SAFRA 2006/07 I: Especialista diz que produtor paranaense já pode pensar em rentabilidade

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Se o produtor de grãos do Paraná, favorecido por uma combinação de fatores, tem a chance de espantar a crise e começar a dar a volta por cima já na safra que começa a ser plantada em outubro, o mesmo não se pode dizer dos agricultores de outras regiões do País. Segundo André Pessôa, da consultoria especializada Agroconsult, de São Paulo, que esteve em Maringá recentemente para participar do Encontro Cocamar de Produtores de Soja, a crise que atingiu o setor nos últimos dois anos - marcada por frustração de safras e preços baixos - foi mais branda para quem cultiva a terra nos Estados do Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e parte de Goiás. A situação deverá continuar crítica para os produtores, principalmente, do Mato Grosso (que lidera a produção nacional de soja) e parte do Mato Grosso do Sul, onde o gargalo do endividamento foi bem maior. “Uma parte dos agricultores brasileiros terá perspectivas de rentabilidade, enquanto outra precisará continuar lutando para sobreviver”, diz. Pessôa afirma que para cada hectare (10 mil metros quadrados) de soja no Mato Grosso do Sul, o produtor deve o equivalente a R$ 1 mil e, para cada hectare de algodão, a dívida é de R$ 2 mil. Mesmo com a redução dos custos de produção estimada em 25% para a safra prestes a ser plantada, o frete vai inviabilizar o cultivo de soja naqueles Estados. “Sem levar em conta os riscos da cultura, a certeza é de prejuízo”, garante o especialista.

Andando para trás - Ele acredita que a área cultivada com soja no País, no período 2006/07, ficará em 20,5 milhões de hectares, abaixo dos 22,2 milhões de hectares do ciclo 2005/06 e dos 23,3 milhões alcançados em 2004/05. “Estamos andando para trás”, afirma André Pessôa, estimando uma redução de 7,3% na área cultivada com a oleaginosa. No Mato Grosso, a superfície plantada deverá encolher 13,4%. Segundo ele, os produtores brasileiros vão demorar três ou quatro anos para reparar o estrago das últimas safras e voltar a plantar 23 milhões de hectares. Pelos cálculos do consultor, o País poderá colher no máximo 51,1 milhões de toneladas de soja, volume inferior ao das duas últimas safras de verão (52,8 milhões de toneladas no ano 2005/06 e 51,5 milhões em 2004/05). Se o produtor do Paraná obtiver uma produtividade média de 45 sacas por hectare (o equivalente a 100 sacas por alqueire), média considerada modesta para os padrões regionais, a margem de lucro poderá chegar a 30%, segundo o especialista da Agroconsult, quase a mesma do ciclo 2003/04, que foi de 34%. Para se ter uma idéia do que isto representa, na última safra os sojicultores paranaenses tiveram um lucro negativo de 3%, contra 3% positivos no ano anterior.
 
‘Fundo do poço’ deixará seqüelas - Por ter batido no fundo do poço, em meio a uma crise sem precedentes, a agricultura brasileira enfrentará grandes dificuldades nos próximos anos, segundo o consultor André Pessôa, para quem tal situação comprometerá o crescimento da atividade, pois levará anos para que as dívidas com bancos e fornecedores privados sejam equacionadas. Só com a indústria de fertilizantes, diz ele, a dívida é de R$ 6,1 bilhões. O agricultor terá que conviver, ainda, por tempo indeterminado, com uma política cambial desfavorável. A previsão até o fim do ano – segundo o consultor - é que o dólar permaneça na faixa de R$ 2,20, podendo situar-se, no final de 2007, em R$ 2,40.

Cenário internacional é promissor - A sensação do mercado é que o pior da crise já ficou para trás, mesmo que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) tenha anunciado um número bem maior para a colheita daquele país, projetada anteriormente em 79,7 milhões de toneladas. O volume do principal produtor mundial foi atualizado para 84,1 milhões de toneladas, o que significa safra cheia, resultado do comportamento favorável do clima durante a fase de desenvolvimento das lavouras. O mercado também leva em conta que a Argentina, terceiro maior produtor (o Brasil é o 2°), deverá plantar 16 milhões de hectares, para uma expectativa de produção de 41,9 milhões de toneladas. A área é recorde, registrando avanço sobre os 15,6 milhões de hectares do ciclo 2005/06 e os 14,7 milhões de hectares da safra 2004/05.

Oferta em baixa - Somando a previsão de 51,1 milhões de toneladas da próxima safra brasileira, o panorama mundial aponta, mesmo assim, para o segundo ano consecutivo de consumo maior que a oferta. Na safra 2006/07, de acordo com André Pessôa, o estoque mundial de soja estará no nível mais baixo em dez anos, com índice de 16% na relação estoque/uso, contra 21% do período 2005/06 e 24% do ciclo 2004/05. Segundo ele, isto permite projetar uma mudança no cenário internacional da soja a partir do segundo semestre de 2007, com indicativos de preços mais atraentes para o produtor. Isto porque os Estados Unidos tendem a diminuir a área cultivada com soja no próximo ano, abrindo mais espaço para o milho – cujo plantio, destinado à produção de etanol, é financeiramente mais interessante para o agricultor. As projeções são feitas sem levar em conta possíveis frustrações das safras brasileira e argentina em razão de problemas climáticos e ataque de doenças como a ferrugem, a exemplo do que se viu nos últimos anos. (Imprensa Cocamar)

Conteúdos Relacionados