ELICOOP II: Os jovens e a síndrome das rodinhas

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Está na hora do jovem sair da zona de conforto de sua família e assumir suas responsabilidades. Esse foi o recado da primeira palestra realizada pelo professor Sidnei de Oliveira, da Kantu Educação Executiva hoje aos participantes do Elicoop Jovem que acontece em Curitiba, hoje (23/04) e amanhã. Em entrevista ao informativo Paraná Cooperativo, Sidnei falou do comportamento da atual juventude, inserida num cenário de mudanças com forte influência dos computadores e da Internet. O texto seguinte é uma condensação de sua entrevista

Passividade e agressividade: O jovem de hoje tem uma característica de passividade ou de agressividade, dependendo do estímulo que ele recebeu. Só que tem uma coisa muito comum que está acontecendo com o jovem, que eu estou chamando da síndrome das rodinhas. Quando a gente é criança e anda de bicicleta, para ajudar, os pais colocam algumas rodinhas como apoio. Têm jovens que gostam das rodinhas e querem continuar com elas por um bom tempo. São muletas, são apoios, e assim, tudo bem. Os pais querem dar essas rodinhas porque não querem ver os filhos sofrendo. Só que o mundo está precisando que os jovens tirem essas rodinhas.

Decisão própria - E esse tirar as rodinhas pode ser traumático ou não. Para falar a verdade, eu vejo que o jovem quer tirar a rodinha, que o pai quer que ele tire a rodinha, mas nenhum deles tem coragem de tirá-la. Então temos que tomar alguma decisão, ter a consciência de que a coisa está na mão dele. O pai não quer tirar a rodinha porque não quer ver o filho se machucando. É difícil o pai tirar a rodinha. É uma decisão dele, do jovem. É ele que vai ter que tomar a decisão de tirar e arcar com as conseqüências. Se ele vai cair, tropeçar, se vai tomar decisões certas ou erradas, está na mão dele. Esse é o grande recado que eu quero trazer para estas lideranças aqui reunidas hoje.

Hora de assumir o controle: Eles, os jovens, estão chegando numa fase que é com eles. Não dá pra ficar dizendo "meu pai não me deu isso, eu não tive isso ou aquilo..". O jovem pode dar a desculpa que quiser, mas daqui pra frente não é mais com seus pais, por mais que eles queiram dar coisas. Vocês jovens estão com a cooperativa. Está bom! Daqui há 30 anos quem é que vai estar tomando conta da cooperativa? Quem vai estar tomando conta deste legado que o seu pai construiu? Você? Esta é uma pergunta, não é uma resposta. Se isso tudo que a gente está vendo agora está funcionando, se para você funcionou, o que você vai querer dar para o seu filho? O que você vai preparar? Seus pais já fizeram esse caminho 20 anos atrás. Agora é a sua vez. Qual é a sua? Quando você vai assumir o controle? Quando você vai tirar as rodinhas?

Casa dos pais - Esse é o momento mais crucial, é uma geração que está demorando demais para assumir a vida adulta. Alguns psicólogos estão chamando da síndrome do canguru, onde os jovens querem ficar na casa dos pais porque não querem assumir a vida. Não é que eles não querem assumir, eles querem assumir, mas não querem abrir mão do conforto que seus pais demoraram a vida inteira para conquistar. O jovem quer aquele conforto, mas tem medo de não conseguir. O que eu costumo dizer é que eles já têm uma vantagem. Foram criados nu sítio ou numa fazenda, já têm um legado à sua disposição. Mas se não assumirem esse legado, a tendência é ele desaparecer. Não dá para o pai dizer "assuma!". Por mais que ele queira falar isso ele não vai falar porque ele está com medo do filho não assumir.

Geração de privilégios: O jovem de hoje é privilegiado por tudo o que aconteceu nas gerações anteriores. Ele é mais privilegiado porque tem mais acesso, tem mais condições, ele viu os pais cometerem os erros, ele já tem consciência disso. No passado os pais erravam e não mostravam para os filhos. Escondiam. "Papai e mamãe não erram!". E eles chegavam na vida adulta e descobriam que papai e mamãe erram. E aí ele tem uma decepção e vai dizer que vai errar também, porque tinha a ilusão que o pai não errava. Essa geração de hoje desde criança vê o pai a mãe errando. E o pai e a mãe erram e deixam a criança ver. É uma geração que teve privilégio demais, o acesso a informação. Mas privilégio traz responsabilidade. O que você faz com esse privilégio?

Assumir este cenário - Hoje você pode ter a informação que quiser num clic no computador. Você pode viajar pelo planeta por decisão pessoal. Antigamente viajar de avião era um evento histórico. Hoje tem pessoas com 50 anos de idade e nunca viajaram de avião, nunca foram para fora do país. E você tem amigos fora do país e nem sabe. É um privilégio estar num cenário com muito privilégio, só que você tem assumir esse cenário. Porque seu pai, sua mãe, seus avós não vão estar aí pra sempre, quem quer que seja. Então, o que você vai deixar de legado? Porque eles te deixaram de legado esse mundo que te dá privilégios. Eles já fizeram isso. Eles não têm muito mais o que fazer. E que você vai fazer.

Legado - Então, a idéia é um convite para os jovens assumirem. O movimento cooperativista, que é um dos focos grandes neste momento, começou também, foi muito forte, ajudou muito os produtores, ajudou a agricultura a crescer no país, ajudou der maneira intensa. Esse foi o legado. E daqui pra frente, como funciona? O que os jovens vão apresentar para os filhos daqui a 20 anos? Você vai destruir a cooperativa porque quer ficar na cidade grande? Questiona o professor Sidnei Oliveira.

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