham em patamares bem acima dos da safra passada, visto que os vendedores, agora mais capitalizados, devem optar por segurarem o produto, só vendendo o mesmo no momento que julgarem mais oportuno. A entrada da safrinha não está pressionando uma queda dos preços, principalmente porque a oferta atual já é bastante apertada, em contraposição com a demanda, que continua forte. A maioria dos produtores deve realizar vendas apenas em pequenos lotes para cobrir as dívidas que estão vencendo. Continuam as importações do Centro-Oeste em direção ao sul do país visando abastecer esta região cuja oferta é mais crítica devido à quebra da safrinha.
Tanto no Paraná quanto em Santa Catarina os preços continuam elevados. Em Chapecó, os preços tem oscilado entre R$ 15,80 e R$ 16,50 (armazém). A média da semana passada no Rio grande do Sul ficou em R$ 14,66/sc ao produtor. Nos portos da região sul, os preços chegam a atingir R$ 18,50/sc (vendedor). Em Paranaguá, o FOB foi negociado a US$ 104,00/ton. As importações de milho dos EUA chegariam agora a R$ 27,26/saco CIF indústria e o produto procedente da Argentina a R$ 25,27/saco igualmente CIF indústria.
Como será formado o preço neste ano/safra
O mercado tende a ser balizado pelo preço de exportação, isto é, se antes a formação do preço se dava apenas devido a fatores internos, a possibilidade de exportação eleva consideravelmente o preço pago, já que os produtores não dependem mais apenas dos compradores internos. Alguns traders inclusive aproveitaram a alta do dólar nas últimas semanas para realizarem operações de exportação. Mas é importante levar em consideração que a exportação apenas é interessante se o câmbio permanecer em um patamar elevado.
As últimas estimativas de agosto anunciadas pelo USDA prevêem a safra 02/03 americana em 225,7 milhões de toneladas, com redução de 7,01% sobre a safra anterior. Existem rumores desencontrados sobre o próximo número da safra a ser divulgado pelo USDA em 12/09.
Apenas um recuo das cotações do dólar, viabilizando importações, e/ou a ocorrência de triguilho em volume considerável (o que cada vez mais tende a se confirmar no Rio Grande do Sul, haja vista o clima que está se configurando) poderão interromper este comportamento.
A participação atual da safrinha é um perigo constante para a oferta nacional de milho. O clima neste período do ano é muito instável e qualquer geada poderá provocar sérios estragos na produção. Ainda qualquer problema na safra de verão, que atrase a colheita de soja, poderá inviabilizar o plantio da safrinha.
O governo lançará nesta semana uma campanha de orientação para os produtores que optaram pelo milho neste período do ano. A campanha busca gerar maior produtividade, segundo Antônio Bahia Filho, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo. Uma das principais recomendações da campanha será a de o produtor seguir a época de plantio da região. Para cada dia de atraso no plantio, o produtor poderá perder 30 quilos por hectare. O agricultor deverá escolher, ainda, as sementes recomendadas para a região, pois elas são responsáveis por até 50% do rendimento da produção, diz Bahia.
Esta semana foi aprovado um voto pelo Conselho Monetário Nacional - (CMN) que inclui o milho nas regras que permitem que até 10% dos recursos obrigatórios - exigibilidades bancárias - sejam utilizados em operações de desconto de Nota Promissória Rural (NPR) e Duplicata Rural (DR). Nessas operações, os contratos podem ser feitos durante todo o ano.
Conforme o Ministro da Agricultura Pratini de Morais, as medidas criam alternativas para produtores e consumidores de milho, que poderão usar esses instrumentos na comercialização e estocagem do produto. Há disponibilidade de cerca de R$ 1 bilhão para financiamento à comercialização por meio desta modalidade de crédito, no ano safra 2002-2003. O prazo de pagamento é de 180 dias, com juros de 8,75% ao ano.
Autoria: Gerência Técnica e Econômico do Sistema Ocepar