AGRICULTURA EUROPÉIA, OMC E OGMs
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Entre a razão, a emoção e a dependência - Para Tanguy, a discussão dos organismos genéticamente modificados deve estar mais voltada às consequências dessa dependência dos agricultores com os fornecedores de sementes do que com os possíveis males causados pelos OGMs. Afirmou, no entanto, que essa é uma opinião particular, como pesquisador da área de genética, lembrando que há um pouco de comoção nas discussões desse fato, onde a sociedade aplaude, por exemplo, a experiência do médico Fischler que, com medicamentos produzidos com a ajuda da genética curou pessoas que viviam em ??bolhas?? por causa da baixa resistência imunológica, mas critica quando se extrai da folha do fumo um susbsituto para a hemoglobina humana. A produção de transgênicos está liberada pela União Européia e a França já homologou algumas variedades de cereais, mas proibiu o plantio por causa de pressões e ações legais que vem sofrendo. No Paraná, para evitar a dependência dos agricultores com as empresas que produzem as sementes de OGMs, a Coodete tomou a iniciativa, obtendo autorização governamental para realizar experimentos.
Os problemas da agricultura francesa ? No fórum, Tanguy falou das dificudades enfrentadas pelos agricultores franceses face às alterações sofridas no mercado globalizado. Até 1980 a agricultura era tutelada pelo governo, quando passou a integrar as políticas para a agricultura coordenadas pela União Européia. A partir daí, face às novas regras, houve queda significativa dos preços agrícolas e consequênte êxodo rural, onde 50% dos agricultores abandonaram a atividade. O problema da queda dos preços agrícolas é resolvido parcialmente através da indenização compensatória, que também é questionada ano a ano, sendo a França o país que mais recebe recursos da UE para compensar seus agricultores. Embora o tamanho médio das propriedades tenha aumentado em função do abandono da atividade por parte dos agricultores, os custos de manutenção se elevaram e a receita diminuiu por causa da constante queda nos preços recebidos.
União para defesa e segurança alimentar ? Na França há cerca de 2 milhões de pessoas vivendo ou trabalhando em 600 mil estabelecimentos agrícolas. O PIB agrícola soma cerca de US$ 30 bilhões e representa apenas 2% do PIB total. Apesar das dificuldades, a França continua sendo o segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas. Em função das dificuldades do setor, a agricultura francesa se uniu na defesa dos seus interesses, montando um poderoso lobby na busca de modificações que permitam uma vida melhor aos agricultores. A multifuncionalidade é a nova palavra que surgiu para identificar a agricultura racional voltada para o meio ambiente, para a segurança alimentar e valorização da vida rural. As organizações agrícolas francesas justificam com a segurança alimentar a defesa a necessidade de proteger o sistema agrícola.
Queda de renda ? O engenheiro agrônomo Alain Tanguy mostrou aos profissionais da assistência técnica das cooperativas que a queda de renda na agricultura não é um privilégio nos países em desenvolvimento. Há diferenças muito grandes de renda entre regiões e, nas mesmas regiões, entre atividades. Na palestra que fez mostrou o exemplo de um agricultor de cereais que, em 100 hectares, tem uma renda anual entre 200 a 250 mil francos (entre US$ 28 a 35 mil). Por outro lado, um criador com 60 vacas de leite recebe apenas 80 mil francos (11 mil dólares).
Exigência do mercado ? Enquanto os agricultores buscam novos nichos de mercado, as empresas também buscam produtos diferenciados para atender aos consumidores. A agricultura racional, que atende às normas voltadas à segurança alimentar e ecológicas, poderia ser uma opção, mas apresenta o dobro do custo da tradicional, enquanto os consumidores não estão dispostos a pagar tanto. A cooperativa Naurícia, por exemplo, recentemente fez um contrato de fornecimento de trigo à Nestle, onde deve cumprir exigências muito rígidas relacionadas com resíduos de produtos utilizados nos tratamentos de pragas e doenças. A companhia está disposta a pagar apenas 15% a mais para receber o trigo com menos no máximo 10 ppb(dez partes por bilhão) de resíduos de metais pesados, micotoxinas e outros produtos utilizados no tratamento. Isso equivale a 1 grama em 50 caminhões de trigo. Para produzir esse trigo, a ser destinado à produção de alimentos infantis, os produtores e a cooperativa se obrigam a seguir uma série de recomendações técnicas, permitindo a completa rastreabilidade do produto.