SAFRA: Dívidas fazem sombra na lavoura

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

A produtividade de três toneladas de soja por hectare nesta safra garante a principal injeção de recursos do ano nas contas do agronegócio. A cultura, que representa cerca de 20% do valor da produção do setor, deve render algo em torno de R$ 5,8 bilhões. No entanto, mesmo que o campo arrecade os R$ 29 bilhões previstos, não terá dinheiro suficiente para se livrar das dívidas acumuladas com a crise dos últimos três anos. O dinheiro deve dar só para pagar as prestações que vencem no período. A avaliação parte das organizações do setor, que comemoram a safra, mas descartam folga parecida com a de 2003, ano de produção recorde de grãos que se tornou referência de boa safra. “O quadro é favorável, mas a renda ficou R$ 7,2 bilhões abaixo do esperado no período de 2004 a 2006. Não houve como pagar parte das dívidas, e agora essa carga está muito pesada”, avalia a economista Gilda Bozza, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). As dívidas reparceladas no último ano pelo Banco do Brasil no Paraná somam R$ 1,2 bilhão. Considerando todos os bancos , o valor passa de R$ 2 bilhões, que devem ser pagos em cinco anos. A economista afirma que é hora de honrar os compromissos para que o problema das dívidas não se agrave e oferece quatro conselhos aos produtores que tentam obter o melhor rendimento possível neste ano:

1.º – Acompanhar o mercado. Para ter certeza de que será vantajoso ampliar a área do milho safrinha, é preciso saber em que medida o efeito etanol, que vem expandindo a produção nos Estados Unidos, vai beneficiar o Brasil.

2.º – Aproveitar os melhores preços. Produtos como soja e milho apresentam cotações oscilantes . É necessário vender pelo menos parte da produção quando os preços estão em patamares razoáveis.

3.º – Reavaliar os custos. O produtor precisa ter noção exata de quanto gastou para saber a partir de que ponto começa a ter lucro ou prejuízo. Negociar no vermelho só em caso de necessidade.

4.º – Buscar mecanismos de proteção. Apesar de os seguros agrícolas abrangerem a maior parte das lavouras, poucos produtores contratam seguro de preços. O mecanismo pode reduzir a rentabilidade – uma vez que os preços ficam travados em valores definidos em contrato – mas afasta o risco de prejuízo.

As dívidas ofuscam as boas condições de produção, que deveriam ser motivo de festa no campo, observa o analista técnico-econômico do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. “A renda do agronegócio vai aumentar, principalmente para quem produz grãos. Com exceção do feijão, praticamente todas as culturas vêm sendo beneficiadas pela regularidade do clima. O custo de produção da soja caiu cerca de 20% e o do milho, 10%. Além disso, a cotação de R$ 18 para a saca de milho (60 quilos) e de R$ 29 para a de soja é bem melhor que a média dos últimos anos”, menciona. Ele diz que a renda deste ano não vai enriquecer os agricultores, mas será suficiente para pagar as dívidas repactuadas que vencem no período. Apesar de o real estar em baixa diante do dólar, o produtor deve receber R$ 5 a mais por saco de grão exportado, na comparação com a renda do ano passado, calcula. Em relação à tendência dos preços, considera que o estoque mundial baixo favorece a produção do milho safrinha. Para cada 100 grãos consumidos, há apenas 12 em estoque. No caso da soja, o índice sobe para 25%. A cotação da oleaginosa estaria se mantendo graças à sinergia entre os dois grãos. Mafioletti também aponta quatro providências que os produtores devem tomar para não deixar que o clima e o mercado determinem a viabilidade agrícola:

1.ª – Planejar o lucro. A contração de seguros pode neutralizar os riscos e garantir margem de lucro na hora da venda da produção.

2.ª – Investir de forma equilibrada. Na hora de comprar maquinário novo, é preciso limitar as prestações à rentabilidade da atividade agrícola.

3.ª – Pagar financiamentos. As dívidas repactuadas elevam as despesas com juros e encarecem a produção. É preciso pagar as prestações no vencimento para reduzir custos financeiros.

4.ª – Garantir capital de giro. Para reduzir a necessidade de empréstimos ano após ano, é preciso reservar parte da renda para a safra seguinte.

Segundo Mafioletti e Bozza, os produtores que organizarem suas contas vão sair da crise iniciada em 2004 daqui três anos. O volume de dívidas tende a cair, exigindo menos lucro para a sustentação da atividade agrícola. Com as contas mais leves, o produtor poderá gastar mais em investimentos a partir de 2011. (Tudo Paraná)

Conteúdos Relacionados