AGRONEGÓCIOS: Reabertura da UE ao mel brasileiro anima exportador
Reaberta para o mel do Brasil após embargo de dois anos, a União Européia tem tudo para reassumir, já em 2009, o papel de principal mercado externo para o produto nacional. Com o bloqueio da UE, sob alegação de falta de controle de resíduos de medicamentos contaminantes, os exportadores voltaram-se para os Estados Unidos, que se tornaram o principal destino dos embarques ao longo dos dois últimos anos.
Empresas habilitadas - Três empresas foram habilitadas pelo Ministério da Agricultura e já podem realizar embarques para a UE. São elas a Prodapys, a Minamel e a Apidouro, as duas primeiras de Santa Catarina e a terceira de São Paulo. O primeiro embarque nesta fase, de 41 toneladas, foi feito pela Prodapys em junho. A Minamel também estará efetivamente de volta na próxima semana, com o envio de outras 41 toneladas, enquanto a Apidouro programa cerca de 80 toneladas para os próximos dias. Nos três casos, os clientes são da Alemanha, que tem consumo elevado, reexporta o produto para outros países europeus e era, até o embargo, o principal destino individual das vendas.
Prejuízos - "Esperamos alavancar de novo a empresa com a reabertura [da UE]. No primeiro ano de embargo, chegamos a ter prejuízo", afirma Agenor Castagna, proprietário da Minamel. Assim como outras empresas, a Minamel redirecionou as exportações para os EUA durante o embargo europeu, mas demorou para obter a mesma rentabilidade, já que o processo envolve a conquista de novos clientes. "Não vamos abandonar os americanos para não correr risco de um novo problema por conta de embargo da Europa, mas eles deverão ficar com um percentual menor das exportações da empresa", diz ele.
Estados Unidos - A Minamel exportava prioritariamente para a Europa até 2005, teve que se voltar aos EUA com o embargo, mas espera ter os europeus novamente como principais clientes externos até o fim deste ano. A empresa deverá destinar 90% da seus embarques ao bloco, que costuma pagar melhor, mantendo os EUA com a fatia restante. A Minamel tem produção própria de 150 toneladas por ano e compra outras mil toneladas de terceiros. As exportações representam 60% da produção total.
Retomada - Tarciano da Silva, gerente de exportação da Apis Nativa Exportadora, dona da marca Prodapys, e o consultor da Apidouro, José Pellegrinelli, também acreditam na força das compras européias nos próximos meses. Em até um ano querem retomar o desempenho de vendas que tinham naquele mercado entre 2004 e 2005. A Prodapys quer recuperar o volume de 2004, quando embarcou 1 mil toneladas, 95% de suas exportações. A Apidouro, que antes do embargo vendia 100% de sua produção à Europa, agora busca outro equilíbrio: destinará pouco mais de 50% das exportações para a UE, mantendo aos americanos uma boa fatia de vendas. A produção comercializada pela Apidouro é de cerca de 400 toneladas por mês.
Melhor preço - "Vamos continuar vendendo para os americanos, mas se estiverem dispostos a pagar mais pelo produto", afirma Silva, da Prodapys. No início do embargo europeu, diz, os americanos sabiam das dificuldades dos brasileiros e isso prejudicou as negociações de preços. Segundo ele, a Europa paga US$ 200 a mais que os EUA por tonelada de mel, em parte pela valorização que dá ao produto puro e pela diferenciação que faz em relação ao orgânico, que representa parte da produção da Prodapys.
"Blend" - Segundo produtores, os EUA não fazem muita diferenciação entre o mel orgânico e o tradicional. Durante o embargo europeu, alguns produtores chegaram a aceitar, para mercadorias de qualidade superior, os preços americanos para o mel tradicional. Eles explicam que os EUA fazem uma mistura do mel puro com outros de menor qualidade e vendem uma espécie de "blend", enquanto a Europa foca na venda do mel puro.
Mercado europeu - A volta ao robusto mercado europeu faz sentido. Em 2005, Alemanha e Reino Unido responderam por quase a totalidade das exportações do Brasil: foram 13,1 mil das 14,4 mil toneladas exportadas pelo Brasil. Em 2006, já com o embargo da Europa, os EUA ficaram com cerca de 7 mil toneladas, e o Brasil conseguiu praticamente manter o volume total exportado, em 14,6 mil toneladas. Pesou para a manutenção, é verdade, a queda de produção e das exportações argentinas. Em 2007, as exportações brasileiras caíram para 12,9 mil toneladas, mas até junho de 2008 somaram 8,2 mil toneladas, 18,8% a mais que no primeiro semestre de 2007, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Exigências - As três empresas que voltaram a exportar para a Europa cumpriram exigências do Ministério da Agricultura em relação à segurança alimentar. Elas se adequaram, por exemplo, às normas do sistema APPCC (Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle), permitindo a rastreabilidade e o controle da produção. Parte das novas regras já estava sendo adotada, e as empresas informam que também ajudaram alguns apicultores a se enquadrar. Nesse trabalho, alguns grupos chegaram a financiar investimentos em propriedades apícolas em troca de oferta futura. (Valor Online)