CÂMBIO: Governo vai usar Fundo Soberano

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O governo aumentou ontem a pressão sobre o mercado de câmbio e anunciou que o Fundo Soberano do Brasil (FSB) poderá atuar no mercado futuro de dólares, também conhecido no jargão econômico como operações de derivativos. É a segunda medida cambial anunciada em menos de duas semanas pelo governo Dilma Rousseff para conter a queda do dólar ante o real. Agora, o governo aponta as suas baterias para as especulações realizadas no mercado futuro, que no Brasil é bem maior do que o mercado à vista de dólar e tem mais influência na cotação da moeda norte-americana.

Publicação - A decisão do Conselho Deliberativo do FSB foi publicada nesta segunda-feira (10/01) no Diário Oficial da União, mas curiosamente datada de 17 de setembro de 2010. O governo também publicou outras três resoluções antigas sobre o Fundo. Uma delas, de dezembro do ano passado, permite aplicações de recursos do FSB em fundos de investimento no exterior.

Mercado futuro - A publicação das resoluções agora não significa que o governo vai atuar imediatamente no mercado futuro, mas adiciona mais um fator de risco para os que apostam na valorização do real. A possibilidade de intervenção do FSB no mercado futuro (provavelmente por meio de oferta de chamados contratos de swap cambial reverso) é equivalente a uma compra de dólares. Desde maio de 2009, o BC não oferta esse tipo de contrato e o Ministério da Fazenda fez várias pressões no ano passado para a volta desses leilões como instrumento adicional de intervenção na taxa câmbio. O BC sempre alegava restrições do Tribunal de Contas da União (TCU) para não atuar mais nesse mercado.

Alta - Com o FSB atuando como mais um jogador na ponta de compra no segmento futuro, a intenção do governo é fazer o valor da moeda americana subir. E, com isso, preservar alguma competitividade para os produtos nacionais nos mercados externo e interno. O dólar mais barato rende menos receita para as exportações brasileiras e, ao mesmo tempo, aumenta as importações de produtos estrangeiros que tiram mercado dos brasileiros.

 

Operador - O BC será o operador das compras de dólar nos mercados à vista e futuro para o FSB. O banco já faz essas intervenções por conta própria para a política cambial brasileira. Agora, vai atuar também em nome do FSB, embora ainda não tenha sido anunciado como serão feitas e comunicadas essas intervenções. É provável que o governo queira tornar pública a atuação do FSB - como o BC já faz em suas atuações - para mostrar o seu poderio de intervenção e fomentar o temor nos especuladores.

Ruído - A autorização para o FSB operar no mercado de derivativos, além de acrescentar um comprador potencial no futuro, visa adicionar incerteza ao mercado de câmbio, desestimulando operações especulativas. À medida que se tem mais dúvidas de como o governo vai agir, o mercado fica mais temeroso em fazer apostas na alta do real. Com o FSB na ponta contrária do mercado, a ideia, segundo apurou o Grupo Estado, é "'criar ruído".

Pistas - Para não dar pistas ao mercado, o governo foi econômico ao explicar as resoluções. Segundo o subsecretário de Planejamento e Estatística do Tesouro Nacional, Cléber de Oliveira, as resoluções permitem a plena operação do FSB. Ele admitiu, no entanto, que ainda não foi assinado o convênio para que o BC possa atuar em nome do FSB no mercado cambial, o que estaria sendo ''ultimado''. Sobre os motivos de só agora o governo ter dado publicidade a atos antigos, Oliveira respondeu secamente: ''É o momento adequado''. Ele ressaltou que o fundo é um instrumento adicional, ''bastante flexível'', para auxiliar o governo na política cambial. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não há risco de perdas dos recursos do FSB com as operações com derivativos. Ele assegurou que o governo tomará os cuidados necessários. (Agência Estado)

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