Tributação dos insumos agrícolas cresce R$ 1,7 bilhão
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Como resultado da aprovação fatiada da reforma tributária, o Governo editou a Medida Provisória 164, de 29 de janeiro de 2004, que trata da incidência das contribuições sociais sobre as importações de bens e serviços. Na realidade, na Emenda Constitucional nº 42, já promulgada pelo Congresso, o Governo aprovou apenas os itens que aumentam imediatamente a receita tributária, tais como a prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira) e incidência das contribuições sociais sobre as importações. Paralelamente, com a mini-reforma, as alíquotas do PIS/PASEP e da COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) aumentaram em 153%. (Fonte: Confederação Nacional da Agricultura - CNA)
Aumento da carga
- Não há mais qualquer dúvida que a reforma tributária
em vigor aumentou a carga tributária do setor produtivo. O crescimento
líquido da tributação, calculada pelo setor de insumos,
computando sementes, fertilizantes, agroquímicos e rações,
será de R$ 1,7 bilhão por conta da mudança do regime cumulativo
para o não-cumulativo. Nesse montante encontra-se o impacto de R$ 1,0
bilhão relativo a incidência das contribuições sociais
nas importações de fertilizantes e agroquímicos. Embora
o recolhimento das contribuições sociais, nas importações,
possa ser deduzida na comercialização interna, existirá
o impacto financeiro de pelo menos três meses para a utilização
desse crédito, gerando uma despesa adicional no capital de giro dos importadores
de cerca de R$ 97 milhões, no caso de encargos de capital de giro de
3% ao mês.
Reflexo - O aumento do custo dos insumos refletirá imediatamente nos
custos de produção das atividades agropecuárias. Computando-se
apenas o aumento da tributação em fertilizantes e agroquímicos,
verifica-se que o impacto nos custos de produção do arroz irrigado
será de 0,8%, enquanto na cultura do feijão será de 1%.
Esses aumentos certamente atingirão os consumidores com a elevação
nos preços dos alimentos.
Contribuições
Sociais - As mudanças ocorridas na tributação das contribuições
sociais sobre as importações de bens e serviços tem caráter
inflacionário. Várias razões levam a essa conclusão:
A alíquota está superestimada, o que pode ser comprovado pelo
aumento da arrecadação do PIS/PASEP, que também sofreu
aumento de 153% na sua alíquota nominal. Como a base de cálculo
é idêntica, o aumento da alíquota nominal, na mesma proporção,
acarreta aumento da carga tributária.
Parcela significativa de produtos agrícolas não poderão
gerar créditos para a agroindústria, provocando inflação
de custos, como nos casos do algodão, rami, sisal, flores e plantas,
bovinos vivos, cavalos vivos, caprinos e ovinos vivos e avestruzes vivas, entre
outros.
O valor é de 80% mesmo nos casos dos produtos que podem gerar crédito
de pessoa física para pessoa jurídica. Na prática, para
os 20 principais produtos da agricultura, o impacto será de R$ 1,5 bilhão,
considerando que o Valor Bruto da Produção desses produtos é
de R$ 99 bilhões. Assim, mesmo não sendo contribuinte de direito
do tributo, os produtores rurais passam, obrigatoriamente, a ser contribuintes
de fato do imposto.
Os insumos agropecuários importados serão tributados com as contribuições
sociais (PIS 1,65% + Cofins 7,6% = 9,37%). As importações de princípios
ativos de agroquímicos representam cerca de US$ 486 milhões e
as importações de fertilizantes, matérias-primas, são
de 14,6 milhões de toneladas. O acréscimo da despesa dos produtores
por conta da reforma das contribuições sociais, apenas nesses
dois insumos, será de R$ 835 milhões.
Distorção na relação comercial entre agentes econômicos:
pessoas jurídicas tributadas com o imposto de renda pelo lucro presumido
ou arbitrado, optante pelo SIMPLES (Sistema Integrado de Pagamento de Impostos
e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte)
e as cooperativas continuam no regime anterior, da cumulatividade, pagando 3%
sobre o faturamento bruto, sem direito à utilização de
créditos referentes à aquisições das etapas anteriores.
As demais pessoas jurídicas são obrigadas a migrar para o sistema
da não cumulatividade, pagando 7,6% de Cofins, com direito a crédito
na compra de insumos da etapa anterior.
Os alimentos não são isentos das contribuições sociais,
portanto as novas alíquotas terão impacto na inflação
e aumento dos preços dos produtos alimentícios. Vale lembrar que,
na reforma tributária no Congresso, os alimentos da cesta básica
e os insumos agropecuários têm tratamento adequado, com isenção
ou tributação com a menor alíquota. Este tratamento não
é dispensado aos tributos federais, anulando a proposta do Governo de
desonerar os alimentos.
As contribuições sociais, por serem tributos indiretos, são
altamente regressivas, aumentando a concentração de renda. Dessa
forma, quem tem renda mais baixa paga proporcionalmente a sua renda mais imposto.
Esse é um dos motivos que pode servir de apelo para isentar as receitas
da comercialização de produtos agropecuários, alimentos
da cesta básica, insumos agropecuários e medicamentos de uso humano
e veterinário.
Mudanças Necessárias - Para corrigir estas distorções, será preciso alterar a legislação nos seguintes pontos:
Isentar das contribuições
sociais as importações de insumos agropecuários, máquinas
e implementos agrícolas, material genético animal e vegetal.
Isentar as contribuições sociais nas receitas decorrentes da comercialização
de produtos agropecuários, alimentos, material genético animal
e vegetal, insumos agropecuários e medicamentos humanos e de uso veterinário.