RECURSOS I: Queda de depósitos à vista afeta crédito rural

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A queda gradual dos depósitos à vista em contas bancárias repercutiu de forma negativa no volume de recursos liberados para custeio, comercialização e investimento da safra atual. Balanço dos oito primeiros meses deste ciclo 2008/09 mostra um forte recuo de 18,4% nas aplicações obrigatórias (exigibilidades) feitas pelos bancos no crédito rural da chamada agricultura empresarial. O mau resultado levou à estagnação do total emprestado ao setor em R$ 39,6 bilhões, além de provocar queda de 12% no ritmo geral dos desembolsos no período, apontam informações prestadas pelas instituições financeiras ao Banco Central.

Recuo - Nem mesmo a elevação das exigibilidades em meados de outubro do ano passado, de 25% para 30%, estimulou um aumento nos desembolsos para o setor. O fraco desempenho fez recuar em 5,2% as aplicações em custeio e comercialização nesta safra, mostram os dados compilados pelo Ministério da Agricultura. A elevação dos índices das exigibilidades foi "inócua", de acordo com avaliação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

"Sobreaplicados" - "Não surtiu efeito porque os bancos estavam 'sobreaplicados' no ano passado. Agora, os depósitos à vista caíram e não havia como aplicar mais", diz o diretor da Febraban, Ademiro Vian. Nos bancos privados, as exigibilidades subiram para R$ 23 bilhões em novembro, chegaram a R$ 25,3 bilhões em janeiro, mas recuaram R$ 24,3 bilhões na projeção de março. E devem se manter no mesmo nível até o fim do ano-safra, em junho. "Quando o nível de emprego cai, as pessoas usam esse dinheiro para pagar as contas. Quanto menos acelerado o nível econômico, há menos depósitos à vista", afirma.

Mais complicada - A situação pode ficar ainda mais complicada porque a Febraban estima uma redução de R$ 2 bilhões em recursos para a comercialização da safra em razão da queda nos depósitos à vista. "O EGF [dinheiro para estocagem] vai sofrer com isso e com o efeito das renegociações, que vão travando os limites de crédito", observa Ademiro Vian.

Juros livres - A aplicação dos recursos de crédito rural a juros livres também sofreu uma redução de 32% nesses oito meses de safra. O tombo deve-se à retração de 82,5% dos empréstimos do Banco do Brasil na linha BB Agroindustrial, que eram de R$ 5 bilhões e passaram a R$ 875 milhões. "Esses recursos estão sendo direcionados ao crédito imobiliário, e não ao crédito rural", explica o diretor da Febraban. O recuo nas operações com Cédulas de Produto Rural (CPRs) também contribuíram para a performance negativa.

Compensação - O Banco do Brasil confirma a queda nos depósitos à vista, mas informa que a redução na linha BB Agroindustrial foi "amplamente compensada" pela oferta de crédito às empresas com outras fontes de recursos. "Fizemos capital de giro em outras linhas para essas agroindústrias porque preferimos, em acordo com o governo, concentrar os recursos da poupança nos produtores rurais", esclarece o diretor de Agronegócios do BB, José Carlos Vaz. "Mesmo assim, emprestamos 30% a mais nesta safra em todas as linhas de crédito."

BNDES - Na outra mão, houve aumento de 42% nos desembolsos dos programas de investimento sob gestão do BNDES e com dinheiro dos fundos constitucionais. No total, as aplicações chegaram a R$ 6,42 bilhões. Os principais avanços ocorreram no Moderinfra (construção para armazéns), Prodecoop (investimento de cooperativas) e Moderagro (renovação de pastagens). Os desembolsos na agricultura familiar também tiveram um resultado positivo nesses oito meses. As aplicações cresceram 12,5% no período, para R$ 6,56 bilhões. (Valor Econômico)

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