OPINIÃO

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Cooperativismo, a única saída.

Luiz Lourenço (*)

Os últimos acontecimentos envolvendo o fechamento de várias cerealistas na região e o sumiço repentino de comerciantes revelam, mais uma vez, que os produtores rurais não devem se iludir com "milagres" no mercado agrícola, ou seja, preços completamente fora da realidade.

Os "milagres", pelo menos neste setor, são matematicamente impossíveis. Quando o produtor se deparar com uma situação dessas, deve abrir bem os olhos e colocar um pé atrás. E lembrar-se que na última safra, centenas de colegas seus acabaram lesados: eles dormiram sonhando com os lucros que lhes haviam sido prometidos e despertaram assustados diante do terrível pesadelo em que se encontravam metidos.

Imagine alguém planejar um ano de trabalho, pegar dinheiro no banco, preparar a terra, investir em insumos, fazer a semeadura, correr uma série de riscos climáticos, contar com a ajuda de São Pedro, colher uma excelente safra e... entregar tudo nas mãos de quem lhe atraiu acenando com alguns tostões a mais e, no frigir dos ovos, desapareceu sorrateiramente na calada da noite, causando um enorme prejuízo.

Um agricultor que leva um tombo desses fica mal diante da família, da comunidade e de si próprio. Dependendo, pode acabar inviabilizando sua atividade. Sem falar que está contribuindo para enfraquecer um sistema que existe para garantir-lhe não apenas preço justo e segurança, como bem estar e crescimento profissional: o cooperativismo.

As cooperativas com as quais o produtor lida há muitos anos e estão ao seu lado o tempo todo, precisam ser reconhecidas por ele, definitivamente, como o grande instrumento de apoio e desenvolvimento ao seu negócio. Em primeiro lugar, porque a simples presença de uma cooperativa é o suficiente para regular os preços do mercado de produtos e insumos agropecuários onde se encontra. Elas asseguram, de um lado, remuneração justa para os gêneros do campo, que reflete a realidade das cotações no País e no mundo, sem riscos de aviltamento. De outro, estabelecem referenciais de preços para os insumos, protegendo os agricultores da ação de exploradores.

Como disse o presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Roberto Rodrigues, em recente palestra na Cocamar, o sistema cooperativista é o único em condições de enfrentar e neutralizar os efeitos danosos e cruéis do processo de globalização dos mercados. Enquanto este, capitaneado por nações ricas e dominadoras, é caracterizado pela fusão de grandes companhias que buscam exclusivamente o lucro a qualquer preço, gerando exclusão social e concentração de renda, o cooperativismo caminha em via contrária. Ele integra fortes e fracos, grandes e pequenos e desenvolve um valioso trabalho que lhes asseguram satisfação e perspectivas de futuro. Por isso os produtores precisam ter a consciência de contribuir para fortalecer cada vez suas cooperativas, especialmente neste início de século, em que as incertezas são tantas.

As cooperativas, ao contrário das empresas multinacionais que atuam no mesmo segmento, têm compromisso especialmente com os pequenos e médios agricultores, que são o seu principal foco. A eles são canalizados investimentos em treinamentos e transferência de tecnologia, por exemplo, coisas em relação às quais as grandes companhias estrangeiras não têm responsabilidade alguma. A essas corporações interessa somente os negócios de grande monta, nunca os pequenos. Quando os fartos lucros escasseiam, elas simplesmente vão embora e a história da região demonstra esta verdade. Nas últimas décadas, praticamente todas as grandes organizações que operavam com agricultores, adquirindo-lhes a produção, desativaram suas unidades locais. E quando essas empresas se vão, acabam-se os atravessadores - e também a transferência de dinheiro da região para outros cantos do planeta.

Durante as duas últimas décadas, em que o Brasil passou por um período dos mais turbulentos de sua história e os governos relegaram a agricultura a um plano secundário, os produtores somente continuaram em suas atividades porque puderam contar com o apoio do cooperativismo. O sistema, não raro, assumiu as funções do próprio governo ao agilizar mecanismos próprios de financiamento. Não fosse por isso, muitos simplesmente nem teriam como plantar.

Os agricultores, portanto, precisam ser recíprocos com suas entidades. E entender que não há razão em continuar acreditando em "milagres" de boca-de-safra.

Sinceramente: numa época de tanta informação e necessidade de se trabalhar de maneira planejada e racional, escapa ao entendimento que muitos tenham se deixado ludibriar. Alguns chegaram mesmo a se desfazer de suas poupanças e propriedades de olho na alta rentabilidade prometida.

É preciso estar alerta e agir com bom senso e lucidez para, pelo menos, proteger o patrimônio. Espertalhões, afinal, nunca vão faltar, principalmente na hora da colheita.

(*) Presidente da Cocamar

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