BIOCOMBUSTÍVEIS II: Abertura é processo lento e sem garantias

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Os investidores do setor de etanol estão aprendendo que a formação de novos mercados demora. Ela enfrenta barreiras comerciais de países que querem desenvolver suas próprias indústrias, a falta de consumidores que confiem no produto e a ausência de padrões que facilitem as negociações. E o investimento para superar qualquer desses desafios tem retorno incerto.

Abertura - Para especialistas, a criação de um mercado global para o etanol passa pela abertura dos dois maiores mercados do mundo, os Estados Unidos e a União Europeia. Os EUA passaram a apostar no álcool na metade da década. Com subsídios do governo, nasceu uma grande indústria de etanol de milho - maior, inclusive, do que a brasileira. Para entrar nesse mercado, o produto brasileiro paga tarifa de 54 centavos de dólar por galão (3,6 litros). Na Europa, o cenário é parecido: alguns países, em especial a França, estimulam a indústria local, e o combustível brasileiro paga 19 centavos de euro por litro.

Aumento de exigências - "Esses dois mercados também vão aumentar as exigências ambientais e sociais para o etanol brasileiro. Por isso, precisamos encarar a exportação como um projeto de médio prazo", diz Mirian Piedade Bacchi, pesquisadora do Cepea e professora da Esalq/USP. A especialista destaca que outro problema enfrentado pelo produto do Brasil é que ele deixou de contar com os altos preços do petróleo e do milho, que aumentavam sua competitividade no mercado externo.

Lado bom - O lado bom da proteção às indústrias locais nos EUA e na UE é que elas têm interesse em que o etanol seja definitivamente adicionado à matriz energética, o que pode levar à venda de carros flex e à criação de uma rede de distribuição. Esse processo está mais avançado nos EUA e em alguns países europeus, em especial a Suécia - que, aliás, é uma grande aliada do Brasil para convencer seus colegas de bloco a relaxar as restrições ao álcool de cana-de-açúcar.

Reduzir emissão de gases - O Brasil conta com a preocupação desses países em reduzir as emissões de gases do efeito estufa e em diversificar as fontes de energia para transporte. Nos EUA, por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) recentemente mudou as metas de inserção do etanol na matriz energética. Ela estabeleceu um limite para a produção de álcool de milho, que deve ser atingido em 2015. A partir de então, a demanda será atendida por etanol avançado, que tem emissões mais baixas, e celulósico, uma nova tecnologia ainda em fase experimental e que promete revolucionar a indústria.

Previsão - "Eles preveem uma demanda de 175 bilhões de litros em 2022 e acreditamos que o etanol vai se qualificar como uma das fontes consideradas avançadas", diz Geraldine Kutas, assessora internacional da Unica. Nas contas da EPA, o etanol avançado responderá por 15 bilhões de litros do consumo americano, três vezes mais do que as exportações atuais do Brasil.

UE - Na UE, o potencial do combustível é menor. Lá, o setor de transportes terá de incorporar 10% de fontes renováveis em sua matriz até 2020. Cálculos da Unica indicam que isso levaria a uma demanda de 14 bilhões de litros de etanol por ano - outra parte significativa da substituição seria feita com biodiesel. Como o volume não é tão grande quanto nos EUA, pode ser mais difícil vencer os lobbies que defendem os produtores de álcool de beterraba ou de cereais. (Gazeta do Povo)

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