CAMINHOS DO CAMPO: Cooperativismo paranaense em destaque

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O suplemento Caminhos do Campo, publicado semanalmente pelo jornal Gazeta do Povo, publicou nesta terça-feira (01/07), uma série de reportagens destacando o desempenho das cooperativas do Paraná.  Veja a seguir, a primeira da série de reportagens, as demais serão publicadas nas próximas edições:

"Clélio Argenton, produtor rural em Assis Chateaubriand, no Oeste do Paraná, cria frango, produz peixe, mandioca e recentemente destinou uma pequena parte da sua área para o plantio de eucalipto. Ele e a família moram na propriedade, onde a mão-de-obra é familiar e a diversificação garante renda e atividade o ano todo. Nada demais, não fosse o fato de ele fazer tudo isso em apenas 2 alqueires, ou 4,84 hectares, uma área equivalente a cinco campos de futebol. A renda bruta anual, segundo o proprietátio, oscila entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.

Argenton é apenas um entre os quase 90 mil pequenos produtores do sistema cooperativo do estado que possuem até 50 hectares. O número total é de 120 mil cooperados, distribuídos em 80 cooperativas agropecuárias, onde também começa a figurar o grande produtor, aquele com mais de 1 mil hectares. Mas é da contribuição e exemplos como o de Argenton que as cooperativas do estado constroem, aos poucos, um império no campo.

Mesmo pequeno, ele participa de um negócio bilionário. A sua cooperativa, a C.Vale, com sede em Palotina (Oeste), deve obter neste ano um faturamento acima de R$ 1,5 bilhão. Sem se dar conta, Argenton tem uma atividade economicamente sustentável. Ele é a base de uma cadeia, de um sistema produtivo onde predominam os pequenos, mas onde os grandes também são bem recebidos, sempre em igualdade de condições.

Para o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, não há segredo, mas um sistema que se fortalece com somatória das economias individuais. "Para ser viável, uma cooperativa precisa, primeiro, viabilizar o produtor, gerar e distribuir renda e melhorar o desempenho do seu cooperado, uma busca constante dentro do sistema."

A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) ainda não tem um banco de dados com as informações de faturamento de todas as cooperativas do país. Mas um levantamento feito pela Gazeta do Povo, com apoio das entidades do sistema, chegou a um número de dez cooperativas agropecuárias - cinco no Paraná - com receita superior a R$ 1 bilhão. O número deve ser maior, aponta Evandro Ninaut, gerente de mercados da OCB. As cooperativas paranaenses nesse rol são Coamo, C.Vale, Cocamar, Lar e Agrária. Juntas, elas faturaram R$ 8,13 bilhões, ou 45% da receita global do sistema no estado, que no ano passado foi de R$ 18,5 bilhões. A lista nacional inclui Coopersucar e Carol em São Paulo; Aurora em Santa Catarina; Itambé e Cooxupé em Minas Gerais.

O movimento que levou as cooperativas à marca de R$ 1 bilhão começou na segunda metade da década de 90, com a reestruturação financeira e definição de um novo foco de autação, a agroindústria. O Programa de Revitalização das Cooperativas Agropecuárias (Recoop), em 1998, e o Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária (Prodecoop), em 2002, deram nova saúde financeira e garantiram a capitalização das cooperativas.

O desafio agora é sustentar o faturamento de R$ 1 bilhão. Exemplos como o da C.Vale e da Cocamar mostram que essa não é uma tarefa fácil. Questões relacionadas a clima e conjuntura de mercado levam as cooperativas a muitos altos e baixos. Em 2005 e 2006, quando a seca atingiu o Paraná e boa parte do país, a cooperativa de Palotina viu sua receita cair mais de R$ 300 milhões em apenas dois anos. Na Cocamar, o tombo foi na mesma proporção. Nos dois casos, o resultado anual já havia ultrapassado a casa do bilhão de reais. Nem mesmo a gigante Coamo consegue evitar essas variações. No período, a receita caiu quase R$ 1,5 bilhão. O impacto na cooperativa foi maior porque 40% do faturamento está escorado na soja, cultura duramente atingida pela seca.

Há dois anos, a OCB testa o Sistema de Inteligência Comercial, projeto que visa ampliar o acesso a novos mercados, no Brasil e no mundo. Mas, para isso, explica Evando Ninaut, primeiro é conhecer melhor a demanda dos clientes e o que as cooperativas têm a oferecer. A OCB acredita que é possível dar maior sustentabilidade ao agronegócio e amenizar impactos negativos provocados por problemas climáticos e cambiais, por exemplo. "Nossos produtos não são mais comprados. Nós precisamos vender", diz Ninaut, que destaca a necessidade de o sistema preparar-se para atender demandas específicas e nichos de mercado em todo o mundo. (Caminhos do Campo/Gazeta do Povo)

 

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