MEIO AMBIENTE III: Ciclo de debates do FEED 2010 termina nesta terça

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O Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010) encerra nesta terça-feira (30/03) um amplo ciclo de debates sobre a relação entre as mudanças climáticas e a atividade agropecuária. O evento é uma iniciativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e está sendo realizado no World Trade Center Convention, em São Paulo.

Convidados - Pela manhã, o ex-ministro Delfim Netto realizou palestra sobre "Mudanças climáticas e seus impactos na economia dos países.  Depois, um painel abordou "Os efeitos do aquecimento global sobre o agronegócio brasileiro, com André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacional (ICONE); e Eduardo Assad, que foi secretário-executivo do Programa de Recursos Naturais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Cerrados. A partir das 14h30, o ex-ministro da agricultura Allysson Paulinelli fala sobre "Agropecuária e meio ambiente: convergências e conflitos".

Participação - O assessor da Gerência Técnica e Econômica da Ocepar, Gilson Martins, está acompanhando os debates do FEED 2010. De acordo com ele, o autor do livro "O Ambientalista Cético" e professor-adjunto da Copenhagen Business School, Bjorn Lomborg, que falou no começo da manhã desta segunda-feira (29/03) sobre "O conflito Político e Científico sobre o Aquecimento Global" deixou como mensagem principal a necessidade dos recursos investidos no combate à emissão dos gases com efeito estufa serem melhor utilizados para resolver efetivamente o problema. "Cada dólar investido com esse objetivo gera benefício de apenas 4 centavos na solução do problema. No caso do Brasil, o palestrante disse que as discussões sobre mudanças climáticas não deveriam impedir o crescimento do país", afirmou Gilson. Ainda de acordo com ele, Bjorm

defende o investimento em infraestrutura como uma das estratégias para a prevenir os efeitos do aquecimento global nas cidades. "Com investimentos em cidades climaticamente mais agradáveis, como por exemplo, o aumento de áreas verdes, os efeitos para a melhoria de qualidade de vida seria maior do que pela redução de emissões de carbono", disse o professor.

Aquecimento global e atividades humanas - Na seqüência, Patrick Michaels, membro sênior de estudos ambientais do Cato Institute participou de um painel sobre "A relação entre aquecimento global e as atividades humanas".  De acordo com o assessor da Ocepar, o palestrante apresentou críticas com relação às previsões de aquecimento global apresentadas pelo IPCC que, em na avaliação de Michaels, teria falhas muito graves. Sobre as emissões dos EUA, o palestrante disse que as emissões de gases de efeito estufa diminuíram consideravelmente no período entre 2005 e 2009. "Já sobre os custos envolvidos no protocolo de Kyoto, o Michaels afirmou que é impossível estimá-los, uma vez que não se sabe como reduzir as emissões conforme previsto no protocolo", informou Gilson. De acordo com ele, o palestrante também tratou da questão de emissão de metano. "A pecuária não é o vilão do aquecimento global, conforme costuma-se falar. 18% do gado consumido no mundo é produzido no Brasil. Essa carne é responsável pela alimentação de cerca de 300 milhões de pessoas", disse Michaels.

Matriz energética - Outro participante do painel "A relação entre o aquecimento global e as Atividades Humanas" foi o secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa. "Para o palestrante, a pergunta a ser feita não é o quanto se tem de mudanças climáticas, mas sim, como as emissões podem ser evitadas", informou Gilson. Sobre as críticas de que as previsões do IPCC estejam equivocadas, afirmou que a ciência não oferece verdade absoluta. A elevação de emissões no mundo deve-se aos seguintes fatores: 145% energia; 120%             transportes; 65% indústria; 40% mudança de uso do solo e desmatamentos. Pinguelli afirmou  que 80% da energia consumida no mundo tem origem fóssil. De 1970 a 2004, as emissões globais aumentaram em 70%, principalmente advinda de CO2. O Brasil teria uma matriz energética "limpa", mas ainda usa somente 30% de seu verdadeiro potencial. Comparativamente à cana- de-açúcar, a produção de etanol de milho emite muito ais  CO2. Para o especialista, o  Brasil está muito atrasado na produção de etanol de segunda geração. A Coppe, dirigida pelo professor, faz pesquisas de ponta com diversas tecnologias de baixa emissão de carbono. Pinguelli concluiu dizendo que está errada a ideia de que a pecuária é um vilão das emissões, uma vez que os automóveis tem uma emissão muito superior.

Agronegócio - Já o professor Marcelo Valadares Galdos, da Universidade de São Paulo (USP), falou no FEED 2010 sobre o agronegócio e as ações de mitigação do aquecimento global. Em sua avaliação, o desmatamento é a principal fonte de gases de efeito estufa, sendo que a agricultura emite, mas também absorve  carbono. Afirmou também que a sociedade de baixo carbono não é somente voltada ao mercado de carbono, mas também ao desenvolvimento de processos e tecnologias que possibilitem ganhos de competitividade e sustentabilidade. Para ele, uma tendência atual é a perspectiva de cálculo de pegada de carbono e do ciclo de vida do produto. Nesse sentido, o conceito de cadeia produtiva tem grande importância, no entendimento do palestrante.  Valdos disse que há consenso de que o etanol feito de cana de açúcar é alternativa mais sustentável do que outros modelos. Em especial, há um ganho enorme em sustentabilidade através da colheita mecânica pois isso possibilita uma maior fixação de carbono no solo e também maior aproveitamento energético das sobras. Atualmente já 17% do biodiesel produzido no Brasil já advém do sebo bovino. Isso deveria ser contabilizado na redução de emissões da agropecuária na opinião do professor.

Sustentabilidade - "A sustentabilidade da agricultura e da pecuária deve ser um fator decisivo para acesso aos mercados no futuro", defendeu. Sobre a emissão de gases de efeito estufa, o palestrante foi questionado se o foco insistente "porteira para dentro" não é exagerado e injusto. Segundo ele, no entanto, de fato, as maiores emissões estão na atividade agrícola através do uso inadequado de técnicas e insumos. A agricultura brasileira tem pontos também muito positivos, como é o caso do plantio direto, que ajuda a fixar o carbono no solo, afirmou. (Com informações da CNA)

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