PROBLEMAS SÃO GLOBAIS, NÃO SÓ DO PAÍS

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Empresários identificam origem da crise nos EUA e reafirmam crença nos fundamentos econômicos. Boa parte dos empresários presentes ao fórum de líderes empresariais e líderes setoriais de 2002 da Gazeta Mercantil, realizado ontem no Credicard Hall, em São Paulo, identifica fragilidades na economia brasileira e acredita que o momento eleitoral torna o País mais vulnerável a ataques especulativos e às mudanças de humor das agências de classificação de risco. Mas a opinião comum aponta para os problemas na economia norte-americana como o grande fator de impulso à instabilidade atual, tanto na América Latina como em outros partes do mundo. Os problemas de conjuntura são globais e o Brasil vem sendo afetado por desequilíbrios externos.

A escassez de linhas de crédito para o País tem mais a ver com a insegurança mundial, fortificada pela retração da produção industrial e do consumo nos Estados Unidos, do que com a percepção de ameaças locais. "O risco do Brasil está bem dimensionado e, na realidade, não mudou muito nos últimos seis meses", afirmou Carlos Alberto Martins Bastos, vice-presidente do conselho de administração da Ipiranga Petroquímica. "Não há razão para histeria". Bastos percebe componentes irracionais no comportamento recente do câmbio.

Mercado favorável - "A conjuntura internacional está complicada e ninguém quer correr risco", disse José Carlos Masagão, diretor vice-presidente da Companhia Suzano de Papel e Celulose. "Há um desbalanceamento entre a oferta e a demanda de moeda estrangeira". A Suzano, como outros grandes grupos exportadores, não será muito afetada pela variação cambial, graças à sua boa capacidade exportadora, afirmou Masagão. Ele teme, porém, que o comportamento errático da moeda contribua para o aumento da insegurança e iniba o consumo.

"Não dá para colocar o Brasil à venda, temos é que comprar o Brasil", disse Roger Agnelli, diretor-presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Nos últimos tempos, os avanços econômicos do País passaram a ser colocados em segundo plano e a tese de que o País é frágil e pode sucumbir à crise internacional ganhou força. A própria variação cambial, no entanto, tem efeitos positivos sobre os negócios das empresas exportadoras.

O presidente da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), Omar Silva Júnior, disse, por exemplo, que o mercado internacional está favorável à siderurgia brasileira. "Os preços estavam bastante deprimidos até o ano passado, mas em setembro de 2001, com a aprovação nos EUA da resolução 201, melhoraram bastante", afirmou. Para o executivo, a desvalorização cambial não deve ser um problema a longo prazo e vai contribuir para que o produto brasileiro tenha um bom preço no mercado internacional. "Estamos endividados em dólar, mas a situação atual não é definitiva e esperamos uma reversão em breve".

Para o executivo, a atual conjuntura econômica é passageira e foi provocada por insegurança e ansiedade com a proximidade das eleições presidenciais. Silva Júnior acredita que um acordo com o FMI deverá trazer calmaria para o Brasil.

O discurso dos presidentes de bancos brasileiros é otimista e todos acreditam no acordo com o FMI e dizem que a crise é passageira. O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, afirmou, por exemplo, que há empresários que nem sabem o que é esta crise, como é o caso de alguns setores da agricultura. "O problema é que há uma insegurança das pessoas, mas a crise é global", disse Cypriano. "Fazemos parte do mercado globalizado e estamos sujeitos à fragilidade que atingiu outros países emergentes".

O presidente do Banco ABN Amro Real, Fábio Barbosa, eleito líder social, diz que há muito exagero no mercado financeiro e a crise temporária. "É uma crise internacional, com um pessimismo exagerado". Barbosa diz que é muito relevante o fato de o Brasil estar conversando com o FMI e que os candidatos à presidência tem mostrado um discurso de comprometimento com as metas fiscais e a estabilização monetária. "Já temos leis que os governos não poderão descumprir como a Lei de Responsabilidade Fiscal".

O presidente do BankBoston, Geraldo Carbone, eleito líder social, disse que a crise argentina também afetou a confiança no País. O presidente do Serasa, Elcio Anibal de Lucca, eleito líder do setor de Serviços Especializados, afirmou que a empresa verificou, a partir de maio, uma queda ligeira da atividade em quase todos os setores da economia, quadro que deve se reverter em breve. "O momento não reflete a realidade, é fruto de uma preocupação vinda de fatores subjetivos".

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