VENDA NO VAREJO AMPLIA O LUCRO DAS COOPERATIVAS

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Especial - José Marinho, Gazeta Mercantil - Paraná, publicada em 03/08/2001.

Depois da diversificação de produtos, cooperativas paranaenses investem cada vez mais na industrialização. Assim, essas empresas agregam valor e ampliam os lucros. A tendência, mesmo que mais acentuada em algumas e timidamente em outras, está sendo seguida por várias das 63 cooperativas agropecuárias espalhadas pelo Estado. Na Cooperativa Agropecuária Três Fronteiras (Cotrefal), em Medianeira, no Extremo-Oeste, por exemplo, produtos industrializados já dão mais lucro que a agropecuária, respondendo por 60% do seu faturamento. O negócio é tão bom, que até o nome desta cooperativa está sendo mudado para Lar, que é a marca dos produtos encontrados nos supermercados.

Irineo da Costa Rodrigues, presidente da empresa, conta que em 1992 foram feitos estudos e detectado que o agricultor da região não se viabilizaria só com a produção de grãos. A própria cooperativa teria sérios problemas. Por isso, foi elaborado um plano considerado "arrojado" na época, segundo Rodrigues, visando não apenas impulsionar a produção de grãos, suínos e gado leiteiro, mas também diversificar. As atividades, então, passaram a encampar ovos, mandioca, hortifrutigranjeiros e frango. "Passamos a priorizar o que tínhamos de melhor e a industrialização permitiu agregar valor", comenta.

O que houve de 10 anos para cá, no entendimento do presidente da Cotrefal, foi a "reconversão" da agricultura, necessária para se manter competitividade, levando em conta, principalmente, o fato de os 5,2 mil associados possuírem, em média, propriedades de 30 hectares. Eles recebem assistência da cooperativa, desde o planejamento de cultivo à garantia de comercialização. "Atendemos a um mercado exigente, como as redes McDonalds e Carrefour", afirma Rodrigues.

A lista de produtos industrializados é vasta. A maioria leva a marca Lar, nome que, em razão do sucesso dos recentes negócios, está substituindo a Cotrefal. Semana passada a troca do nome da cooperativa foi aprovada em assembléia e agora, conforme o presidente, é apenas uma questão burocrática para mudança nos registros. "Nós somos os lares de pequenos produtores e em cima disso vai ser feita a ligação da área mercadológica", explica Rodrigues, acrescentando que o perfil foi alterado e a cooperativa deixou de ser agropecuária, voltada à produção primária, assumindo uma linha industrializada, focada na fabricação de alimentos. A Cooperativa Agropecuária Três Fronteiras, portanto, passa a chamar-se Cooperativa Agroindustrial Lar.

A decisão não ocorre por acaso. No exercício passado, de acordo com o presidente, a cooperativa faturou R$ 257 milhões, dos quais 50% vieram do setor industrial. Para 2001 são estimados R$ 310 milhões e o crescimento da participação dos produtos industrializados para 60%. "Este novo perfil representa alternativas para que o agricultor se viabilize nas propriedades, além de ter garantida uma boa remuneração", afirma, ressaltando que têm atendido mercados exigentes tanto dentro quanto fora do Brasil, especialmente alemães e japoneses.

Entre outros itens, a empresa industrializa vegetais congelados, como ervilha, milho, couve-flor, brócolis, vagem, cenoura, mandioca e batata. Comercializa milho, ervilha e pêssego, em lata, e ainda cereais empacotados, entre os quais arroz, feijão, grão-de-bico e pipoca. Um dos destaques, conforme Rodrigues, é o mix de 100 diferentes produtos processados no frigorífico de frango, onde são abatidas em torno de 110 mil aves por dia. Dali saem, por exemplo, cortes especiais para mercados europeus, e é o setor que, atualmente, tem apresentado um dos melhores retornos em termos de compensação financeira. Tanto que deve responder por 40% do faturamento estimado para a área industrial neste ano. Coincidência ou não, o bom momento dos negócios vai assegurar, conforme acredita o presidente da Cotrefal, um aumento de 316% sobre as sobras (lucro) do exercício anterior, passando de R$ 2,4 milhões para R$ 10 milhões.

Marco Alarcon, gerente de produtos de varejo da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar), na região Norte, conta que a industrialização e colocação de produtos da empresa no mercado dá resultados cada vez melhores. A Cocamar começou a investir maciçamente na área varejista em 97, conforme ele, "por entender que a agregação de valor aos produtos seria uma tendência". Houve, a partir de então, esforço redobrado para ampliação da estrutura, embora a empresa seja pioneira na industrialização de óleo de soja entre cooperativas, derivado que fabrica desde 79.

Além de óleo de soja, com a marca própria e Purity, produz atualmente óleo de canola, de milho e de girassol, da marca Suavit. Outra linha de varejo é café moído (Cocamar, Maringá e Talento), incluindo capuccino (Cocamar). Faz parte ainda da lista de produtos maionese de soja e canola, catchup e mostarda. Quando resolveu ampliar os investimentos na área, a cooperativa acreditava, conforme Alarcon, no incremento das vendas. De fato os produtos ganharam mais espaços nas gôndolas e hoje, além do Paraná, são comercializados em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Os investimentos continuam. Neste ano, de acordo com o gerente, foram aplicados em torno de R$ 2,5 milhões na instalação de uma nova refinaria, que vai ampliar a capacidade de produção de óleo de soja de 350 mil caixas (20 frascos de 900 ml) para 650 mil caixas. "É um exemplo de que estamos confiando na área", comenta. Neste sentido, a empresa já tem vários projetos de intensificar a produção varejista. Pensa em, ainda neste ano, lançar suco de laranja por meio de uma indústria da qual detém 57%. Fazendo as contas, Alarcon diz que este setor, que em 96 faturou R$ 30 milhões, já subiu no ano passado para R$ 74 milhões. A estimativa, segundo ele, é que chegue em 2001 em R$ 100 milhões, significando 20% do esperado faturamento global da Cocamar.

A industrialização das cooperativas, conforme João Paulo Koslovski, presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), significa uma tendência necessária para a manutenção dos pequenos produtores na atividade. "E este é um caminho natural", considera, analisando o fato de mais de 70% da categoria paranaense ser composta por donos de área com até 50 hectares. Ele conta que há quatro anos foi realizado em Cascavel, no Oeste, um seminário justamente para discutir a necessidade do que ele chama de "reconversão" da agropecuária. "É buscar alternativas para viabilizar estes pequenos".

As dificuldades para acelerar o processo, salienta Koslovski, são a falta de recursos específicos. A Ocepar elaborou um projeto de apoio à agroindústria, que será apresentado amanhã, em Brasília, pelo presidente da entidade e diretores da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). O documento, que engloba o sistema cooperativo nacional, solicita empréstimos para pagamento em até 15 anos e tempo de carência compatível com o retorno da atividade envolvida. "Hoje os juros são impraticáveis, girando entre 17% e 18%", comenta Koslovski. Pelo projeto, financiamentos de até R$ 5 milhões teriam juros de 5,75% ao ano, e acima deste valor, as taxas seria de 8,75%. O volume de recursos pleiteados é de R$ 3 bilhões.

Um argumento da entidade é que, de acordo com estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para cada R$ 1 milhão aplicado no setor agroindustrial, são criados 229 empregos. "Diversas cooperativas paranaenses estão envolvidas nesta tendência, investindo na indústria para agregar valor", comenta o presidente da Ocepar, avaliando que, com apoio governamental, as mudanças ocorrerão com maior velocidade. "Está havendo um aperfeiçoamento do sistema cooperativista e isto não pode parar", acrescenta.

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