CAMPO: Mais do que diversificar

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Quem chega à casa do produtor Amadeu Cerino dos Santos não imagina que a área que abriga enormes grevilhas, logo na entrada da chácara e uma varidade de plantações, incluindo uma mata nativa, foi um dia um grande campo de soja. O esforço e a dedicação da família, que viabilizou a área em apenas oito anos, chamam a atenção pela fartura que brota da terra. E o segredo na propriedade que fica em Ibiporã não é apenas a diversificação de produtos, processo utilizado pela maioria dos pequenos produtores. Aqui, a história é também de um retorno às raizes, num exemplo claro de que o verdadeiro homem do campo, não consegue viver longe da terra. Durante 17 anos o produtor trabalhou como empregado no sítio que hoje lhe pertence. Por isso, seu Amadeu e a família não se cansam de expressar a gratidão que possuem pelo ex-patrão, Antônio Cantareli, que ainda mora na cidade mas mantém terras apenas no Mato Grosso. ‘‘Devo muito a ele, que me ajudou a conquistar esse pedacinho de terra. Acho que na região não tem patrão como ele’’. Seu Amadeu se transferiu para a cidade, com a mulher, Maria Aparecida e os dois filhos, Fernando e Ricardo, quando o patrão decidiu vender a Fazenda São Sebastião. Como prêmio pelos anos de trabalho ele e outros cinco colegas ganharam um terreno na cidade e ajuda para construir uma casinha. Mas a vida urbana não era a mesma do campo. Somente o filho Ricardo se acostumou e hoje trabalha em Londrina como soldado do Corpo de Bombeiros. ‘‘É muito difícil para quem passou a vida inteira no sítio, se acostumar na cidade’’, afirma seu Amadeu.

A volta - O trabalho na construção civil não satisfazia. Seu Amadeu queria mesmo era voltar. ‘‘Foi aí que meu patrão mais uma vez me ajudou. A casa da cidade foi trocada pelos cinco hectares no campo e ele retornou às origens, a mulher e o filho Fernando. Juntos, no sítio que hoje também recebe o nome da antiga fazenda, eles reconstruíram a vida. A área foi bem aproveitada e hoje produz de tudo. Foram três anos de intensa dedicação e investimentos e agora, nos últimos cinco anos, a família colhe os frutos. Logo na entrada do sítio um hectare abriga o plantio de café semi-adensado, que em agosto inicia a floração. A produção é de 100 sacas por ano, beneficiadas e vendidas na própria região.

Frutas - Próximo ao cafezal, mais um hectare de bananas em plena produção, que rendem 100 caixas por mês. Na parte de baixo da propriedade, mais um hectare de maçã das variedades Eva e Izabel. A produção está começando mas seu Amadeu estima uma prsodução média de 30 caixas por safra. A colheita está prevista para o final do ano. O milho plantado também em um hectare tem uma parte da safra de espigas verdes entregue na Ceasa em Londrina, assim como as demais produções. O que sobra do milho serve como alimento para as seis cabeças de gado, que Amadeu mantém num pequeno pasto. Das seis cabeças, três são vacas leiteiras, que produzem cerca de 15 litros de leite por dia. O leite é aproveitado para a confecção de queijos, preparados diariamente por dona Cida. ‘‘Nossa renda mensal vem da banana, do leite e do queijo. As outras produções complementam a renda durante o ano‘‘. Mas isso não é tudo. No quintal da casa de alvenaria com cinco cômodos que eles conseguiram construir, também com a ajuda do antigo patrão, cinco metros de horta produzem duas variedades de alface e cebolinha. A horta é o xodó da dona Cida, responsável pelos cuidados com as verduras. Mas andando pela propriedade também encontramos uma área com produção de vagem, pepino e pimentão. Outro xodó é o pomar com laranja, manga, limão, figo, jaca, lixia e um pouco de cana, além de alguns pés de poncã e até abacaxi. Pertinho da casa, num pequeno viveiro, seu Amadeu mantém a criação de 100 cabeças de frango caipira, que são vendidas na região.

Orientação - Tudo o que a família produz na terra, tem orientação de técnicos e agrônomos da Emater. Foram três anos até que a área começasse a produzir. ‘‘No começo tivemos as dificuldades normais da produção, como as doenças das frutas, mas com apoio técnico, tudo foi superado’’. Seguindo à risca às orientações, seu Amadeu nunca teve prejuízo com nenhuma lavoura. ‘‘Tudo o que temos aqui foi feito com sacrifício, mas com ajuda de muita gente, incluindo os filhos e os parentes. No começo não foi fácil, mas agora, estamos mais sossegados’’. E a rotina do trabalho no campo, nem é tão árdua assim. ‘‘É tranqüilo. A gente levanta seis horas da manhã e vai para a lida até quatro, cinco horas da tarde. Se chove, a gente fica à toa, folgado. Se tem sol, tem sempre alguma coisinha para fazer’’. Com esse estilo, seu Amadeu garante que consegue manter um bom padrão de vida. “Dá prá viver bem. No final do ano, acho até que vai sobrar um pouco prá comprar um carrinho”, comemora, contando que, no começo, precisou se desfazer do veículo que possuía para implantar o sistema de irrigação que mantém na área. O veículo vai ajudar a transportar o que é produzido até a cidade. O segredo para o sucesso? Além da diversificação, o principal é o amor pela terra. “Se não gostar, não vai”, ensina seu Amadeu, que superou as dificuldades e mostrou aos que perguntavam à família do que eles sobreviveriam. ‘‘Eu sempre respondi. Se Deus quiser vou viver da terra e estamos conseguindo’’, responde, mais uma vez em tom de agradecimento. (Folha de Londrina / Folha Rural)

Conteúdos Relacionados