Ponto de Vista: Por uma república cooperativista
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Geovah Amarante (*)
"O Brasil ainda vai se transformar numa república cooperativista e assim contribuir concretamente para maior inclusão social com melhor distribuição de renda. E só assim alcançaremos a paz." A afirmação, positivista e totalmente calcada em fatos reais, foi feita pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ao proferir palestra de encerramento no 1º Seminário Cooperar, promovido recentemente pelo BRDE, em Foz do Iguaçu, reunindo mais de 200 cooperativistas dos três Estados do Sul.
Para entender e contextualizar a afirmação do ministro, é importante tomar conhecimento de alguns números relativos às cooperativas e sua atuação na região Sul. Atualmente, são mais de 7 mil cooperativas em atividade do Brasil, com cerca de 5,3 milhões de cooperados. Somente em Santa Catarina são 305, que contam com quase 500 mil cooperados. O faturamento bruto anual das cooperativas catarinenses supera a marca dos R$ 4 bilhões, tendo uma participação de 9,5% no PIB catarinense - cerca de R$ 46 bilhões em 2001. É um exemplo concreto da força desse segmento e de como ele trabalha de forma socialmente justa, com distribuição dos lucros, tendo vital importância no contexto regional em que está inserida.
O BRDE, por sua vez, tem orgulho de ter participado, desde o início, do desenvolvimento, crescimento e profissionalização do cooperativismo. A criação do banco, em 1961, se deu entre o surto cooperativista do final dos anos 50 e a difusão da cultura da soja do final dos anos 60. Portanto, é impossível discorrer sobre o BRDE sem citar as cooperativas agropecuárias e vice-versa. O BRDE foi uma das poucas instituições financeiras a acreditar no Recoop - programa de revitalização das cooperativas de produção agropecuárias. A atuação do banco nesse programa se diferenciou pelo fato de não ter sido pautada pelo conservadorismo, uma vez que a maior parte dos recursos foram concedidos para novos investimentos. Até hoje seguimos operando com linhas de crédito voltadas ao crescimento das cooperativas. Somente nos últimos nove anos, foram financiadas pelo BRDE mais de 600 cooperativas nos três Estados do Sul, com recursos da ordem de R$ 748 milhões. Hoje, as cooperativas agrícolas estão entre os principais tomadores de recursos do BRDE e respondem por cerca de 20% de nossa carteira de financiamentos.
Inserido na política de descentralização implementada de forma inovadora em Santa Catarina, pelo governador Luiz Henrique da Silveira, o BRDE firmou convênio com a Cooperativa Central de Crédito de Santa Catarina - Sicoob/SC-Central. O objetivo do convênio é facilitar o acesso de míni e pequenos produtores rurais a linhas de crédito de longo prazo e com juros menores. Milhares de produtores poderão ser beneficiados com financiamentos de até R$ 100 mil, nas mesmas condições oferecidas pelo BRDE. Conseguimos, com isso, descentralizar de forma efetiva nossa ação, via capilaridade das cooperativas, levando crédito com baixo custo e longo prazo a toda Santa Catarina.
Cooperação é um conceito que sempre permeou a ação do banco, em seus 43 anos de trabalho na região Sul. Na acepção da palavra, "trabalho em comum de pessoas com aspirações e necessidades, buscando facilitar uma tarefa, a consecução de uma meta mais facilmente". Nossa meta é o desenvolvimento econômico e social de Santa Catarina e da região Sul e, para alcançá-la, trabalhamos em conjunto com o cooperativismo. Portanto, é intrínseca a afinidade entre o papel desempenhado pelas cooperativas no ambiente econômico e social e a missão estatutária do banco: promover e liderar ações de fomento, apoiando as iniciativas governamentais e privadas em sua região de atuação, com planejamento, apoio técnico, institucional e creditício. Como bem ressalta o lema da instituição, somos parceiros para crescer. E no caso das cooperativas, essa parceria nos deixa especialmente satisfeitos, por seu alcance social, beneficiando míni e pequenos produtores, que de outra forma provavelmente já teriam entrado no ciclo funesto da evasão rural, de que todos nós conhecemos os resultados.
No entanto, apesar de nos considerarmos bem-sucedidos no trabalho desenvolvido até agora, novos desafios se apresentam. A modernização, a busca de capacitação ainda maior para a produção cooperativista, a agregação de valor a nossos produtos, a disputa por maiores fatias nos mercados externos são alguns desses desafios. Mas tantos quantos surgirem, o BRDE estará à disposição, pronto para, em conjunto, cooperar na busca de soluções. E - é importante ressaltar - esta parceria bem-sucedida não se restringe, de maneira alguma, ao cooperativismo. Sempre que houver possibilidade de crescimento e desenvolvimento, o BRDE estará sempre presente.
(*) Geovah Amarante - Diretor do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-sul (BRDE)