ESTIAGEM II: Desânimo e pessimismo no Sul do país

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Com a desanimadora perspectiva de pouca chuva nos próximos meses no Sul e em Mato Grosso do Sul, os produtores dessas regiões mostram-se mais pessimistas em relação aos dados da quebra de safra apresentados pela Conab. Por ter sido concluído em 19 de dezembro, o levantamento excluiu dados sobre perdas ocorridas nos 20 dias entre o término da pesquisa e sua divulgação.

Agravamento - "De 19 de dezembro ao fim do ano a crise se agravou. Nessas situações, uma semana sem chuva faz muita diferença", diz Jorge Rodrigues, coordenador da comissão de grãos da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). "No caso do milho, há municípios em que as perdas já chegam a 70%". Nas áreas de estiagem, as primeiras chuvas foram registradas apenas na virada do ano.

Em dezembro, a Conab previa leve aumento da produção de milho no Estado em 2008/09, para 5,324 milhões de toneladas. No novo relatório, a estimativa passou a 5,205 milhões, 117 mil toneladas a menos que em 2007/08. Segundo Rodrigues, a perda no Estado deve ser de pelo menos 1 milhão de toneladas.

Temor - Teme-se que a falta de chuvas volte a assolar o Estado a partir do fim de janeiro. "Se isso ocorrer a situação fica mais crítica porque pode afetar também a soja", diz Rodrigues. As perdas nas lavouras de soja do Rio Grande do Sul são pouco relevantes até o momento porque, na maior parte das áreas de cultivo, as plantas ainda não entraram no estágio de floração. Entre dezembro e janeiro, a Conab reduziu de 8,132 milhões para 8,091 milhões de toneladas sua projeção de colheita de soja no Estado, ante 7,775 milhões em 2007/08.

Liderança - Mesmo com a estimativa de redução de 6,6% na produção por causa da estiagem que atingiu o Estado em novembro e dezembro, o Paraná continua no topo da produção agrícola do país. Mas, em vez das 30,5 milhões de toneladas da safra passada, deverá colher 28,5 milhões, conforme a Conab. Como esperava safra recorde de 32,2 milhões de toneladas, o Estado prevê volume um pouco maior que o do órgão federal, embora já tenha divulgado que trabalha com perdas de 3 milhões de toneladas de grãos, ou R$ 1,5 bilhão.

Comissão - O secretário da Agricultura do Estado, Valter Bianchini, que montou uma comissão para tentar amenizar os prejuízos dos produtores, disse que o importante é não faltar recursos para a comercialização do que for colhido. Ele quer agilizar as perícias nas áreas atingidas, para liberá-las para a safrinha, que precisa de um bom planejamento. Bianchini terá reunião com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, na próxima semana, e falará no assunto.

Milho - O milho foi o produto mais atingido nos levantamento federal e estadual, divulgado em dezembro. Os dois órgãos usam metodologias diferentes. A Secretaria da Agricultura do Paraná compara a estimativa de safra com o que deve ser efetivamente colhido, e estimou quebra de 20% - para 6,98 milhões de toneladas. A Conab faz a sua comparação com o que foi colhido no ano passado e mostra redução de 27,6%, para 7 milhões.

Santa Catarina - Em Santa Catarina, ainda não há previsão de melhora do clima entre janeiro e fevereiro. Ao longo de 2008, o Estado registrou 67 decretos de situação de emergência por conta da estiagem, principalmente na região oeste - a maior foi decretada nos últimos meses do ano. Entre os municípios atingidos estão Seara, São Miguel do Oeste e Chapecó, áreas de forte produção de grãos.

No oeste, ao contrário das cheias no litoral, as chuvas foram raras e mal distribuídas em novembro e dezembro. De acordo com a Federação Agrícola de Santa Catarina (Faesc), as perdas chegam a R$ 500 milhões na agricultura do Estado considerando as enchentes de novembro no Vale do Itajaí e a estiagem no oeste.

Preocupação - A Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul) ainda não elaborou sua estimativa sobre as perdas no Estado, mas "o sentimento" é de que elas são maiores que as projetadas pela Conab, segundo Eduardo Riedel, vice-presidente da entidade. No Estado, a preocupação é grande porque 50% das lavouras de soja do centro-sul, região que concentra a produção de grãos, foi ocupada por variedades precoces, já em fase mais sensível à estiagem. Dourados, um dos principais pólos de produção de Mato Grosso do Sul, decretou estado de emergência por causa da seca. (Valor Econômico)

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