PONTO DE VISTA - O PAPEL DAS COOPERATIVAS NOS AGRONEGÓCIOS

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As previsões são de que o Brasil vai colher neste ano, pela primeira vez em sua história, uma safra de 100 milhões de toneladas de grãos. As condições climáticas têm sido favoráveis e o governo vem ajudando por meio de programas como o Moderfrota do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - que financia a compra de máquinas agrícolas. No entanto, uma boa parte desse resultado deve-se ao dinamismo das cooperativas agropecuárias, que se transformaram em um dos segmentos mais avançados da produção rural brasileira.

No início da década de 90, essas cooperativas não eram parte da solução para aumentar o cultivo de alimentos no País. Ao contrário, pareciam ser um dos problemas para o desenvolvimento agropecuário nacional. Muitas delas subsistiam graças a financiamentos altamente subsidiados, muitas vezes concedidos como favor político. Com algumas exceções, não apresentavam uma contabilidade de custos confiável, o retorno que distribuíam não era compatível com os seus resultados e suas administrações demonstravam notória deficiência.

Nos últimos anos, as cooperativas agrícolas renasceram em vários estados, como no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Beneficiadas pelos programas Especial de Saneamento de Ativos (Pesa) e de Revitalização das Cooperativas de Produção Agropecuária (Recoop), além de alongamento do perfil das dívidas, elas modernizaram os seus processos administrativos, adotaram práticas mais atualizadas de gestão e procuraram capitalizar-se de modo a depender cada vez menos do crédito da rede bancária convencional.

Para contornar o problema crônico da falta de crédito, as cooperativas agrícolas chegaram mesmo a montar um esquema próprio de financiamentos. É o caso do Sistema Crédito Cooperativo (Sicredi), do Sul, que opera junto ao sistema financeiro nacional com o Banco Cooperativo de Crédito (Bansicredi), ao qual estão ligadas 127 cooperativas rurais de crédito.

Essas cooperativas se beneficiam de isenção de tributos concedida pela legislação que as regula e funcionam com uma estrutura operacional mais simples do que a do sistema bancário tradicional. Por isso, podem emprestar a juros menores que os de mercado. E oferecem os mesmos produtos das instituições convencionais: cheque especial, cartão de crédito, aplicações, além do financiamento agrícola.

Aos poucos, as cooperativas de crédito começaram a trabalhar também com clientes de fora do setor agropecuário. Com custos mais baixos e atendimento em pontos distribuídos por 800 municípios, o próprio Bansicredi tem atraído essa clientela, inclusive pessoas jurídicas. No atendimento desse grupo o banco perde as vantagens concedidas às cooperativas de crédito e tem que se enquadrar nas normas do Banco Central obedecidas pelos outros bancos. Mesmo assim, há uma fila de 14 mil a 15 mil empresas que querem trabalhar com o Bansicredi. Para atender esse mercado, o banco está investindo em informatização.

Outro exemplo é a Cooperativa de Crédito Rural de Maringá (PR), nascida dentro da Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar): pelo menos 20% dos seus correntistas são clientes comuns. A instituição vem ocupando os espaços deixados pelos grandes bancos nos municípios menores, com novos postos de atendimento em cidades pequenas. Já inaugurou neste ano duas novas agências e seu plano de expansão prevêem a abertura de mais duas até o final do ano. Seu número de clientes subiu, em 2001, cerca de 30% em relação a 2000, de 5,37 mil para 7 mil.

Em conseqüência, aumentou seu movimento para R$ 53,16 milhões, 102% mais do que em 2000. Essa elevação resultou na colocação da cooperativa de crédito rural em posição de destaque entre as instituições bancárias de Maringá. Segundo dados de 2001, ela tem a maior média de depósito dos 38 bancos instalados na cidade (com exceção do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal).

Dentro do processo de modernização, cooperativas agrícolas dedicam-se agora a industrializar a produção, contando com a vantagem de controlar toda a cadeia produtiva, do cultivo da matéria-prima ao processamento industrial. No Paraná, o produto com valor agregado já resulta em uma receita de R$1,17 bilhão. No Estado está a maior parte do setor no Brasil, 60 cooperativas agrícolas com uma movimentação de R$ 7,8 bilhões no ano passado.

A expectativa é de, em cinco anos, a participação dos produtos industrializados no faturamento das cooperativas chegar a 30% do total.

(*) Fonte: Editorial Gazeta Mercantil, 29/02/2002.

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