ARTIGO DE OPINIÃO: Estiagem

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Estiagem

Luiz Renato Lazinski(*)

Mais um ano difícil para a agricultura brasileira. Não bastassem os baixos preços dos produtos agrícolas, como o milho e soja, principalmente devido ao câmbio, mais uma vez o clima está sendo o fator determinante e o principal problema enfrentado pelos agricultores da Região Centro-Sul do Brasil.

Tivemos um início de safra bastante animadora para a agricultura, com relação ao clima, com muita chuva durante os meses de setembro e outubro passados; mas logo a chuva começou a dar lugar à estiagem já no mês de dezembro, intensificada pela forte onda de calor do início de janeiro deste ano, a maior já registrada no Rio Grande do Sul desde 1953, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

A estiagem deste ano atingiu principalmente o Sul do Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina e Oeste e Sudoeste do Paraná, além de regiões produtoras da Argentina, Uruguai e Paraguai. As chuvas ocorridas nos últimos dias amenizaram os problemas que a agricultura vinha enfrentando com a estiagem, porém muito já foi perdido pela falta de chuva na hora certa. No boletim de 24.01.2006, do Deral (Departamento de Economia Rura)l, órgão da Secretaria da Agricultura do Paraná), o Paraná já contabiliza uma perda de 22% na safra de milho, 18% no feijão e 13% na soja, por conta da estiagem.

Dos três Estados do Sul do Brasil, com relação à agricultura, o Rio Grande do Sul até o momento é o que menos foi afetado pela estiagem, salvo em alguns pontos isolados do Estado. Depois de dois anos seguidos castigado pela estiagem, a maioria das Regiões gaúchas vem apresentando um bom desempenho na agricultura. Já os Estados do Paraná e S.Catarina, começam o ano enfrentando as dificuldades do clima, que novamente acaba sendo o fator determinante do sucesso ou não da agricultura.

O agricultor deve ficar alerta com relação ao clima, acompanhando as informações sobre o assunto, uma vez que as perspectivas não são muito animadoras para a agricultura. Apesar das chuvas dos últimos dias, na Argentina, Paraguai, Uruguai e Centro-sul do Brasil, não podemos dizer que a estiagem já terminou.

Nos últimos meses, temos observado uma anomalia negativa nas águas do Oceano Pacífico Equatorial, que intensificou e expandiu-se para Oeste no mês de janeiro, indicando a volta do fenômeno climático "La Nina". É certo que ainda em sua fase inicial e de fraca intensidade, mas os modelos prognósticos de clima, gerados pelos principais centros meteorológicos mundiais indicam a continuidade deste fenômeno, de fraca intensidade, pelo menos até meados de 2006. Em anos de "La Nina", normalmente observamos precipitações abaixo da média e com distribuição muito irregular, para a região Sul do Brasil. Portanto, permanecendo as previsões da continuidade de temperaturas das águas do Pacífico Equatorial ficarem abaixo da normal, tanto a nossa safra de verão como também a de inverno, estarão sendo influenciadas pelo "La Nina".

Existem outros fatores que influenciam a distribuição das precipitações, porém, sendo o Oceano Pacífico o maior oceano do Planeta, qualquer alteração da temperatura de suas águas, próximo ao Equador, acabam tendo uma influência significativa sobre o clima de várias partes do Planeta, e não somente para a região Sul do Brasil.

Devemos, portanto, ficar alertas com relação ao clima para esta safra e também para a safra de inverno, uma vez que os prognósticos para os próximos meses, para a Região Centro-sul do Brasil, continuam sendo favoráveis a precipitações abaixo da média e com uma distribuição muito irregular, intercalando períodos com chuvas acima da média em alguns pontos isolados e períodos com pouca precipitação. Em resumo, podemos dizer que o fantasma da estiagem ainda não foi afastado.

(*)Meteorologista

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