BALANÇO II: Para analistas, commodities impedirão queda maior do superávit

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A previsão do novo ministro de Desenvolvimento, Fernando Pimentel, de que o saldo na balança comercial brasileira pode atingir apenas US$ 10 bilhões neste ano - o pior desde 2001 - não está fora da realidade, segundo bancos e consultorias. Alguns agentes, como o Fator, estimam resultado um pouco melhor (US$ 13 bilhões). Outros, como o Barclays Capital, são mais pessimistas (US$ 7 bilhões). Já os economistas consultados pelo Valor avaliam, de maneira geral, que o resultado comercial de 2011 só será superior ao do ano que vem, quando o derretimento do superávit da balança brasileira atingirá seu ponto mais baixo.

Perspectivas - "De maneira geral, as perspectivas estavam piores no início de 2010, quando os preços das commodities estavam em baixa. Como os preços subiram muito no ano passado, ajudaram o saldo comercial, algo que deve ocorrer de novo este ano, mesmo com nova elevação das importações", explica José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator.

Exportações - Para Gonçalves, os preços das commodities continuarão impulsionando as exportações brasileiras, em valor, mantendo o saldo em US$ 13 bilhões neste ano, mesmo nível de 2002 - estimativa próxima aos US$ 14,1 bilhões calculados pelo departamento de pesquisas econômicas do Bradesco. As commodities têm preços negociados internacionalmente na Bolsa de Chicago (EUA), onde é calculado o índice CRB, que coleta a média de preços de itens básicos. Depois de subir 17,4% em 2010 - sendo 10,4% apenas no mês de dezembro - o CRB perdeu força na primeira semana deste ano, diante do otimismo quanto ao crescimento econômico americano e voltou a subir na semana passada, quando, em apenas sete dias, acumulou uma alta de 2,8%.

Abaixo do recorde - O nível atual, de 333 pontos, continua muito abaixo do recorde de 473,5 pontos, alcançado em julho de 2008, antes da crise mundial, mas muito acima do vale, de 200 pontos, atingido em março de 2009. "As commodities são o ponto de fuga dos investidores estrangeiros, que veem na enorme demanda chinesa para itens como minério de ferro e alimentos em grãos uma oportunidade de investimentos mais vantajosos que os títulos ofertados por países ricos em crise", avalia Marcelo Salomon, economista-chefe do Barclays.

Inflação - "Foram as commodities que fizeram ressurgir a inflação no ano passado, nos países emergentes, junto a um processo de aumento da renda, ao mesmo tempo que mantiveram os saldos comerciais, num cenário de valorização cambial e aumento das importações", diz Salomon, para quem o movimento de preços das commodities será "central" para entender o ano de 2011.

Certo - Para Gonçalves, do Fator, o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior acerta ao se dizer "estupefato" com o avanço da China - exportando mais bens manufaturados ao Brasil e adquirindo, em doses cavalares, produtos primários. "O ministro é o primeiro, no cargo, que entende que a China existe e faz parte do jogo. Não vamos vender mais sapatos e roupas nas mesmas proporções aos países ricos, e o ímpeto chinês acaba sendo bom para a balança comercial ", diz.

Importados - Diante de um mercado interno aquecido, graças à queda do desemprego, alta nos salários e expansão do crédito, a demanda por importados continuará forte ao longo do ano, aposta Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados. Para ela, as exportações brasileiras ficarão concentradas em commodities e a uma melhora nas vendas de produtos industriais, que contarão com o mercado americano mais receptivo.

2012 - "Em 2012 o saldo comercial pode ficar próximo de zero, caso os preços das commodities caiam, com a melhora da economia americana. O saldo responde à nossa dependência das exportações de commodities. Hoje, os preços em alta ajudam. Mas quando a China começar a migrar para um modelo de crescimento focado no mercado interno, as coisas podem mudar", afirma Thaís. (Valor Econômico)

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