UNCTAD: Economia global fica sem locomotiva, diz a Agência da ONU

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A economia dos Estados Unidos dificilmente voltará a ser a locomotiva da demanda mundial, mas nem a China, a zona do euro ou os países emergentes estão em condições de assumir esse papel num futuro previsível, avalia a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). A Unctad considera que o perigo atual é um fim prematuro das políticas de expansão fiscal, que poderá provocar uma espiral deflacionária no mundo, contraindo ainda mais o crescimento e o emprego globalmente.

Duradoura - Para a agência, a queda na demanda mundial será duradoura, em todo caso. Os mercados de exportação deverão se desenvolver muito mais lentamente que nos anos anteriores à recessão mundial, complicando bastante as estratégias de crescimento baseadas nas vendas externas. Preconiza assim que os países em desenvolvimento adotem, mais do que no passado, estratégias de crescimento baseadas na demanda interna e evitem valorização excessiva de suas moedas, que poderiam causar "desindustrialização prematura". No rastro do desmoronamento do mercado imobiliário, os americanos reduziram o endividamento e consomem menos. Antes da crise, os consumidores americanos absorviam 16% da produção mundial, mas agora há 8 milhões de desempregados a mais no país.

Importações - De 2000 a 2007, a fatia das importações dos EUA no PIB aumentou de 15% para 17%, reforçando a demanda agregada no resto do mundo em US$ 937 bilhões em termos nominais, o que significa corte de oportunidades de exportações para os outros países.

China - Maior consumo na China e em outros países em desenvolvimento não tem como compensar a baixa das importações dos bens de consumo pelos EUA. Na China, o objetivo oficial agora é substituir os investimentos e as exportações por consumo para alimentar o crescimento e criar empregos. As importações crescem, e o excedente de contas correntes deve baixar consideravelmente. No entanto, o consumo de uma família chinesa representa apenas um oitavo do consumo de famílias americanas e a estrutura de consumo também favorece mais os produtos locais.

Motor - Assim, a China está longe de ter o potencial necessário para se tornar o motor da economia mundial. Além disso, o efeito líquido combinado de medidas de ajuste apenas nos EUA e na China, com redução do consumo no primeiro e aumento da demanda no segundo, será deflacionário e insuficiente para corrigir os desequilíbrios da economia mundial, diz a Unctad.

BR e Argentina - Nesse caso, em 5 a 10 anos, as exportações do Brasil e da Argentina poderiam cair 7,7%, e as importações aumentarem 5,2% em média, com deterioração forte nas vendas e no emprego do setor automotivo dos dois países, segundo simulação feita pela agência da ONU. A agência sugere que a chave do reequilíbrio mundial passa também por aumento do consumo em países como a Alemanha e o Japão, por meio de aumento de salários. E recomenda que os países em desenvolvimento evitem repetir a experiência da América Latina entre 1980 e 2002, quando a renda per capita estagnou, o desemprego aumentou e a produtividade média declinou por causa de investimento insuficiente.

Caminho - Segundo a entidade, o caminho para as nações em desenvolvimento, normalmente muito dependentes da demanda externa, passa agora por investir muito na formação de capital fixo para aumentar mais rapidamente a produtividade e aumentar os salários, elevando a demanda interna e criando empregos. (Valor Econômico)

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