Seminário de microcrédito mostra valor das cooperativas

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Mais de 300 pessoas de vários Estados brasileiros compareceram, nesta manhã, à abertura do I Seminário Banco Central sobre Microfinanças, realizado no Cietep, em Curitiba, aberto pelo diretor de normas do Bacen, Sérgio Darcy da Silva Alves, em solenidade que contou com a presença do presidente da Fiep, José Carlos Gomes de Carvalho. O diretor do Banco Central afirmou que as recentes medidas anunciadas pelo governo Lula ligadas ao sistema financeiro, "visam fazer que o crédito chegue a todos sem o vício do assistencialismo". O cooperativismo de crédito é destaque no temário que está sendo discutido. O vice-presidente da OCB, Luiz Roberto Baggio, representou o presidente Márcio Lopes de Freitas, discorrendo sobre o crescimento do cooperativismo de crédito brasileiro. O encontro termina no começo da tarde desta terça-feira.

Sistema de microcrédito - Coube ao consultor do Banco Central Marden Soares fazer a palestra inicial do seminário, discorrendo sobre "Marco Legal", quando mostrou as diversas formas de operacionalização do microcrédito no Brasil. Segundo Marden, o microcrédito é oferecido aos tomadores através das ONGs (organizações não governamentais), Oscipes (organizações da sociedade civil de interesse público, cooperativas de crédito, sociedades de crédito ao microempreendedor, e através dos correspondentes bancários e de carteiras especializadas de bancos comerciais públicos e privados, além dos fundos institucionais. O Banco Central estima que há, no Brasil, cerca de 14 milhões de pequenas unidades produtivas demandadoras de microcrédito, das quais cerca de seis milhões tomam R$ 11 bilhões, ou 1% do PIB.

Cooperativismo de crédito - O vice-presidente da OCB e da Ocepar, Luiz Roberto Baggio, apresentou um resumo do crescimento, desempenho e importância das cooperativas de crédito brasileiras. Segundo o dirigente, as cooperativas retomaram o seu crescimento nos anos 70/80, com o advento da nova legislação, após a reforma bancária, que inviabilizou muitas cooperativas. Hoje o Brasil já dispõe de 1.393 cooperativas singulares de crédito e 37 centrais, cujos ativos somam R$ 12 bilhões. Baggio mostrou que as cooperativas de crédito estão crescendo graças ao seu diferencial de compromisso com o social e à falta de agências bancárias em 1.600 municípios brasileiros.

O caso de São Roque de Minas - Baggio mostrou que, enquanto o sistema financeiro tradicional busca o máximo resultado nos centros maiores, as cooperativas de crédito são constituídas como alternativa democrática de gestão dos recursos financeiros. Demonstrou o caso da pequena cidade de São Roque de Minas, que em 1991 perdeu sua única agência da Caixa. Depois de tentar, em vão, conseguir a instalação de uma outra agência bancária, a comunidade percebeu que a única forma de ter uma instituição financeira seria através da constituição de um cooperativa de crédito. Constituída no mesmo ano, a cooperativa mudou o perfil econômico do município, pois os recursos captados ficavam ali, permitindo que o PIB crescesse, entre 1991 a 2002, doze vezes. "A inclusão social, evitando o êxodo rural através da geração do emprego e da renda, é um dos resultados do cooperativismo", frisou Baggio.

Instrumento impulsionador - O trabalho entregue aos participantes do seminário, intitulado "Democratização do crédito no Brasil - principais desafios - atuação do Banco Central", mostra uma nova visão das autoridades em relação ao cooperativismo de crédito. "Economias mais maduras já o utilizam, há muito tempo, com instrumento impulsionador de setores econômicos estratégicos. Os principais exemplos são encontrados na Europa, especialmente na Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda e Portugal", frisou Baggio, acrescentando que cerca de 45% do total das instituições de crédito da União Européia no ano 2000 eram cooperativas". O documento reconhece que "o cooperativismo é um importante veículo de acesso, para milhares de brasileiros, a produtos e serviços de maneira eficiente, transparente e adequada". Afirma, ainda, que o sistema "necessita ser defendido e fortalecido, para que o cidadão possa exercer o direito do empreender, mesmo sem dispor de muitos recursos".

Só as cooperativas cresceram - Só o sistema de crédito cooperativo cresceu, em número, entre as instituições do sistema financeiro, entre os anos 1994 a 2002. Em 1994 as cooperativas de crédito brasileiras eram 946, subindo para 1.374 ao final do ano passado. Enquanto isso, os bancos múltiplos, comerciais e caixa, somavam 246 instituições em 1994, caindo o número para 167 em 2002. Apesar do crescimento do número de cooperativas de crédito, o total dos diversos tipos de instituições financeiras caiu, entre 1994 a 2002, de 2.492 para 2.464. No entanto, ainda há um grande espaço a ser ocupado pelas cooperativas de crédito, informa o Banco Central, pois ainda representam cerca de 1,64 das operações de crédito e 1,97% do PL dos agentes financeiros. Mas, pularam de 0,44% das operações de crédito em 1995 para 1,64% sete anos depois. Essa situação, reconhecem os técnicos do Bacen, devem mudar substancialmente com as recentes alterações introduzidas através da Resolução 1914/92, entre outras medidas anunciadas recentemente, permitindo a constituição de "cooperativas abertas".

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