ESTRATÉGIA HOLANDESA: Cooperativas aceleram industrialização

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As cooperativas da Região dos Campos Gerais e do Norte Pioneiro, criadas por descendentes holandeses, aceleram investimentos em indústrias para agregar valor a seus produtos. Nos últimos quatro anos, duas usinas de leite avaliadas em R$ 155 milhões foram abertas pela Castrolanda e Batavo. Agora, as duas cooperativas se unem à cooperativa Capal e confirmam mais dois investimentos: um moinho de trigo no valor de R$ 30 milhões e um frigorífico de suínos orçado em R$ 100 milhões. Juntos, os quatro empreendimentos somam R$ 285 milhões e prometem reforçar o faturamento das três empresas, que em 2011 chegou a R$ 2,6 bilhões.


Em operação - A Unidade de Beneficiamento de Leite (UBL) da Castrolanda, em Castro, entrou em operação em 2008 e custou R$ 95 milhões. Em setembro do ano passado, a Batavo abriu em Ponta Grossa a Frísia – uma usina de beneficiamento de leite avaliada em R$ 60 milhões. Hoje, as duas cooperativas trabalham em conjunto. Seguindo o mesmo modelo de intercooperação, a Batavo estuda com a Castrolanda e a Capal a instalação de um moinho de trigo com capacidade para processar 120 mil toneladas do cereal.


Detalhes - O frigorífico de suínos foi anunciado no início deste mês, porém, as cooperativas ainda acertam alguns detalhes, como o local de instalação. O empreendimento, que é o mais caro dos mais recentes projetos, vai ser dividido em duas fases: na primeira etapa, serão investidos R$ 80 milhões na construção de um frigorífico que vai abater 2,3 mil animais por dia e gerar 600 empregos diretos; na segunda fase, mais R$ 20 milhões serão aplicados na ampliação da unidade para garantir o abate de quase 5 mil animais diariamente, com a consequente geração de 400 empregos. 


Logística - A escolha da cidade que irá receber o frigorífico vai considerar as condições logísticas e a área disponível, que deve ser de 40 hectares. As cooperativas querem começar a obra no primeiro semestre deste ano para colocar o frigorífico em operação em 2013. A participação dos cooperados ainda está sendo estudada. O projeto prevê o abate de suínos para cortes especiais e embutidos para atender ao mercado regional e até o internacional. 


Intercooperação - O processo de intercooperação, visando a industrialização de produtos vindos das terras dos cooperados, é recente, considerando a história das cooperativas. Até a década de 90, alguns produtos da agropecuária da região eram industrializados, mas as marcas foram vendidas para a Parmalat, que posteriormente passou para o controle da Perdigão e, em 2009, para a Brasil Foods. Desde então, Batavo, Castrolanda e Capal dedicavam-se a produtos primários.


Efeito multiplicador - Parte dos empreendimentos mais recentes usa financiamentos, porém, a maior parte dos investimentos conta com recursos das receitas geradas pelas cooperativas e têm efeito multiplicador. As unidades de beneficiamento de leite estão permitido que Batavo e Castrolanda passem para o seleto grupo de cooperativas do Paraná que faturam mais de R$ 1 bilhão por ano.


Produtores tradicionais - Os Campos Gerais são tradicionais produtores de suínos. Constituem um dos principais polos produtivos do Paraná. Cinco municípios que se dedicam à suinocultura e estarão próximos ao novo frigorífico – Arapoti, Castro, Carambeí, além de Palmeira e Piraí do Sul – criam cerca de 490 mil animais. O plantel corresponde ao do município de Toledo, maior criador do Paraná.


Produtor espera que novo frigorífico reduza as oscilações de preços - Os detalhes do frigorífico de R$ 100 milhões anunciado pelas cooperativas Batavo, Castrolanda e Capal ainda estão em estudo, mas os cooperados consideram que terão destino certo para os seus lotes de suínos. Para o produtor Roelof Rabbers, que possui cinco granjas no distrito de Castrolanda, em Castro, o empreendimento vai dar mais segurança para quem está na base da cadeia da carne. “Vamos ter mais autonomia para negociar. Hoje vendemos o animal vivo e temos muitos altos e baixos. Com o frigorífico, teremos mais estabilidade”, opina.


Mudanças - Rabbers tem 2,4 mil animais na engorda e acredita que o frigorífico exigirá mudanças nas granjas para comportar suínos mais pesados. O animal entregue hoje para atravessadores, que revendem os lotes para empresas do Paraná e outros estados, sai da propriedade com 105 quilos em média. A nova indústria deve ficar com os melhores cortes, que pesam 120 quilos. Junto com o aumento de peso vem mais tempo de engorda e, portanto, mais gasto com ração. “Nós vamos ter que adaptar as baias porque os animais ficarão maiores e mais tempo dividindo o mesmo espaço”, acrescenta.


Escoamento - Para o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Carlos Geesdorff, o reflexo da instalação do frigorífico será sentido na própria região. “Não deve mudar a produção no estado.” Por outro lado, a empresa vai processar uma boa parcela do plantel, alterando o escoamento, acrescenta.


Paraná - O Paraná é o terceiro produtor nacional de suínos, com 5.563 milhões de cabeças entregues em 2010, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). A liderança é mantida por Santa Catarina, com 8.685 milhões de cabeças. Rio Grande do Sul está em segundo lugar, com 6.926 milhões de animais. 


Expectativa - Os três estados experimentam clima de expectativa, pela abertura dos mercados norte-americano e asiático à carne suína brasileira. Num momento em que Santa Catarina começa a embarcar para a China, Paraná e Rio Grande do Sul podem ocupar espaço maior no mercado nacional.


Boa qualidade - A carne suína do Paraná é considerada de boa qualidade. Porém, como o estado ainda não conquistou status de área livre de aftosa sem vacinação, a preferência do mercado internacional ainda é pela carne catarinense. Santa Catarina é a única unidade da federação que atende a essa exigência.


Exportações - Segundo a APR, a suinocultura paranaense deverá elevar também suas exportações, que começaram o ano em 5 mil toneladas por mês. A meta é ampliar as vendas externas em 20% ainda em 2012. (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)

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