Disponibilidade de matérias-primas vegetais e o desafio de produzir biodiesel no Brasil
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FOTO: RRRufino A soja é a matéria-prima prioritária para produção de biodiesel no Brasil, com 7,2 bilhões de metros cúbicos de óleo (74%), enquanto a participação do milho, no setor de etanol, representa cerca de 21% da produção nacional, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. “Apesar da relevância desses grãos na matriz energética de combustíveis, busca-se outras fontes renováveis para ampliar as opções no Brasil. Neste sentido, fizemos uma análise da viabilidade e eficiência de outras matérias-primas para o programa de biocombustíveis no Brasil, mais especificamente para o biodiesel”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja, César de Castro, um dos autores do livro Biodiesel no Brasil: Reflexões Sobre o Potencial das Principais Matérias-Primas, que a Embrapa lança no X Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2025, que terão início na segunda-feira, 21 de julho, às 19h, no Centro de Exposições Expo Dom Pedro, em Campinas (SP). Os eventos seguem até 24 de julho.
A publicação é gratuita e conta com 172 páginas, distribuídas 16 capítulos, em formato digital. São autores da publicação, os pesquisadores da Embrapa César de Castro, Marcelo Hiroshi Hirakuri, Fábio Alvares de Oliveira, Marcelo Álvares de Oliveira e Alexandre Magno Brighenti, o pesquisador da Epamig Norte José Carlos Fialho de Resende e o agrônomo Ruan Francisco Firmano.Para os autores, a transição da matriz energética para fontes renováveis tem motivado a busca por diferentes espécies vegetais como matérias-primas. A estimativa dos autores é que existam ao redor de 350 espécies de plantas, com potencial para utilização na produção de biodiesel, a exemplo da macaúba, pinhão-manso, nabo forrageiro, colza, girassol, canola, mamona, crambe, tabaco energético e carinata. Mesmo assim, a produção de óleo vegetal, no Brasil, encontra-se baseada na cultura da soja, sendo que outras opções - palma de óleo, algodão, girassol e amendoim - são minoritárias no mercado brasileiro. “Podemos citar como matérias-primas secundárias o algodão e o dendê para o atendimento regional da Política Nacional de Biocombustíveis do Brasil (RenovaBio)”, diz Castro.
O livro Biodiesel no Brasil: Reflexões sobre o Potencial das Principais apresenta o Programa de Produção de Biodiesel no Brasil, com foco na produção de matérias-primas e alerta sobre a necessidade da alocação de recursos financeiros para formulação de uma agenda política e agrícola de fortalecimento ao setor. Além disso, a publicação também destaca a soja como cultura-chave na produção de bioenergia. E, ressalta a relação direta da soja com cadeias de outros materiais graxos (gorduras bovina, suína e de frango), além do óleo de fritura.
Os autores analisam ainda algumas culturas alternativas e potenciais fontes bioenergéticas, como a camelina e a macaúba. "Mesmo assim, alertamos ser fundamental a adoção de culturas de alta produtividade, preferencialmente com elevado teor de óleo, que atendam aos critérios de baixas emissões de carbono, ao longo de seu ciclo de vida, e que sejam compatíveis com práticas de manejo sustentável do solo", ressalta Castro. Para o pesquisador, o aumento da demanda energética, aliado à consciência da sociedade em relação às mudanças climáticas, exige soluções inovadoras e cria oportunidades para a bioeconomia de fontes renováveis. “Nesse contexto, a bioenergia pode ter um papel crucial na diversificação das opções energéticas, especialmente para o Brasil, apresentando-se como uma das alternativas mais limpas e sustentáveis, além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas”, ressalta Castro.
Soja e milho
A soja ocupa em torno de 47,5 milhões de hectares no Brasil e, em grande parte, é sucedida pelo cultivo do milho, em cerca de 21 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para Castro, a soja conta com sistemas de produção regionalizados e zoneamento agrícola de risco climático bem estabelecido, indicando os ambientes com menores riscos de frustração de safra, o que torna o Brasil o maior produtor mundial da cultura com 169 milhões toneladas, na safra 2024/2025. “No Brasil, apesar das enormes possibilidades agronômicas, características climáticas favoráveis, grande disponibilidade de área e possíveis vantagens comerciais, a expansão de outros culturas, infelizmente, esbarra em fatores como o tempo de maturação dos novos projetos, a dificuldade de mão de obra, o manejo da adubação, a colheita e tratos culturais, entre outros desafios”, avalia Castro.
Por outro lado, o milho é responsável pela produção de quase 116 milhões de toneladas de grão, dos quais 17,3 milhões de toneladas foram processadas para etanol, equivalente a 21% da produção nacional. “Considerando-se as potencialidades e o crescimento do milho para atender as indústrias de produção de etanol, é possível que o milho venha a se aproximar da soja em termos de produção, podendo apresentar uma maior competitividade em algumas regiões e segmentos de mercado”, calcula Castro.
CBSoja e Mercosoja 2025
Para esta edição comemorativa dos 50 anos da Embrapa Soja, o tema central do CBSoja e do Mercosoja 2025 será os 100 anos de soja no Brasil: pilares para o amanhã. Considerado o maior fórum técnico-científico da cadeia produtiva da soja na América do Sul, a expectativa da comissão organizadora é reunir cerca de 2 mil participantes de diferentes segmentos. A programação técnica contará com 4 conferências e 15 painéis em que serão realizadas mais de 50 palestras com especialistas nacionais e internacionais de vários segmentos ligados ao complexo soja.
Outra inovação na programação do CBSoja será a realização do Mãos à Obra, um espaço dedicado ao debate de questões práticas em cinco grandes temas: Fertilidade do solo e adubação, Manejo de nematoides, Plantas daninhas, Bioinsumos e Impedimentos ao desenvolvimento radicular. A comissão organizadora aprovou 328 trabalhos técnico-científicos que serão apresentados na sessão pôster. Também haverá destaque para os desafios da produção de soja no Mercosul e um workshop internacional Soybean2035: A decadal vision for soybean biotechnology, cujo objetivo é debater os próximos 10 anos das ferramentas biotecnológicas na soja, com palestrantes da China, Estados Unidos, Canadá e Brasil. (Assessoria de Imprensa Embrapa Soja)