Ponto de vista: Paraná: 10 anos sem febre aftosa

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Nesse mês de abril, o Paraná está completando dez anos sem registrar ocorrência de febre aftosa em seus rebanhos. Uma data que merece as devidas comemorações. Ainda mais para nós, da SEAB, que lutamos ativamente para o combate dessa doença, até atingirmos esse momento de relativa tranqüilidade que ora vivemos. Já vão longe as décadas de 70 e 80, épocas em que a febre aftosa era enfrentada no dia-a-dia, e que era muito difícil permanecer alguns meses sem focos de febre aftosa, quanto mais um ano inteiro. Mas com a melhora das estruturas do serviço de defesa sanitária animal, com o avanço tecnológico na produção de melhores vacinas, e com a participação dos criadores, conseguimos avançar no combate da aftosa. Na década de 90 reduziram-se os focos, até termos, em abril de 1995, o último registro de febre aftosa em nosso Estado. É importante relembrarmos essa luta para valorizarmos o período atual e, principalmente, refletirmos sobre a importância de não sermos novamente acometidos.

A ausência de febre aftosa permitiu que, em maio de 2000, o Estado do Paraná fosse internacionalmente reconhecido pela OIE - Organização Mundial de Saúde Animal como área livre de febre aftosa com vacinação. Outra data memorável para a agropecuária do Paraná. A partir daí, o Paraná aumentou muito suas exportações de carnes. De 1999 a 2004, a receita da exportação da carne bovina aumentou mais de 230 % (de U$ 30,6 milhões para U$ 101,5 milhões) ; as exportações de carne suína cresceram mais de 700% (de 11, 9 milhões para U$ 101 ,4 milhões ) e a de carne de aves saltou de U$ 262 milhões para U$ 728 milhões, um acréscimo de 177 %.Também as exportações brasileiras de carnes têm sido crescente nos últimos anos. Em 2004 o Brasil se consolidou como o maior exportador de carne bovina do mundo, em volume de exportação, passando a exportar para mais de 140 países. O Brasil possui a maior zona livre de febre aftosa do mundo, com 15 estados e o DF, com mais de 160 milhões de cabeças de bovinos e praticamente todo o rebanho comercial de suínos. Ainda assim, estamos fora dos principais mercados importadores de carne bovina in natura, como EUA, Canadá, México, Japão, Coréia do Sul e Taiwan, justamente por causa da febre aftosa. Isso porque os EUA e os países asiáticos não têm aceitado a regionalização para febre aftosa, estabelecida pela própria OI (só reconhecem um país inteiro livre, e não zonas do país). Temos tudo para crescer muito mais. Por isso, conquistar o reconhecimento de zona livre de febre aftosa para todo o território brasileiro é essencial para ampliação de novos mercados.

Fica evidente, portanto, que um único caso de febre aftosa, principalmente na zona livre, pode ter um impacto devastador nas exportações de carnes. Basta ver a repercussão que teve a ocorrência de febre aftosa no estado do Pará, em 2004. Mesmo localizado em zona infectada (fora da zona livre) e há mais de 700 km da zona livre, esta ocorrência acabou prejudicando as nossas exportações de carnes. A Rússia, injustamente e desprovida de qualquer caráter técnico, chegou a cancelar a importação de carne suína da Região Sul do Brasil, inclusive do Paraná, localizado à cerca de 5 mil km de distância do foco.

O Brasil tem tudo para se tomar o grande fornecedor de carne bovina para o mundo, devido aos grandes rebanhos, clima, solo, genética e tecnologia que dispõem, onde é possível produzir boi a pasto (boi verde), ou confinado, com grande competitividade, podendo atender aos mais diversos mercados.Portanto, tão importante quanto ser área livre de febre aftosa, é manter-se livre por longo período de tempo ou, melhor ainda, para sempre. Será um desafio permanente, a ser enfrentado pelo estado e por cada produtor. A participação de todos é fundamental. E as ameaças são constantes. Basta ver a incidência de febre aftosa no Rio Grande Sul, Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia, ocorridas do ano 2000 para cá, demonstrando claramente a presença do vírus da febre aftosa ao nosso redor. Portanto, todo cuidado é pouco.

E, no momento atual, para nos manter livre, precisamos ter uma vigilância sanitária permanente, com atendimento emergencial a qualquer suspeita de febre aftosa e ter rigoroso controle no trânsito de animais, daí a necessidade dos produtores retirarem -a GTA (Guia de trânsito Animal) para qualquer transporte de animais, mesmo dentro de seu próprio município. E é fundamental continuar vacinando. A vacinação é a maneira mais eficiente, e de menor custo, para prevenir contra a aftosa. No dia 01 de maio iniciamos uma nova campanha de vacinação, que vai até o dia 20 de maio, onde esperamos que cada produtor faça a sua parte, vacine todos seus bovinos e bubalinos, de qualquer idade, e assim ajude a manter o Paraná e o Brasil livre da febre aftosa. A Secretaria de Estado da Agricultura, a nossa SEAB, está nessa luta junto com cada produtor para que estes sejam apenas os 10 primeiros anos sem febre aftosa.A conquista dos 10 anos sem febre aftosa é um grande marco histórico na área da sanidade, esta é a percepção das 35 Entidades que integram o Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária - Conesa.

É importante lembrar a luta árdua levada a efeito por essas entidades que representam a iniciativa privada e a área Governamental.Imperativo reconhecer a importância do Fundepec-PR neste contexto na condição de ter mobilizado milhares de produtores para contribuir no lastreamento do fundo de saúde animal o que possibilitou alavancar a segurança sanitária dos rebanhos numa eventual ocorrência da doença.A ação decisiva e proativa das Federações, Sindicatos, Cooperativas, Associações de Produtores, Sociedades Rurais e muitas outras Entidades Públicas e Privadas e dos 161 Conselhos Intermunicipais e Municipais de Sanidade Agropecuária espalhados por todo o Paraná que somaram seus esforços é que resultou no reconhecimento do Paraná como área livre de febre aftosa que pratica a vacinação.

Ressaltar a importância de 10 anos sem ocorrência de febre aftosa significa fortalecer essas mesmas parcerias para alicerçar, como é o desejo de todos, um século livre da febre aftosa.

ORLANDO PESSUTI
Secretário de Estado da Agricultura
Vice-governador do Paraná e
Presidente do Conesa

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