CARNES: Crise na pecuária mundial beneficia Brasil
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O Brasil pode ser beneficiado pela crise na pecuária que afeta alguns dos principais países produtores, como Austrália, Argentina e Uruguai. O País - que já é o maior exportador mundial de carne bovina em volume - pode ganhar mais mercado e, consequentemente, mais receita. Como as criações bovinas têm ciclo longo, as projeções indicam queda no fornecimento mundial de carne em dois anos. Os principais concorrentes do Brasil têm enfrentado estiagens prolongadas, o que já refletiu no tamanho do rebanho e na queda de produtividade.
Demanda - ‘‘Não vai faltar carne. Se houver pressão de demanda o preço sobe e se houver pressão de oferta o preço cai. O mercado de commodities é regido pela lei da oferta e da demanda'', salienta José Vicente Ferraz, diretor técnico da AgraFNP (instituto privado de análises do agronegócio). Entre os principais concorrentes do Brasil no mercado de carne bovina, a Argentina enfrenta uma das piores situações. Os bovinocultores têm sido prejudicados pela estiagem - que dura mais de um ano - e pela política governamental, que privilegia o consumo em detrimento à produção.
Rebanho argentino - No ano passado o rebanho argentino foi reduzido de 57 milhões de cabeças para 54 milhões. Os números, segundo a Sociedade Rural Argentina, são do registro da última campanha de vacinação nacional contra a febre aftosa. A seca teria provocado a morte de cerca de 2 milhões de cabeças, enquanto o restante - 1 milhão - seria consequência das ações governamentais, do abate de matrizes e de bois magros, que ainda não estavam em ponto de abate. De acordo com Federico Landgraf, coordenador de Ação Política da Sociedade Rural Argentina, esta estiagem tem característica diferenciada das anteriores porque afetou o País todo e não apenas regiões localizadas.
Pior fase - Ele, que conversou nesta terça-feira (5/05) com a reportagem da FOLHA, disse que a pior fase ocorreu entre dezembro e janeiro, mas que a seca dura até hoje. Landgraf acrescentou que o governo não fala diretamente em restrições às exportações, mas que isto tem ocorrido na prática. Na Argentina, é obrigatória a autorização governamental para exportar e que, por isso, não há muitas liberações. ‘‘Estamos enfrentando uma situação muito difícil. O governo trata o ‘tema carne' de maneira política e eleitoreira; o governo privilegia o aumento do consumo e força a queda de preços e quem paga este preço é o produtor'', salientou.
Leve recuperação - Segundo o coordenador da Sociedade Rural, os preços da arroba tiveram uma leve recuperação nas últimas três semanas. No entanto, ele acrescentou que não ocorrem alterações significativas há praticamente três anos. Até os exportadores estão com margens pequenas de lucro. A Argentina é o maior consumidor de carne bovina do mundo - cerca de 70 quilos per capita por ano - e as projeções mais pessimistas indicam que o País poderá se tornar importador nos próximos dois anos. Entretanto, pesquisa publicada no jornal ‘‘La Nación'' indicou que já houve retração no consumo, que caiu de 16 quilos para 14 quilos por mês.
Custo aos consumidores - Ao contrário dos preços pagos aos produtores, o levantamento mostrou que o custo aos consumidores subiu cerca de 12% nos últimos meses. De acordo com José Vicente Ferraz, da AgraFNP, desde o início do governo Kirchner a rentabilidade dos criadores está sendo afetada negativametne. ‘‘Muitos já começam a desistir da atividade (pecuária) porque os grãos têm rendido mais. Está havendo a conversão em lavoura de áreas mais nobres, altamente produtivas, para regiões com menor potencial, o que eleva o custo de produção'', explicou.
Queda na exportação - Ele acrescenta que o volume exportado pela Argentina caiu e que o País ainda enfrenta dificuldades na expansão da atividade. O diretor técnico disse ainda que o peso médio dos animais abatidos caiu entre 7% e 8% nos últimos anos. A Argentina é o quinto maior exportador mundial, ficando atrás do Brasil, Austrália, Índia e Estados Unidos. (Folha de Londrina)