ANÁLISE: Cenário para 2008/09 mantém grãos em alta
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A renovação das apostas de fundos de investimentos e os sinais de aperto no quadro global de oferta e demanda de alguns produtos mantiveram as principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior em alta nas bolsas americanas em fevereiro, conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados em Chicago e Nova York.
Chicago - As atenções continuaram voltadas sobretudo para Chicago, referência maior para a formação dos preços internacionais de soja, trigo e milho, protagonistas da tendência de valorização dos alimentos e, portanto, da "agroinflação" mundial. E em Chicago, segundo analistas consultados pelo Valor, quase todas as atenções já estão voltadas para os fatores que definirão se haverá ou não a possibilidade de recuperação significativa de estoques mundiais na safra 2008/09, que começará a ser plantada nas próximas semanas no Hemisfério Norte e cuja colheita será concluída nos primeiros meses do ano que vem no Hemisfério Sul.
Trigo - Em Chicago, a commodity agrícola que mais subiu em fevereiro, conforme os critérios do Valor Data, foi o trigo. Segundo Élcio Bento, da Safras & Mercado, à sustentação oferecida pela frágil relação entre estoques e consumo - "a menor da história" - somou-se a momentânea escassez de trigo de primavera de qualidade em Minneapolis (EUA), o que catapultou as cotações na bolsa local e puxou os preços nas demais bolsas americanas que negociam o cereal, como Kansas e Chicago.
Cotação - Com isso, em Chicago a cotação média do cereal alcançou US$ 10,7204 por bushel, 14,33% acima da média de janeiro. Em 2008 o ganho acumulado chegou a 15,60%, e em 12 meses, a 123,89%. Para Bento, não há no horizonte nada que indique perdas significativas até junho, quando começa a colheita da produção americana de inverno. "Até lá o cenário é altista. Mais em virtude dos fundamentos do que da especulação, que no trigo está menor que na soja e no milho", disse ele.
USDA - Com a área sinalizada de oferta de soja pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) para a soja no país em 2008/09, começa a amadurecer a impressão de que a escassez mundial do grão poderá até recrudescer, a não ser que a próxima safra sul-americana, que começará a ser plantada no fim do ano, seja surpreendentemente maior que a atual, que está sendo colhida. Na dúvida, a cotação média do produto subiu 10,11% em fevereiro e acumula alta de 81,34% no último ano.
Milho - O mesmo compasso de espera vive o milho - e neste caso a disputa de área com soja nos EUA tem peso muito maior -, e para a base alimentar de boa parte do planeta essa expectativa também foi altista no mês passado. Segundo o Valor Data, o salto em relação à média de janeiro foi de 5,66%, ampliando a alta em 12 meses para 24,83%. Como o grão é matéria-prima para etanol nos EUA, aqui a tendência de expansão dos biocombustíveis também serve de sustentáculo para o longo prazo.
Café - No caso do café, a oferta e demanda global ainda equilibrada, com viés de déficit tendo em vista, entre outros fatores, as magras reservas brasileiras do grão, ajudou a sustentar os preços, sempre com um estímulo dos fundos. No mês passado, a alta em relação à média de janeiro foi de 12,70%.
Algodão - O algodão é outro em rota ascendente, depois de meses de um certo marasmo. Com os preços dos grãos em escalada, sobretudo soja e trigo, os produtores americanos projetam reduzir a área de algodão para investir no cereal e na soja. Com isso, a expectativa é de que a área para pluma, um dos maiores produtores mundiais, recue. No mês passado, a valorização foi de 3,02%. Em parte em razão de dúvidas sobre a sustentabilidade de sua demanda, o suco foi a única das oito commodities pesquisadas a perder fôlego em fevereiro. A queda foi de 5,85%. (Valor Econômico)