EXPEDIÇÃO SAFRA I: Da esperança à preocupação

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O verão úmido que antes inspirava esperança e projeções de safra cheia virou motivo de preocupação no Paraná. Sob chuvas quase ininterruptas desde o início do ciclo, os agricultores tentam aproveitar qualquer abertura de sol para colocar as máquinas no campo e avançar com o plantio de ve­­rão, que segue atrasado no estado. Os produtores entrevistados nas duas últimas semanas pela Expe­dição Safra da Rede Para­na­ense de Comunicação (RPC) afirmam que o atraso ainda não compromete o potencial produtivo da safra, mas dizem estar preocupados com o comportamento do clima.

Previsões - As previsões mais recentes indicam que as chuvas devem continuar castigando o Paraná nos próximos meses e alguns modelos apontam para a possibilidade de veranico no final do ano, combinação que pode comprometer novamente os resultados da safra. Mas, por ora, a apreensão maior é mesmo com a umidade.

Máquinas recolhidas - Fabio Becker, de Brasilândia do Sul, no Noroeste do estado, conta que mesmo com aberturas de sol entre uma pancada de chuva e outra, as máquinas permanecem nos galpões. Marcos Medola, sócio de Becker, diz que somente nos últimos 15 dias a região teve quatro ou cinco dias de chuvas pesadas. "Chegou a chover 140 milímetros numa noite só", lembra.

À frente - Ainda que atrasado, o plantio da soja na propriedade de Becker está à frente do registrado na região. No Noroeste do Paraná, apenas 5% da área prevista para a oleaginosa foi implementada até agora. O normal para esta época do ano seria um índice em torno de 40%, relata o economista Ático Ferreira, técnico da Secretaria Es­­tadual da Agricultura e Abas­tecimento (Seab) em Umuarama.

Estado - A situação se repete por todo o estado. No Sudoeste, por exemplo, as lavouras de trigo estão prontas para serem colhidas, mas o solo encharcado dificulta a colheita da safra de inverno e, por conseqüência, atrasa o plantio de verão. "Com toda essa chuva, de nada adianta ter duas ou três máquinas, pois elas ficam paradas no galpão. Já era para ter soja no campo, mas não consigo terminar de colher o trigo", reclama o produtor Roberto Hasse, de Pato Branco. As lavouras de milho já foram implementadas nos 41 hectares destinados à cultura neste ano. No caso do cereal, a umidade é favorável o desenvolvimento das plantas.

Cascavel - Em Cascavel, no Oeste do Paraná, o produtor Darci Fracaro até tentou, mas mesmo com o sol não conseguiu retomar o plantio da soja, iniciado em meados de outubro. "Ainda tem muita umidade no solo. Não dá para entrar com a máquina", diz o filho Jean Carlo Baggio Fracaro. Engenheiro agrônomo, Jean é o responsável por todo o planejamento da safra na propriedade dos Fracaro. Ele explica que a eclosão das plantas pode ser prejudicada se as sementes forem depositadas no solo excessivamente úmido e cair uma chuva logo em seguida. Além disso, colocar a máquina no campo nessas condições aumentaria a compactação o solo, o que, no longo prazo, pode comprometer a produtividade da safra.

Pausa - Com o plantio de milho encerrado há mais de 15 dias, o produtor Klaus Ferder, de Guarapuava, nos Campos Gerais, espera uma pausa nas chuvas para começar a colheita do trigo e, em seguida, dar início ao plantio da soja. A safra de inverno, semeada com cerca de 20 dias de atraso por causa do excesso de umidade em julho, só deve começar a ser colhida na segunda quinzena de novembro na região.

Três semanas de atraso no Sul e de vantagem no Sudeste - Numa época em que todo o milho já estaria plantado, o produtor Artur Sawatzky, de Palmeira, ainda está preparando a lavoura. Com o excesso de umidade, é preciso esperar o sol para aplicar dessecante e depois percorrer os campos com as plantadeiras, que passaram as últimas semanas nos barracões. São 370 hectares de plantio, tarefa que pode atravessar novembro se o tempo não ajudar. Para colocar o serviço em dia, só com três ou quatro semanas de sol, relata.

Contrário - A situação é exatamente oposta entre produtores do Norte e do Norteste de São Paulo, no Sudeste do país. Antônio Ortigoro, de Guaíra (Nordeste paulista), começou com três semanas de antecedência a semear milho e soja em 720 hectares. Os 10% dedicados ao cereal já foram cobertos de sementes. As máquinas avançam no plantio da oleaginosa, que normalmente nem teria começado. "A chuva chegou antes e, plantando mais cedo, temos chance de colher mais", relata.

Garoa - Ortigoro simplesmente desligou as bombas da parte irrigada de suas terras, às margens do Rio Sapucaí. Para aproveitar a chuva, planta mesmo sob garoa. Para isso, mantém o caminhão de sementes coberto com lona, no meio da lavoura. Se não chove forte, os tratores que puxam as plantadeiras só param na hora de receber diesel e sementes. "O milho já está pronto, só falta a soja", afirma Júlio César Pereira, de Uberlândia (MG). Sua família planta 3,4 mil hectares com as duas culturas e este ano espera produtividade acima da média, justamente por causa das chuvas, que chegaram antes do previsto. "Em 2007, começamos a plantar em 28 de outubro e, no ano passado, dia 15 (do mesmo mês)." (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)

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