ALIMENTOS: O mundo rico preocupado com os preços dos alimentos
- Artigos em destaque na home: Nenhum
"A guerra dos cereais. Agora o mundo tem fome", afirma manchete do jornal Corriere della Sera (Milão, Itália) desta segunda-feira (14/040 em artigo do enviado especial a Nova Iorque, Massimo Gaggi. "A duplicação dos preços de milho, trigo e arroz provocaram revoltas em dezenas de países", afirma o intertítulo da reportagem, que começa citando a prisão, no Egito, de 12 mil pessoas que estavam vendendo farinha de trigo no mercado negro. "Nas Filipinas, diante de uma crise alimentar gravíssima, o governo ameaça condenar à prisão quem se arriscar em vender alimentos a preços majorados. Da mesma forma, da África ao Paquistão, da Tailândia ao México, os cereais, novo ouro dos campos, são protegidos como um bem precioso. Na iminência da colheita, os terrenos são vigiados por guardas armados. Até pouco, em nosso rico continente estivemos ocupados quase somente com os altos preços do petróleo, alarmados do encargo do custo da gasolina. Certo, continuava a aumentar ainda o pão, a massa, mas o alimento incide somente em 15 a 18% sobre o custo de uma família européia (10 a 14% nos EUA). No momento, ao improviso, descobrimos que a duplicação dos preços do trigo, milho, arroz e soja envolvem o mundo: estados que acreditavam haver resolvido o problema da fome, há pouco se aperceberam que enfrentam o mesmo problema".
Risco de guerra - "A FAO, organização alimentar da ONU, denuncia que na África, Ásia e América Latina, 36 países apresentam risco de guerra civil. São nações paupérrimas nas quais a população gasta mais da metade de sua renda (freqüentemente dois terços) com alimentos. Em muitos casos, do Haiti ao Kênia, já explodiram graves revoltas com derramamento de sangue. Governos reagem com medidas policiais e com o bloqueio das exportações que estão envolvendo o comércio internacional em um período já tumultuoso da crise do crédito e da tempestade dos valores: China e Vietnã, grandes produtores de arroz, decidiram limitar a venda ao exterior. A Rússia bloqueou por 60 dias a exportação de trigo. A Argentina taxa sempre mais pesadamente as exportações dos seus agricultores na tentativa de bloquear o crescimento dos preços no mercado interno".
Solução temporária - "Acreditavam ter encontrado uma solução. Senão aquela da pobreza - ao menos o problema da fome: certo, no mundo são ainda um bilhão de pessoas mal nutridas, mas nos 15 anos que vão de 1990 a metade deste decênio o seu número caiu bem 278 milhões. Uma conquista positiva que parecia destinada a durar. A fome, enfim, considerada uma conseqüência não da escassez de alimentos, mas da incapacidade de distribuí-los corretamente e de ajudar aos pobres de modo eficaz: os depósitos, enfim, estavam cheios, tanto que o economista e prêmio Nobel, Amartya Sen, podia sustentar que, colocando juntos, os sacos de trigo e arroz da reserva estratégica estatal indiana cobriria a distância entre a terra e a lua ida e volta. Hoje, ao invés, aquelas reservas estão no fim e a Índia, nova potência da indústria e dos serviços de informática, observa o céu com a respiração suspensa: em qualquer semana, com as monções, chegará a colheita que deve saciar um bilhão e cem milhões de pessoas.
Adeus aos preços baixos - "Não podemos esquecer os baixos preços dos últimos 30 anos. De imediato, paradoxalmente, se espera pela recessão dos EUA: reduzindo o crescimento da economia mundial, poderia ao final frear o "boom" da demanda alimentar da Ásia. Porém, por ora, o rápido crescimento da China e Índia está respingando também na mesa dos países ricos. Também há um volume crescente de milho utilizado para a produção de biocombustíveis, um fenômeno que não cessará ainda que os americanos estejam conscientes de que o etanol reduz a dependência energética dos Estados Unidos, mas há um impacto negativo sobre o meio ambiente, sobretudo com a grande utilização dos recursos hídricos. Ao final se torna sempre à necessidade de aumentar a produção de cereais. Mas em giro pelo mundo dos solos cultivados, que restam bem poucos. Por isso o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, pede aos países mais afetados para promoverem uma nova "revolução verde", capaz de incrementar uma medida significativa, aumentando a produção por hectare cultivado. Musica para os mantenedores dos OGM: até aqui o mundo se dividiu em dois, com a Europa firmemente contrária à sua difusão. Mas com a fome que se refaz e a indústria química que prepara moléculas de segunda geração, capazes de fazer crescer os cereais ainda em condições de aridez, tudo muda. (Com informações Corriere della Sera)