TRIGO: Comercialização está \"travada\"

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A comercialização do trigo nacional está paralisada há alguns dias. As indústrias mantêm estoques altos e por isso não conseguem fazer aquisições. Para alguns analistas, os moinhos estão "travando" o mercado na esperança de que a cotação do trigo recue um pouco. A valorização do grão está batendo recordes, tanto em bolsas americanas como no Brasil. O preço médio pago ao produtor no Paraná é hoje de R$ 34,50 a saca de 60 quilos, um dos maiores dos últimos 13 anos. Em 2002, esse valor chegou a R$ 36,90, influenciado principalmente pelo dólar valorizado. Naquele ano, a moeda americana valia R$ 3,80, o dobro da cotação atual.

Colheita - De acordo com dados da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), das cerca de 1,9 milhão de toneladas de trigo que o estado vai produzir em 2007, 40% já foram colhidos. O clima seco, que prejudica o início do plantio de várias culturas, beneficia a colheita do trigo. A produção nacional deve ser de 3,8 milhões. "O país produz apenas 35% do que consome. Na safra passada, o Brasil teve de importar cerca de 8 milhões de toneladas e com isso fica muito exposto à variação internacional dos preços", diz o gerente técnico-econômico da entidade, Flávio Turra. Um levantamento do Ministério da Agricultura aponta que a tonelada do trigo argentino custa o equivalente a US$ 708 em São Paulo. No interior do Paraná, o preço da tonelada está US$ 670.

Estoques mundiais - A valorização internacional do trigo decorre da queda dos estoques mundiais. Importantes regiões produtoras, como Austrália, tiveram quebra de safra. Segundo o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura do Paraná, Otmar Hubner, a média histórica do trigo nas bolsas americanas é de US$ 120 a tonelada. "A Bolsa de Chicago tem registrado valores acima de US$ 300."

Barreiras - Além dos preços altos, a Argentina, principal fornecedor de trigo para o Brasil, criou barreiras para a exportação e está dando preferência para o mercado interno. Por conta disso, os moinhos brasileiros importaram da América do Norte nos dois últimos meses. "Desde junho do ano passado não fazíamos importações dos Estados Unidos ou do Canadá", relata o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Lucilio Alves.

Importação - De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil importou 85,2 mil toneladas de trigo do Canadá em julho e outras 107,3 mil em agosto. No mês passado também foi registrada a entrada de 40 mil toneladas vindas dos Estados Unidos. "O total importado desde junho chega a quase 1,9 milhão de toneladas. "Esse volume permitiu à indústria manter um pouco de estoques e por isso não há necessidade de compras urgentes no mercado doméstico", observa Alves.

Opinião moinhos - Os moinhos não concordam com a avaliação de que estão "travando" o mercado. "A paralisação atual é apenas uma situação momentânea. Os moinhos logo voltam a fazer compras internamente e a comercialização voltará a fluir", afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná (Sinditrigo-PR), Roland Guth. Ele não quis comentar a cotação do produto, que deve se manter alta, segundo analistas. "Não há fatores técnicos expressivos que indiquem redução", avalia Alves, do Cepea. (Gazeta do Povo)

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