COCAMAR I: Ex-colaborador da cooperativa D. Eduardo é bispo em Ourinhos

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cocamar I 05 04 2023Ao longo dos 60 anos de história da Cocamar, milhares foram os seus colaboradores, nas mais diferentes áreas. E, dentre esses, se sabe que vários seguiram a vocação religiosa, se tornaram padres, diáconos ou pastores, mas não havia notícia de que algum deles teria sido elevado à condição de bispo da igreja católica.

Em Ourinhos - Dom Eduardo Vieira dos Santos, 58 anos, há pouco mais de um ano à frente da Diocese de Ourinhos (SP), missão que lhe foi confiada pelo Papa Francisco, é possivelmente o primeiro religioso, ex-funcionário da Cocamar, a alcançar o prelado, respondendo por uma importante região que conta com 24 municípios e uma população de centenas de milhares de pessoas.  

Trabalhadores rurais - Nascido em 18 de março de 1965 em Bom Sucesso (PR), Dom Eduardo é o sexto filho de uma família de nove irmãos, trabalhadores rurais que prestavam seus serviços em terras dos outros. O pai Augusto foi porcenteiro de café na região de Terra Boa e Malu e, com o declínio dessa cultura, eles passaram a trabalhar como “boias-frias”.

Primeiro emprego - Sua passagem pela cooperativa se deu em 1984 e 1985, quando a família se mudou para Maringá, em busca de oportunidades. “A Cocamar foi o meu primeiro emprego com carteira assinada”, lembra D. Eduardo. Ele foi admitido inicialmente como horista na Máquina de Algodão, junto a um grupo de trabalhadores encarregados de preparar o recebimento da safra. “A gente organizava o pátio para receber o algodão que ia para as tulhas e depois era beneficiado”, conta, lembrando que havia ali grandes estrados de madeira, nos quais o produto era descarregado dos caminhões que vinham da roça.

Na classificação - “Em poucos dias fui chamado para trabalhar junto às tulhas, como marcador”. Com uma prancheta nas mãos, sua função era anotar o tipo do algodão. “Como eu tinha a oitava série e sabia ler e escrever, fui designado para trabalhar junto ao classificador nas tulhas. E depois, como eu passei a entender de classificação, fui classificar algodão no pátio”. D. Eduardo se lembra que a safra era muito grande e havia longas filas de caminhões.

Vários setores - Terminando a safra, os trabalhadores sazonais eram desligados, mas ele, por sua dedicação e a facilidade em realizar os trabalhos, permanecia, sendo conduzido para outras estruturas da cooperativa. “Ajudei no bicho da seda, na Máquina de Café, passei por diversos setores, e trabalhava também na manutenção. Fui até lá no IBC onde recebia o algodão já beneficiado, para armazenar os fardos”.

Convivência - Depois, começava a safra de algodão novamente. Para D. Eduardo, esse era o período mais marcante, devido ao grande número de empregados, entre horistas e pessoas de várias funções. “Era muito divertida e bonita aquela convivência”.

O pai e o irmão - A família residiu no Maringá Velho, próximo à Avenida 19 de Novembro, e ele seguia de bicicleta para o trabalho, enquanto o pai Augusto, que também foi horista na Cocamar, preferia caminhar ou ir de ônibus. Sua função era varrer o pátio, cuidar das vias do parque industrial e manter tudo limpo. Um outro irmão de D. Eduardo, Manuel, foi ensacador na cooperativa, ligado ao sindicato da categoria.

Ajudaram - Ele se recorda que um dos classificadores era o Jacob, “muito conhecido, mas bravo”. E entre outros, havia também o Juca, jogador de truco, o Brito, o Zenardino, o Zé Bassan, “pessoas já de uma certa idade, que me ajudaram muito. Eu era um guri, um garoto, tinha apenas uns 20 anos nessa época”.

Lembranças - João Santinho, um dos responsáveis pela parte operacional, gostava de conversar com seu pai. No escritório tinha o responsável, o japonês Tetsuo Noda, a dona Eliza, o Wilson, motorista da kombi, o José Magossi, o Natalino, o Gaúcho da balança. Ele se lembra do Rubens da Máquina de Café, e do pessoal do sindicato dos ensacadores, principalmente do Imbuzeiro e do Catité. Entre os dirigentes da Cocamar, conheceu o Dr. Constâncio Pereira Dias, presidente, e ouvia falar muito de Luiz Lourenço.

Sair para estudar - Em 1985, quando a região foi afetada por uma seca, a Cocamar realizou ajustes estruturais e precisou demitir um grande número de colaboradores. Ao saber, junto a João Santinho, que seu nome não estava na lista, o jovem Eduardo pediu que fosse incluído, pois durante o período da safra não conseguia estudar e seu sonho era dedicar-se à vida religiosa. “Eu já havia me matriculado duas vezes para fazer o colegial no Instituto de Educação, mas não conseguia estudar porque na época da safra tinha que trabalhar à noite também, fazer horários diferentes”. Foi uma demissão voluntária. Então, ele achou outro emprego e completou os estudos com o supletivo no Colégio Paraná.

Vocação - D. Eduardo conta que desde os 10, 12 anos, já cultivava o desejo de ser padre, uma vocação natural que o fazia “celebrar” missas em casa para os irmãos.

Muitos amigos - Segundo ele, “ficaram lembranças maravilhosas da Cocamar”, onde fez muitos amigos, em um tempo bom e de muito trabalho, “e foi assim uma época que me ajudou a realizar o meu sonho, com a minha família”. Ao deixar a Cocamar, seu pai foi trabalhar como segurança na casa do Dr. Constâncio. “Ele era de dentro da casa do Dr. Constâncio”.

Ambiente familiar - Seu pai, aliás, gostava de contar causos, o que, nos finais de semana, mantinha a casa repleta de amigos e vizinhos, enquanto alguns irmãos se divertiam tocando violão e, no quintal, a criançada brincava tranquila. “Meu ambiente familiar sempre foi alegre e feliz”.

Anos intensos - Quando, eventualmente, passa por Maringá para visitar parentes em Paiçandu, D. Eduardo conta que só por estar perto da Cocamar “dá uma alegria muito grande e ao mesmo tempo um aperto no coração. Me vem lembranças boas, passa um filme na minha cabeça de tudo que passei por lá. Foram dois anos intensos e sinto que ajudei a construir um pouco da cooperativa”.

Missas - Com sua fé, logo que chegou a Maringá o jovem foi participar de missas na Catedral e se recorda da voz vigorosa do então bispo, D Jaime Luiz Coelho. Na paróquia Cristo Ressuscitado, se lembra de padre Geraldo Schneider, e depois, na Santa Maria Goretti, onde passou a frequentar grupos de jovens, conviveu com os padres Geraldo Trabuco e Júlio Antônio da Silva. Foi o padre Julinho quem lhe deu a carta de apresentação para estudar na Congregação de Santa Cruz, em São Paulo.

Trajetória - Ordenado padre em 15 de dezembro de 2000, trabalhou na Arquidiocese de São Paulo e, já em 10 de dezembro de 2014 foi nomeado bispo-auxiliar. Em 7 de julho de 2021, D. Eduardo tomou posse como bispo diocesano de Ourinhos, em substituição a D. Salvador Paruzzo, que renunciou por atingir a idade limite de 75 anos. (Imprensa Cocamar)

 

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