Safra de verão tem previsão de novo recorde de produção

  • Artigos em destaque na home: Nenhum
A produção da safra de 2002/2003 deve atingir um novo recorde, ficando entre 105 e 110,6 milhões de toneladas, volume entre 8,1% e 13,9% superior à safra 2001/2002, quando foram colhidas 97,1 milhões de toneladas de grãos. A estimativa foi divulgada hoje (23/10) pelo Ministério da Agricultura, que prevê um incremento na área de plantio na ordem de 2,9% a 4,3%, devendo ficar entre 1,17 e 1,73 milhões de hectares. Algumas culturas, no entanto, devem ter sua área e conseqüentemente sua produção reduzida, levando em conta fatores climáticos regionais e também econômicos.

Avaliação Ocepar - Na avaliação do engenheiro agrônomo Nelson Costa, da gerência técnica da Ocepar, os números anunciados refletem a realidade com que o mercado já vinha trabalhando. Apenas com relação a soja, existe a expectativa de um incremento ainda maior do que o número apresentado pelo Ministério da Agricultura, em vista de que poderá haver uma redução maior na área de milho, afetado devido a problemas de ordem climática que estão atrasando o plantio. No Paraná, por exemplo, por conta da estiagem registrada em várias regiões, principalmente no Norte, os produtores estão perdendo a época de plantio de algumas culturas. De acordo com Nelson, por causa da falta de chuvas, o produtor está deixando de plantar milho e optando pela soja.

Coleta de dados - No período de 29 de setembro a 05 de outubro de 2002, os técnicos da Conab viajaram para os municípios produtores das Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul e no estado de Tocantins, onde realizaram entrevistas e aplicaram questionários junto a agrônomos e técnicos de cooperativas, às secretarias de Agricultura, órgãos de assistência técnica e extensão rural (oficiais e privados) e agentes financeiros, visando à realização do primeiro levantamento de intenção de plantio da Safra de Verão 2002/2003. As informações obtidas foram coletadas durante o início das operações de preparo de solo e plantio. A Conab esclarece, no entanto, que as estimativas estão condicionadas ao comportamento do clima durante o ciclo das lavouras.

Soja - A área a ser cultivada com soja cresceu em todas as regiões produtoras, principalmente nas terras em pousio e/ou ocupadas na safra passada com arroz, milho e algodão, e áreas de abertura de fronteira, onde os dois últimos plantios tinham sido com arroz. Estima-se para a soja uma área plantada de 17,5 milhões de hectares, considerando o ponto médio, que é 7,4% superior à da safra passada, quando foram cultivados 16,3 milhões de hectares. O crescimento da soja em todos os estados reflete o bom desempenho da comercialização das últimas safras, especialmente o da safra atual, e também a excelente expectativa para a comercialização em 2002/03

A queda na safra americana em 2002/03, associada ao aumento no volume de comercialização mundial, está provocando redução nos níveis dos estoques mundiais, o que resultou na alta das cotações internacionais, que hoje estão em patamares superiores à média dos últimos três anos. O crescimento no comércio mundial se deve, sobretudo, ao incremento da demanda asiática pelo grão, uma vez que países, como a China, estimularam a instalação de indústrias transformadoras de grão, que estão exportando o farelo para dentro do mercado asiático.

No Brasil, a implantação da Bolsa de Futuro, calcada na cotação FOB Paranaguá, acarretando prêmio para o produto nacional, também está estimulando o plantio da oleaginosa, em detrimento de outros produtos. Basicamente, 70% da soja nacional são destinados ao mercado externo, especialmente para o Europeu.

Milho (1a safra) - O primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra de verão 2002/03 da Região Centro-Sul, realizado pela Conab, aponta uma redução média de área em torno de 2,0%, comparativamente à safra passada. Não obstante, a produção deverá crescer cerca de 5,3%, atingindo um volume médio de 27.990,2 mil toneladas, em decorrência do acréscimo na produtividade, previsto em torno de 7,4%. A maior redução de é na Região Sul, com 4,2% de média, distribuídos da seguinte forma: Paraná, menos 6,5%, Rio Grande do Sul, 4%, e Santa Catarina, 0,5%. Apesar da queda na área, o volume de produção na Região será 7,4% superior, com cerca de 15.584,7 mil toneladas, devido à recuperação de 12% na produtividade.

A 2ª maior queda de área será na Região Centro-Oeste, que registrou –2,6%, destacando-se os Estados de Mato Grosso do Sul, com –6,0% de queda, Mato Grosso, com -3,5%, e Goiás com –1,5%. A produtividade deve crescer 2,9%, acarretando ligeiro aumento de 0,3% na produção, que passará de 3.923,9 para 3.935,05 mil toneladas. Ao contrário das Regiões Sul e Centro-Oeste, a Região Sudeste apresentou crescimento de 2,6% na área, 4,0% na produção e 1,5% na produtividade. O maior aumento será no Estado de Minas Gerais, em torno de 4,6%, ou 4.837,8 mil toneladas, seguido de São Paulo, com 3,5%, ou 3.467,7 mil toneladas.

A área brasileira de milho em 2002/03, considerando apenas a 1ª safra, deverá apresentar queda de 1,4%, passando de 9.439,7 para 9.312,2 mil hectares. Em contrapartida, a produtividade crescerá 9,2%, passando de 3.081 para 3.366, culminando com uma produção de cerca de 31.341,4 mil toneladas, contra as 29.081,1 mil toneladas da safra anterior. Apesar do alto nível dos preços que vigorou, e ainda vigora, nos mercados interno e externo, durante todo o período de comercialização do milho, além da forte demanda por exportações do produto nacional, a concorrência da soja, produto que apresenta grande liquidez, é o principal motivo para a redução na área plantada com milho, na 1ª safra. Associadas à liquidez, que por si só já representa forte atrativo para o seu cultivo, as cotações mundiais e a alta no câmbio colaboram para o aumento da área plantada com a oleaginosa.

Para a safra 2002/03, estima-se que o nível dos preços de milho, no mercado interno, continuará em patamares elevados, uma vez que a oferta interna deverá estar bastante ajustada com a demanda, devendo persistir a demanda internacional por milho brasileiro, favorecendo as exportações. Se os altos preços de comercialização da soja estimulam o plantio na safra de verão, os preços do milho irão estimular o plantio do cereal, na safrinha. Porém, apensar do forte estímulo à produção do milho safrinha, a ocorrência de saca, nos estados produtores de safrinha, está provocando atraso no plantio da safra principal (verão), comprometendo o plantio da safrinha. Dessa forma, para a 2ª safra ou safrinha, em 2003, as projeções apontam um volume da ordem de 6,1 milhões de toneladas, semelhante ao volume produzido na safrinha em 2002.

Trigo - Na safra 2001/2002 estima-se redução de 3,1% na produção de trigo, se comparada com a temporada anterior, passando de 3.194,2 mil t para 3.096,0 mil t. O principal motivo desse desempenho, já que a área cresceu 17,1% no mesmo período, deve-se aos problemas climáticos verificados em todos os Estados produtores, ou seja, estiagem prolongada, geada e às chuvas, no Rio Grande do Sul. Para a próxima safra (2002/2003) projeta-se incremento na área de 12,4%, passando de 2.006,3 mil ha para 2.254,4 mil ha. Se esse resultado se confirmar, a produção de trigo para o próximo ano poderá alcançar 4.500,5 mil toneladas, um aumento de 45,4%. Esse cenário deve-se ao atraso no plantio da soja, devido à escassez de chuvas, que refletirá no atraso ou na impossibilidade de cultivo de milho safrinha, cedendo lugar para o plantio de culturas de inverno. Por outro lado, as cotações elevadas do cereal, tanto no mercado interno como externo, a redução na produção, o aumento no consumo mundial e a elevada taxa cambial, também devem causar estímulo ao plantio no próximo ano, havendo expectativa de aumento das áreas plantadas e da produção em todos os Estados brasileiros, destacando-se a região Centro-Oeste, onde o plantio de trigo irrigado vem crescendo a cada ano.

Quanto à produtividade, espera-se uma significativa elevação nos seus níveis, em torno de 29,4%, caso os problemas climáticos não se repitam no próximo ano, podendo passar de 1.543 kg/ha para 1.995 kg/ha. Nesse particular, chama atenção os esforços que vêm sendo dispendidos pelos órgãos de pesquisas, no sentido de desenvolver variedades mais resistentes aos fatores climáticos e com altos índices de produtividade.

Algodão - O primeiro levantamento de intenção de plantio da safra 2002/2003, realizado pela Conab em toda a Região Centro-Sul, indica redução de área, com intervalo de menos 5,9 a 2,5%. Quanto à região oeste da Bahia, novamente foi verificada tendência de crescimento de área, motivada pelos resultados favoráveis obtidos na comercialização da safra 2001/2002, e principalmente pela estratégia de planejamento adotada pelos produtores, no sentido de aumentar gradualmente a área, a cada ano, até atingir a meta de 120.000 hectares. Outro Estado que apresentou tendência de crescimento foi Mato Grosso do Sul, especificamente a região Norte, onde o algodão é tido como a segunda cultura, e faz rotação de área com a cultura da soja.

Quanto aos outros Estados da Região Nordeste, a Conab repetiu os mesmos números de produtividade e área cultivada na safra passada, uma vez que não houve pesquisa naquelas localidades. A consolidação do quadro, em nível de Brasil, aponta redução de área de 5,9%, no intervalo inferior, e 2,5% no superior, quando comparado ao da safra passada. A superfície a ser plantada ficará em torno de 706,0 a 731,5 mil hectares.

Merecem destaque as reduções de área no Paraná, com intervalo de 25 a 20%, em Minas Gerais e em Mato Grosso, que, ainda assim, continuará na posição de principal produtor, com indicativo de menos 10,0 a 6,0%. Outros Estados importantes produtores, com tendência de redução, embora em menor escala, são Goiás e São Paulo. Vale ressaltar que retração da área a ser cultivada com algodão, na maioria dos Estados, se deve principalmente à cultura da soja, que apresenta vantagens comparativas (menor custo de produção, preços atuais e futuros vantajosos, e comercialização rápida) em que pese à excelente reação dos preços do algodão em pluma, a partir de julho passado.

O aperfeiçoamento do processo produtivo, via utilização de tecnologias modernas, deverá praticamente garantir os mesmos níveis de produtividade obtidos na safra anterior, mas a retração da área ora estimada provocará redução no volume de produção, cujos intervalos inferiores e superiores indicam 771,8 e 802,9 mil toneladas, respectivamente, tendo, como ponto médio, um montante estimado em 787,4 mil toneladas. Em relação à safra passada (quando a produção de pluma totalizou 766,1 mil toneladas), estima-se inicialmente que, em valores absolutos, o País produzirá cerca de 21,3 mil toneladas a mais, em termos percentuais, ou seja, acréscimo aproximado de 2,8%.

O plantio deverá ter início em fins de outubro, em São Paulo, no Paraná e no Sul de Mato Grosso do Sul. Nas demais regiões produtoras, a semeadura ocorre em novembro e nos casos de Goiás e região de Barreiras - BA. O algodão irrigado cultivado no oeste da Bahia é plantado em janeiro. Em Mato Grosso e Região Norte do Mato Grosso do Sul a concentração do plantio ocorre em dezembro.

Feijão (1a safra) - Nesta 1ª safra, ou safra das águas, cultivada na Região Centro-Sul e na Bahia, estima-se, na melhor das hipóteses, um incremento de até 2,1% na área a ser plantada, quando comparada com a safra anterior. Esse aumento foi estimulado pelos preços atrativos do produto no mercado, ao longo do ano em curso, e só não foi maior devido às geadas ocorridas nas Regiões Sul e Sudeste do País, que atingiram o início do cultivo da safra 2002/2003, notadamente nos Estados do Paraná e de São Paulo. Em São Paulo esperava-se um plantio de 96,0 mil ha, nesta safra, 13% acima dos 85,0 mil ha cultivados na safra anterior. Entretanto, o fenômeno climático causou perdas acentuadas nas lavouras de feijão no Sudoeste do Estado, que gera aproximadamente 80% da produção paulista. Há indicações de que parte da área perdida foi ocupada com milho, considerando o menor risco que ele representa, comparativamente ao feijão - plantios de setembro e outubro correm risco de chuvas na colheita.

Segundo a Secretaria de Agricultura – DERAL, no Paraná a área a ser plantada deverá superar em torno de 5% os 309,8 mil ha cultivados anteriormente. Da área semeada, cerca de 68,0 mil ha especialmente nas regiões Sudoeste, Oeste, Centro-Sul e em parte da região Norte, foram comprometidos pelos ventos frios e geadas, quando cerca de 40.000 ha foram replantados. Em face das tipicidades das geadas, fica difícil definir a dimensão das perdas impostas à cultura nos Estados mencionados, uma vez que há expectativa de que boa parte das lavouras afetadas mostrem sinais de recuperação. Porém, a redução na produtividade é certa, e será melhor avaliada numa próxima pesquisa de campo e, de forma definitiva, na colheita.

Como o calendário o calendário agrícola está bastante avançado em muitos municípios do Sul do País, não foi possível replantar com feijão, recaindo a preferência no milho. Naquela Região, o feijão corre sério risco, caso se confirmem as previsões de diversos Institutos de Meteorologia que prevêem a presença do fenômeno El Ninõ no Brasil, com chuvas abundantes no final deste ano, época de intensificação da colheita. Por conta dos problemas climáticos, a produção estimada aponta desde ligeira redução até pequeno aumento em relação à safra passada.

Convém mencionar que, para os Estados da Região Centro-Oeste e da Bahia, os números referentes à área foram mantidos, já que a escassez de chuvas e as altas temperaturas estão dificultando até mesmo o preparo do solo.

Arroz - No primeiro levantamento de intenção de plantio realizado pela CONAB, para a cultura de arroz na safra 2002/03, observa-se:

Área Cultivada - A área cultivada deverá sofrer variação positiva entre 0,1 a 1,8%, em relação à safra 2001/02, passando de 3.238,7 para um intervalo entre 3.243,6 e 3.296,7 mil hectares (Quadro 5 ). Esse incremento se deve principalmente aos bons preços que o setor produtivo vem alcançando nesta companha, nos principais Estados produtores.

Produtividade - Em que pese ao aumento substancial dos insumos, em face da disparada do dólar frente ao real, os produtores rurais, na busca incessante de melhorar o desempenho de suas lavouras, encurtando, por conseguinte, o custo final de produção, deverão investir um pouco mais em tecnologia, neste ano-safra. Com isso, a produtividade média deverá saltar de 3.290 para cerca de 3.417 kg por hectare, o que corresponde a um incremento da ordem de 3,9%. Considerando apenas os Estados da Região Centro-Sul, mais representativos na produção nacional de arroz, o aumento médio na produtividade será da ordem de 2,0%.

Produção - Com os incrementos na área agricultável e no desempenho produtivo, o Brasil deverá colher entre 11.068,4 e 11.279,4 milhões de toneladas de arroz na safra 2002/03, o que corresponde a um aumento entre 3,9 e 5,9%, respectivamente, sobre o volume produzido no ano-safra anterior.

Apesar desse aumento na produção da próxima safra, o abastecimento interno de arroz não deverá sofrer qualquer percalço. Entretanto, considerando o pequeno estoque de passagem, da ordem de 1,2 milhão de toneladas, suficiente para pouco mais de um mês de consumo, o cenário conjuntural aponta um período, sobretudo na entressafra, de preços relativamente altos. Nesse caso, haverão de ser adotadas medidas de intervenção com vistas a evitar aumentos indesejados nos preços, tais como: redução da tarifa de importação (TEC); lançamento de contratos de opção de venda, com preços de exercício estimulantes e capazes de favorecer a recomposição dos estoques reguladores, que vão se configurando como os mais baixos dos últimos cinco anos, com algo em torno de 250 mil toneladas (estoque de passagem).

Conteúdos Relacionados