ARENITO CAIUÁ: Nova esperança para a última fronteira
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Um programa regional de arrendamento de terras fez o plantio de soja aumentar 750% entre 1997 e 2007 na região de Umuarama (Noroeste), onde predomina o solo Arenito Caiuá. Era a nova fronteira agrícola do Paraná em expansão. Mas, o cultivo de grãos numa região onde só se via pecuária há 20 anos não veio acompanhado dos cuidados necessários com o solo. O resultado foi a queda na produtividade e a saída de muitos produtores da atividade. Agora, uma linha de crédito especial, anunciada pelo governo federal junto com o Plano Agrícola e Pecuário 2008/09, surge como a esperança de abrir de fato a nova fronteira agrícola do estado.
Produsa - É o Programa de Produção Sustentável do Agronegócio (Produsa), criado para financiar a recuperação de áreas de pastagens degradadas a fim de inseri-las novamente no processo produtivo. Um dos atrativos é a taxa de juros de 5,75% ao ano, 1 ponto porcentual a menos do que a cobrada nas contratações de crédito rural. Segundo o gerente da área técnica do Banco do Brasil no Paraná, Érico Stadtlober, o dinheiro deverá ser disponibilizado até a próxima semana. Enquanto isso, ele diz que os produtores devem ir preparando o projeto para ser apresentado ao banco. Será R$ 1 bilhão para investimento no sistema de integração pecuária-lavoura-silvicultura, correção e manejo de solos. O limite para cada contrato é de R$ 400 mil.
Região Noroeste - O programa é nacional. No Paraná, deve beneficiar principalmente a Região Noroeste, onde o solo arenoso é mais vulnerável à erosão quando não há manejo adequado. Conforme o coordenador técnico da Cocamar, Antonio Sacoman, 107 municípios do estado estão na área do Arenito Caiuá, num total de 3,2 milhões de hectares. Em torno de 2 milhões de hectares estão ocupados com pastagens, dos quais, mais de 80% apresentam baixa qualidade e produtividade, onde a saída "é a recuperação por meio da integração lavoura e pecuária".
Conscientização dos produtores também é necessária - Para o agrônomo da Cocamar Paulo Coelho, o programa vem em boa hora, mas, além do dinheiro, a recuperação e conservação do solo como um sistema de produção sustentável na região dependem também da conscientização dos produtores, que são acostumados à exploração agropecuária tradicional. Coelho afirma que a modernidade exige a administração de um sítio ou fazenda nos mesmos moldes de uma empresa. Ou seja, o produtor não deve visar apenas o lucro imediato ou o ganho em apenas um plantio ou uma cultura. E são poucos os exemplos de produção sustentável na região de Umuarama.
Prioridade da propriedade - Um deles está na fazenda Santa Felicidade, de 363 hectares, em Maria Helena. O pecuarista Antônio César Pacheco Formighieri diz que o primeiro passo é definir a prioridade da propriedade. Desde 2000 ele investe na integração pecuária-lavoura. E consegue o que para muita gente ainda parece impossível: fazer três colheitas ao ano na mesma área. Hoje, enquanto o pasto está seco em quase todas as propriedades da região, na Santa Felicidade o gado tem, no capim monbaça, um pasto verde e nutritivo. O capim foi plantado logo após a colheita da soja. Em outra parte da fazenda, o milho da safrinha foi intercalado com braquiária. Após a colheita do cereal, o gado será engordado nessa área, antes do dessecamento para o plantio direto da soja em outubro. Mas também tem-se a opção de cultivar lavoura por três anos e, na seqüência, pastagem por mais três anos, até retornar-se ao plantio de grãos. "E não se gasta mais porque depois economiza no uso de adubo químico", fala o pecuarista.
Todos podem adotar o sistema - Em dez alqueires do lote, acabam de ser plantados eucalipto para consórcio com a pastagem. E em toda a propriedade a terra foi tombada uma vez só. O plantio é direto e o solo está sempre coberto por palha. Segundo Paulo Coelho, a temperatura no solo arenito no verão chega a 60 graus, porém com a cobertura cai para 30 graus. O manejo adequado também evita a perda de água da chuva. "Nós não temos falta de chuva. Nós temos muita perda de água por causa da falta de cobertura do solo." O agrônomo explica que o sistema de recuperação de solo e a integração lavoura-pecuária e árvores podem ser feitos em propriedades de todos os tamanhos. Quem não pode fazer de uma vez, deve começar com cinco ou dez alqueires. "Mas uma coisa não pode faltar: a orientação técnica." O sistema é difundido pela Cocamar como forma de aumentar a produção regional. Há 12 projetos em andamento. (Gazeta do Povo/Caminhos do Campo)