STEPHANES: Governo deve intervir mais, diz ministro

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Após viver momentos favoráveis no primeiro semestre, quando os preços das commodities atingiram valores recordes, os produtores terminam 2008 com um cenário bastante desfavorável, principalmente após o desenrolar da crise financeira mundial que interrompeu o fornecimento de crédito para o setor. Esse cenário não muda muito quando se olha para o próximo ano. As dificuldades devem continuar, principalmente no período de comercialização. A avaliação é do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, em entrevista à Folha na semana passada.

Recursos - Por isso, internamente o governo promete mais recursos e deve atuar de maneira menos ortodoxa do que nos anos anteriores. Externamente, o perigo da falta de alimentos não está eliminado, embora não se fale mais nisso, segundo o ministro. Portanto, os países ricos, que irão destinar bilhões de dólares aos setores financeiros, da indústria e para a garantia de empregos, deveriam buscar também a formação de estoques de grãos, afirma Stephanes.

Preços - Com isso, garantiriam os preços pagos aos produtores mundiais e a estabilidade no fornecimento nos próximos anos. Além disso, é necessário uma recomposição dos estoques mundiais, que estão baixos, diz ele. "Vamos ter algumas dificuldades no próximo ano, e o panorama se apresenta difícil, mas não será um cenário de desastre, apesar da crise." Para ele, exatamente porque não estão descartados eventuais problemas no setor agrícola no próximo ano, "não podemos ser muito ortodoxos quanto estamos atuando em momento de crise". Mesmo não acreditando no agravamento da crise, Stephanes diz que vai manter toda a equipe muito alerta para analisar as hipóteses de uma situação mais difícil.

Meses decisivos - Os primeiros meses do próximo ano serão decisivos para a agricultura. Há uma concentração da safra de verão no período, e a comercialização, que em anos anteriores em boa parte era feita antecipadamente, deverá ocorrer praticamente em poucos meses. Essa concentração pode derrubar ainda mais os preços, apesar de essa ter sido uma das safras com os custos de produção mais elevados para os produtores. Diante desse cenário, o ministro traça algumas diretrizes para esse período do ano. "O governo tem de tentar entrar com uma política de sustentação na comercialização ou na política de preços, e estamos nos preparando para enfrentar esse ambiente."

Comercialização - Para Stephanes, a primeira coisa é aumentar os recursos para essa sustentação. "O que se gastava nos outros anos, já estamos prevendo gastar o dobro, e já temos recursos previstos para isso [crédito para comercialização]." É uma discussão interna do governo, e o próprio ministro Guido Mantega, da Fazenda, diz que esse crédito tem de ser garantido. "É um problema já aparentemente solucionado", acrescenta Stephanes. O ministro diz que, além dos recursos já tradicionais do Banco do Brasil, o setor terá de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões a mais apenas no período da comercialização. Além disso, para agilizar ainda mais a comercialização e garantir preços, o governo deve injetar R$ 2 bilhões como capital de giro nas cooperativas em janeiro e fevereiro.

Cooperativas - Esse dinheiro deve ser injetado diretamente nas cooperativas, sem intermediação dos bancos. "Uma coisa direta. Pelos bancos há todos os acréscimos do risco", diz o ministro. Esse é um caminho que tem de ser encontrado, porque as cooperativas comercializam quase a metade dos grãos no centro-sul, acrescenta ele. O governo tem uma preocupação maior com os produtos que acumulam excesso de oferta de um lado e retração de demanda de outro. É o caso do milho e da carne suína. Para esses produtos, terão de ser tomadas medidas diferentes.

Milho - Possivelmente não será o problema do trigo, porque está havendo queda na produção em vários países produtores, inclusive na Argentina. Não será também o caso do açúcar, devido à quebra de safra na Índia, acrescenta.Stephanes diz que o governo está atento também à safrinha, quando ocorre o segundo plantio de milho na região centro-sul. "Vamos ter de sustentar o preço do milho porque necessitamos continuar produzindo. Talvez seja necessário até rever o preço mínimo, porque não podemos correr o risco de amanhã faltar o produto." "Essa revisão de preços não é uma coisa muito tranqüila, mas não podemos ser muito ortodoxos quanto estamos atuando em momento de crise. Temos de tomar atitudes diferentes daquelas consideradas até então tecnicamente corretas", diz o ministro. Stephanes acredita que seja necessário manter para o milho a mesma política dada ao feijão, que garantiu produção e renda aos produtores. O governo praticamente dobrou o preço mínimo do cereal. (Folha de São Paulo)

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