OPINIÃO: Milho ou soja: o que e quanto plantar?

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(*) Eugenio Stefanelo

O inicio do período de plantio da safra de verão 2007/08 neste mês motiva perguntas sobre o que e quanto plantar destas duas culturas, que representam entre 80% a 85% do total da safra brasileira de grãos. O objetivo deste artigo é contribuir para as respostas.

Milho

A produção mundial nesta safra 07/08 está estimada em 771,5 milhões de toneladas, registrando crescimento de 10,5% em relação à anterior. Tal desempenho se deve basicamente ao aumento de 17,5% na produção americana (estimada em 331,6 milhões de toneladas), sul-africana (10,5 milhões de toneladas ou 61,5%), argentina (24 milhões de toneladas ou 6,7%), chinesa (148 milhões de toneladas ou 2,1%) e brasileira (mantida pelo USDA em 50 milhões de toneladas); além da queda de 12,2% na produção européia, para 48,4 milhões de toneladas. A área cultivada com a gramínea no mundo aumentou 7% em 2007/08 em relação a 2006/07.

O consumo mundial em 2007/08 aumenta 6,2% em relação a 2006/07, atingindo 769,5 milhões de toneladas. Este aumento decorre do crescimento do consumo americano em 32 milhões de toneladas, devido à destinação de 81 milhões de toneladas para a fabricação de etanol, e também pelo maior uso sob a forma de ração animal e na alimentação humana nos demais paises (12,5 milhões de toneladas).

A relação estoque consumo total mundial em 2007/08 e 2006/07 fica entre 13% a 14%, as menores dos últimos trinta anos.

A perspectiva de baixo estoque, somada à recente ampliação da demanda por importações pela Europa, em função da seca que afetou a produção, provocou elevação na cotação internacional do grão do patamar de U$ 2,0 a 2,7/bushel para U$ 3,2 a U$ 4,4/bushel, a partir de outubro de 2006.

A perspectiva de nova elevação da área cultivada nos EUA para a safra 2008/09 é limitada. Primeiro pelo aumento observado nos preços da soja, o que gera menor margem de transferência de área de uma cultura para outra, como ocorreu na safra atual (mais 20,9% no milho e menos 15,2% na soja). Segundo pelo maior custo de produção do milho comparativamente à soja e terceiro, porque os 34,6 milhões de hectares plantados em 07/08 já são a maior extensão cultivada desde a segunda guerra mundial.

Pelo lado da demanda americana, o volume de grãos destinados à produção de etanol deverá passar de mais de 80 para algo próximo a 100 milhões de toneladas em 2008, o que reduz a disponibilidade do produto para exportação ou impossibilita a recuperação dos estoques. Registra-se que aquele país é o maior produtor e exportador mundial, colocando no mercado internacional entre 53 a 55 milhões de toneladas, anualmente.

No Brasil, na safra 2006/07 ainda em curso, pois estamos em processo final de colheita do segundo plantio, a produção está estimada em 50,6 milhões de toneladas. Esta disponibilidade atende ao consumo interno de 40 milhões de toneladas e ao aumento significativo da exportação, de 3,9 milhões de toneladas em 2006 para 10 a 11milhões de toneladas em 2007, mantendo-se o estoque de passagem entre 5 a 6 milhões de toneladas.

Para o próximo período 2007/08, o balanço de uso indica uma elevação do consumo interno para aproximadamente 41,5 milhões de toneladas, em função da expansão da avicultura, suinocultura e da pecuária leiteira. Caso a exportação se mantenha em 10 milhões de toneladas, a disponibilidade necessária do grão atinge 51,5 milhões de toneladas, 2% maior do que a produção da presente safra.

Pelo exposto, o balanço de oferta e demanda mundial e brasileiro sinaliza a maior probabilidade de manutenção das cotações nos patamares entre U$ 3 a 4/bushel.

O balanço de pagamentos brasileiro tende a manter-se superavitário neste e no próximo ano, indicando baixa probabilidade de aumento da taxa de câmbio para níveis superiores a R$ 2,00 por dólar. Mesmo assim, em condições normais de produtividade, a rentabilidade dos produtores tende a ser positiva, considerando o custo operacional de R$ 15, 00 a R$ 17,00 a saca e a despesa com a logística de escoamento para o mercado interno ou externo.

Soja

A produção mundial da oleaginosa reduz 6,1% na safra 2007/08 em relação à anterior, para 221,6 milhões de toneladas. Isto se deve à redução da safra americana para 71,5 milhões de toneladas (menos 18%), apesar do aumento de 2% na produção sul-americana, para 117,1 milhões de toneladas.

Em igual período o consumo total do grão aumenta 4,3%, em função do aumento do uso do farelo na alimentação animal e da demanda de óleo na alimentação humana.

A relação estoque/consumo mundial total reduz de 28,8% em 2006/07 para 22,1% em 2007/08.

Este quadro provocou o aumento das cotações do grão na CBOT, da média histórica de U$ 6/bushel, com variação entre U$ 5,0 a 7,4/bushel em 2005 e 2006, para U$ 6,5 a 9,5/bushel em 2007, registrando aumento de 58% em 12 meses.

As primeiras indicações sobre o comportamento dos produtores americanos para a safra 2008/09 revelam que o aumento do preço internacional do grão influenciará positivamente na expectativa de plantio, não devendo ocorrer novamente significativa transferência de área da soja para o milho. Ao contrário, a relação preço elevado e menor custo por hectare da soja não descarta uma reversão parcial da transferência ocorrida em 2007/08.

O balanço de oferta e demanda brasileiro do grão, em 2006/07, evidencia que da produção de 58,4 milhões de toneladas 32,1 milhões serão esmagadas internamente e 26,3 milhões exportadas.

Para a safra 2007/08 a área cultivada com a leguminosa deverá aumentar, no Brasil e na América do Sul, viabilizando uma produção brasileira, em condições normais de clima, entre 61 a 63 milhões de toneladas, que serão absorvidas normalmente pelo uso entre esmagamento e exportação.

Mesmo com a recuperação da produção mundial, o aumento da demanda manterá as cotações do grão em patamares superiores a U$ 8/bushel. Se ocorrer uma frustração devido ao clima, os preços podem superar o pico alcançado em 2004, superando U$ 10/bushel. Considerando a taxa de câmbio anteriormente citada, as despesas com logística de escoamento e o custo operacional em torno de R$ 22 a 26,00 a saca, a rentabilidade positiva aos produtores está assegurada.

Conclusão 

O cenário descrito indica uma oportunidade de lucro para os produtores que cultivarem as duas culturas, mesmo com expansão da área (em torno de 3% no milho e acima de 5% na soja) e da produção.

O aumento da produção 2008/09 no Sul e Sudeste do país apresenta uma limitação adicional, pela vigência do fenômeno climático la niña neste ano, que torna as chuvas irregulares geograficamente, mal distribuídas no tempo e com tendência a ficarem abaixo da média, afetando negativamente o potencial produtivo das culturas e positivamente os preços de mercado.

Apesar da incerteza climática, a melhor estratégia para os produtores seria usar todo o potencial de área cultivada das propriedades com as duas culturas, respeitando o sistema de rotação ditado pela tecnologia, escalonando as épocas de plantio, usando as melhores tecnologias em sementes, adubação, combate as invasoras, pragas e doenças e realizando os tratos culturais recomendados.

A soja apresenta inegavelmente maior liquidez na comercialização e cadeias produtivas e sistemas de comercialização mais organizados. No entanto o milho, a partir dos anos recentes, não pode ser encarado apenas como produto de mercado interno, esquecendo-se do potencial exportador aberto pelas cooperativas a partir de 2001 e pelo uso do grão na produção de etanol nos Estados Unidos a partir de 2005.

Seria também recomendável a venda antecipada de parcela da futura produção 2008/09, mediante contratos a termo ou operações de hedging em bolsa, pois os preços atuais são considerados elevados em relação às médias históricas.

Por fim, muitos produtores apresentam passivos decorrentes de frustrações de safras passadas e das recentes 2004 e 2005, além da ocorrência de preços baixos comparativamente aos custos médios de produção. A mudança de conjuntura de mercado dos dois produtos não justifica e nem recomenda a retomada dos investimentos em ampliação, de maneira pouco planejada, como ocorreu entre 2002 a 2004. Pé no chão, pagamento dos passivos repactuados ou não, formação de capital de giro próprio e olho no mercado futuro são as melhores alternativas. 

(*) Professor da UFPR e da UNIFAE e técnico da CONAB

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